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Correr depois dos 40 anos pode prejudicar as articulações; entenda

De acordo com o ortopedista Gilberto Luis Camanho, o maior problema ortopédico hoje em dia é o desgaste do joelho. 'Há uma defasagem grande', diz

18 mar 2023 - 05h11
(atualizado em 23/3/2023 às 17h28)
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Fortalecer o joelho é essencial para evitar problemas relacionados a desgaste, lesões e artrose
Fortalecer o joelho é essencial para evitar problemas relacionados a desgaste, lesões e artrose
Foto: iStock

Não é difícil encontrar estudos que liguem a qualidade de vida de um indivíduo com a prática de esporte ou atividade física. No entanto, sua execução errônea pode ser justamente a razão de acabar com esse bem-estar. Uma das partes do corpo mais propensas a ter problemas complexos - justamente por suportar a maior parte do peso do corpo - é o joelho.

O joelho é uma articulação completamente estável por ser uma conexão de dois ossos e por depender da musculatura em seu entorno para funcionar. Fortalecer essa musculatura é fundamental para evitar problemas relacionados a desgaste, lesões e artrose. Os exercícios de alto impacto, como a corrida e esportes radicais, são os mais prejudiciais. No entanto, aqueles que não geram uma sobrecarga na articulação fazem um benefício indireto na musculatura.

De acordo com o ortopedista Gilberto Luis Camanho, as pessoas não levam os problemas do joelho a sério. "Muita gente usa a corrida para emagrecer e isso acaba com a sua articulação", declara.

Excesso de peso e histórico familiar com problemas no joelho são questões impeditivas, ou pelo menos de atenção na hora de optar pela corrida.

Antes de qualquer atividade, independentemente de qual seja, o aquecimento de dez minutos é imprescindível, assim como o alongamento. Assim, você prepara os músculos e as articulações para a atividade que está por vir.

Maratonas são indicadas para todas as pessoas?

Muita gente usa a corrida para emagrecer e isso é uma grande besteira porque ela emagrece, mas acaba com a sua articulação. Quando falamos de maratona, então, é pior ainda, porque é uma prova absolutamente desaconselhável para qualquer pessoa que não tenha uma estrutura de corpo adequada. Pessoas normais, com peso e estruturas normais, fazem no máximo três vezes na vida, porque é um esforço muito grande. Se elas se propõem a fazer a corrida para satisfazer um sonho, causam lesões importantes na cartilagem.

Ou seja, existem condições físicas e genéticas que favorecem a corrida, mas se alguma pessoa quiser correr a maratona, quanto tempo é indicado de treino antes de realizar a prova?

Claro que existem pessoas excepcionais, mas de modo geral o preparo para uma para uma maratona cobre três aspectos. O cardiorrespiratório que é o coração e o pulmão; o motor que são as pernas e o psíquico. Você vai ficar 42 km pensando em quê? Então, na minha opinião, pelo menos um ano para que um corredor habitual corra uma maratona.

Mas e uma corrida esporádica?

Se você fizer alguma coisa dosada de 6km, 8 km, duas ou três vezes por semana, e tiver um perfil de pessoa magra, com musculatura boa, e bom processo respiratório, você vai correr muito, e passar dos 50 anos correndo sem ter problemas.

De acordo com um novo estudo realizado na Universidade de British Columbia, em Kelowna, no Canadá, a cartilagem do joelho se achata imediatamente após uma corrida, mas depois volta à forma em poucas horas. Isso não ajudaria no fortalecimento do joelho, então?

Na nossa experiência com o mundo esportivo, vemos que a atividade física, especialmente as corridas, destroem as articulações. O fato de fazer um exercício com impacto contínuo e não muito prolongado aumenta a espessura da cartilagem em um primeiro momento, algo que você vê no raio-x. Mas isso piora a nutrição do tecido, o que custa um desgaste precoce maior dessa cartilagem. Ou seja, a mudança de tamanho não significa saúde; significa que ela inflou e que vai ter prejuízo de nutrição, levando depois a lesões condrais. É uma interpretação errônea feita da literatura, que não se aceita. Dizer que uma maratona faz bem é uma coisa muito pouco aceita.

Quais exercícios podem favorecer o joelho?

Os bons exercícios para o joelho são aqueles que não exigem carga, nem impacto. Então, por exemplo, o transport, que você não tira o pé do chão; o esqui, um dos melhores por mover as mãos e os pés em um circuito fechado, e a bicicleta, um ótimo exercício para desenvolver a musculatura sem provocar impacto no joelho.

Existe diferença entre exercícios indicados para os mais velhos e mais novos?

A cartilagem existe no membro inferior para amortecimento de carga. Um sistema espetacular, com um líquido ou um gel no qual as células vão formando uma trama, então é como se fosse uma tela que absorve a carga. Quanto mais jovem, maior a quantidade de líquido e melhor a função de absorção de carga. Com o passar dos anos, a nossa capacidade de reter essa água no organismo vai se perdendo, você vê isso nitidamente na pele. Na fase mais jovem, a corrida é um exercício excelente. Mas à medida que os anos vão passando, acima dos 40 anos, e principalmente mulheres quando entram na menopausa, existe um momento em que a cartilagem perde a sua capacidade de absorção de carga.

Caso eu tenha um histórico familiar com problema nos joelhos, há alguma maneira de preservá-los?

Existe um componente genético, sem dúvida nenhuma, não só nos joelhos, mas em todas as articulações. Então, se há uma tendência familiar a ter um desgaste no joelho mais precoce, existe a parte de impacto. Faça bicicleta, faça transport, exercícios na água porque isso significa que essa cartilagem é menos capaz de absorver carga.

Outros exercícios, como por exemplo um futebol de final de semana, uma trilha, também podem ter um impacto forte ou, como são ocasionais, não precisam de tanta preocupação?

Os exercícios, de forma geral, são altamente saudáveis desde que dosados, especialmente para o aparelho cardiorrespiratório, porque não adianta nada você ter uma boa articulação e morrer. A caminhada é sempre um bom exercício - e muito mais interessante do que a corrida. Ali você vai ter tempo para transferência da carga. Ou seja, você dá um passo, pisa com o calcanhar, transfere para o joelho, do joelho para o quadril e assim vai.

Qual a maior preocupação dos médicos hoje em relação aos joelhos?

Hoje em dia, estamos vivendo muito mais. Antes, a gente via uma senhora de 60 anos e ela estava sentada na cadeira fazendo tricô. Hoje, há provas para pessoas de 60 anos. As pessoas foram muito longe e não houve tempo, filogeneticamente, de as articulações se adaptarem a isso. Então, a artrose precoce é um símbolo da progressão. Existe uma defasagem muito grande entre a evolução de atividade física e a possibilidade de acompanhamento da cartilagem, que especificamente gasta mais. O osso também sofre, mas menos do que a cartilagem.

Quais os sinais de alerta de que o joelho não está bem?

As articulações não podem inchar nem aquecer. É um sinal importante. Mas de modo geral, se você tiver dor após a atividade física, ou seja, uma dor limitante, que você chega a mancar, ela não está sendo feita de forma adequada. Ou quando você tem dor durante a atividade física.

Estadão
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