Coronavírus: o que diferentes países estão fazendo para resgatar seus cidadãos e evitar avanço do surto
À medida que doença avança, governos têm decidido retirar pessoas de Wuhan e tomar medidas de quarentena.
Países têm intensificado suas medidas de prevenção contra o coronavírus à medida que a doença avança — já foram registradas 170 mortes na China e 7,7 mil pessoas infectadas. No Brasil, o Ministério da Saúde informou na quarta-feira (29/1) que há nove casos suspeitos do vírus, que estão sendo testados.
"O mundo inteiro tem de estar em alerta" para enfrentar a doença, afirmou, também na quarta-feira, o chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan. "O desafio é enorme, mas a resposta (da China) tem sido massiva."
Nesta quinta-feira, a organização voltará a se reunir para discutir se classificará o vírus — que já se espalhou para ao menos 16 países, como Tailândia, EUA e Austrália — como uma emergência de saúde global.
Mais de cem casos foram confirmados em outros países.
Enquanto isso, alguns países têm cancelado voos comerciais para a China e organizado o retorno de cidadãos seus da cidade de Wuhan, epicentro do coronavírus. Outros tomaram medidas consideradas radicais, como isolar casos suspeitos de infecção em uma ilha.
A seguir, a BBC mostra como alguns países estão lidando com os casos de coronavírus:
Grã-Bretanha
Cerca de 200 cidadãos britânicos devem voltar para casa nesta sexta-feira em um voo que atrasou porque as autoridades chinesas levaram algum tempo para autorizá-lo.
Os passageiros serão levados a um lugar no noroeste da Inglaterra, onde ficarão em "isolamento assistido" por 14 dias "com toda a atenção médica necessária", segundo um porta-voz do governo britânico.
Um porta-voz do primeiro-ministro Boris Johnson disse que o governo está pressionando a China a permitir que cônjuges ou companheiros dos cidadãos britânicos também estejam no voo, após relatos de que autoridades locais não iriam permitir que parentes com cidadania chinesa viajassem.
Austrália
Uma das reações mais draconianas veio da Austrália, que anunciou a quarentena de 600 cidadãos que retornavam da China. Eles ficarão duas semanas na ilha de Christmas, a cerca de 2 mil quilômetros do território principal australiano.
A quarentena é um estado/período de isolamento, para pessoas ou animais que podem ter sido expostos a doenças contagiosas.
A ilha de Christmas abriga, desde 2003, um centro de detenção para imigrantes em busca de asilo, em condições que já foram alvo de críticas da ONU.
Na quarta-feira, a emissora australiana ABC reportou também que a seleção chinesa de futebol feminino foi colocada em quarentena em um hospital da cidade de Brisbane, depois de desembarcar na Austrália para competições pré-olímpicas.
Autoridades locais afirmaram que a decisão é preventiva e que nenhuma atleta da seleção apresentou qualquer sintoma.
O país tem sete casos confirmados da doença, sendo seis deles de pessoas que estiveram em Wuhan.
Cingapura
Cingapura adotou "medidas incrementadas" para conter o avanço do vírus, particularmente para cerca de 2 mil pessoas que estiveram recentemente na província chinesa de Hubei (onde fica Wuhan), segundo o jornal local The Straits Times.
A cidade-Estado tem dez casos confirmados da doença, todos vindos de Wuhan, segundo a agência France Presse.
Pessoas classificadas como sob maior risco ficarão em quarentena, e qualquer pessoa que tenha estado em Hubei será impedido de entrar em ou transitar por Cingapura.
"Não estamos em tempos comuns. É uma situação fluida que está evoluindo rapidamente", afirmou o ministro local Lawrence Wong, encarregado da força-tarefa para conter o vírus.
Turquia
A Turquia vai começar a retirar 32 de seus cidadãos em Wuhan nos próximos dias.
O embaixador turco na China, Emin Onen, disse à emissora NTV que "não foi detectado o vírus" entre as pessoas evacuadas, mas afirmou que elas ficarão em quarentena provisória quando chegarem à Turquia, por precaução.
EUA
Um avião americano com 240 pessoas retiradas de Wuhan, incluindo diplomatas e empresários, pousou no Alasca como escala para seu destino final: uma base militar na Califórnia.
Esses passageiros já foram avaliados para identificar possível contaminação pelo coronavírus, em um aeroporto de Anchorage (no Alasca) que não está sendo usado para voos comerciais.
Antes disso, os EUA já haviam dito que qualquer passageiro apresentando sintomas do vírus não seria autorizado a deixar aeroportos americanos e seria encaminhado para tratamento em hospitais locais.
O país — que até quarta-feira tinha cinco casos confirmados do coronavírus, de pessoas recém-chegadas de Wuhan — expandiu também a checagem térmica de passageiros, de 5 para 20 aeroportos americanos. O governo também cogita um veto temporário a voos comerciais de ou para a China continental.
Retirada em massa
Além das medidas listadas acima, diversos países fizeram (ou planejam fazer) a retirada de milhares de seus cidadãos situados em Wuhan. Veja alguns casos:
Japão: Um avião fretado pelo governo japonês aterrissou em Tóquio nesta quarta-feira com 206 pessoas. Estima-se que haja ainda 650 japoneses na região de Wuhan que querem ir para o Japão, segundo autoridades locais.
Coreia do Sul: Seul afirma que vai mandar aviões fretados para Wuhan nesta quinta ou sexta, para trazer de volta seus cidadãos.
França: Entre 500 e mil franceses serão transportados de Wuhan por um voo previsto para esta quinta. Um segundo voo está sendo planejado.
Tailândia: Uma aeronave e uma equipe médica estão esperando autorização para evacuar 64 tailandeses da China.
Índia: Segundo a imprensa local, um Boeing 747 está em Mumbai à espera de autorização para evacuar 250 cidadãos indianos de Wuhan.
Sri Lanka: O país planeja remover 860 estudantes cingaleses que moram na China, 32 deles em Wuhan.
Argélia: O presidente Abdelmadjid Tebboune pediu que sejam trazidos de volta 36 argelinos, a maioria deles estudantes, que vivem em Wuhan, segundo a France Presse.
Marrocos: Cerca de cem pessoas, também a maioria estudantes, serão retirados da cidade chinesa, segundo a imprensa local.
Brasil: Segundo a embaixada brasileira em Pequim informou na quarta-feira, "os órgãos envolvidos no Brasil com a questão estão neste momento avaliando o caso" de retirar brasileiros de Wuhan.
Na terça-feira, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que tem dúvidas se de fato os cidadãos brasileiros deveriam ser resgatados em áreas onde há casos da doença.
"Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando. Não seria oportuno retirar de lá, com todo o respeito. É o contrário. Não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas", afirmou, em referência a três brasileiros que estão em isolamento nas Filipinas após passarem por Wuhan — uma criança de 10 anos está com suspeita de ter contraído a doença.