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Crianças em casa esvaziam prontos-socorros infantis em SP

Mudança de hábitos de higiene e nova rotina das crianças ajudam a reduzir atendimento

4 ago 2020 - 06h43
(atualizado às 08h05)
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Um inverno marcado pela pandemia de covid-19 derrubou o movimento nos prontos-socorros infantis de São Paulo. Instituições habituadas a ter enfermarias cheias de crianças com problemas respiratórios nos setores de nebulização, nesta época de baixas temperaturas, registram queda de até 60% na procura por atendimento nas unidades infantis.

Unidade de Terapia Intensiva (UTI) infantil
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) infantil
Foto: Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso/ Reprodução / Estadão Conteúdo

"Há uma queda geral na procura por este atendimento para as crianças", resumiu o pediatra e infectologista Marco Aurélio Safadi, presidente de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo. De acordo com Safadi, a redução não ocorre somente porque as pessoas estão evitando ir aos hospitais durante a pandemia. Segundo o pediatra, as alterações no cotidiano dos pais, que passaram a ficar mais tempo em casa com os filhos, cumprindo as recomendações de distanciamento social, e a disseminação de hábitos simples de higiene, como lavar as mãos e usar máscaras, também ajudaram a reduzir a contaminação das crianças para além da covid.

O dirigente da Sociedade de Pediatria, que vê uma queda de 60% nos atendimentos nos PSs infantis, explica que o movimento caiu principalmente em abril, época que normalmente registra o contrário, com pico na procura causado pelas bronqueolites nas crianças.

No PS do Hospital Sírio-Libanês a queda é de até 25% no movimento no período, na comparação com os meses de verão. "Não encontramos aumento no movimento nos últimos meses. Permanece estável", explica Christian Morinaga, gerente médico do Pronto-Atendimento do Sírio-Libanês. O especialista diz acreditar que o isolamento social e às aulas a distância podem contribuir para a queda. "Isso diminuiu muito o número de infecções respiratórias em geral em crianças e adolescentes", argumenta.

Unidades do Hospital Israelita Albert Einstein registravam movimento tranquilo no início da tarde da quinta-feira passada. Até um painel do pronto-atendimento no site da entidade, que calcula o tempo para as consultas, informava que, enquanto havia demoras de uma hora ou mais em outras especialidades, a pediatria registrava acesso livre.

Para o médico Linus Pauling Fascina, gerente médico do departamento materno-infantil do Albert Einstein, a redução na procura por consultas pediátricas nestes meses tem relação direta com o fluxo internacional de pessoas. Ele diz acreditar que a queda vai além da mudança na rotina escolar no Estado, suspensa no primeiro semestre, principalmente a partir da segunda quinzena de março. "Com as fronteiras fechadas, houve menos circulação de vírus, e também, de bactérias associadas, entre os países."

Fascina alerta, porém, que o panorama das doenças infantis é complexo e que ainda é cedo para análises conclusivas sobre resultados, o que deve ser feito mais adiante com rigor científico. "Mas há, sim, uma percepção de redução, coisa que vamos estudar bastante."

Queda. A situação não é diferente na pediatria do Hospital São Camilo. Segundo levantamento do hospital, todos os anos a chegada do inverno leva a um incremento de cerca de 20% no atendimento de crianças. Os dados da semana passada, porém, mostram outra realidade. Em 2020, o volume foi 80% inferior à média do mesmo período de 2019. Os motivos, segundo o São Camilo, são: o fechamento das escolas, a menor circulação de diversos vírus e bactérias, gerando redução de contaminação, não apenas de covid-19.

Dados do Hospital Municipal Menino Jesus, da Prefeitura de São Paulo, mostram que a queda foi grande também na rede pública. De acordo com o pediatra Antônio Carlos Madeira de Arruda, diretor do hospital, o que ocorreu neste semestre foi uma novidade. "Nunca tinha visto uma queda assim antes", disse o médico. Ele explica que em março de 2019 o PS do hospital atendeu 5.473 crianças; em 2020, foram 4.208. A queda foi maior em abril: os atendimentos em 2019 foram 6 mil e, em 2020, caíram para 1.090. Ele lembra ainda que em maio (2019) foram registrados 5.708 atendimentos e, no último mês de maio, na pandemia, a procura desabou para 958 pacientes. E, por último, em junho, os dados também mostraram queda: 2019, 5.222 casos; ante 1.215 (2020).

"No caso das crianças, eu acho que o motivo maior foi a ausência da troca de vírus que ocorre entre elas nesta época do ano", disse o diretor do Menino Jesus. "A gente atendia 150, 200 crianças por dia e agora estamos aí com 35, 40 casos por dia", explicou o pediatra.

Apesar do menor risco, os pais precisam ficar atentos. Uma criança que está prostrada, com falta de ar, febre acima dos 39 graus, não pode ficar sem atendimento médico, diz o pediatra Fernando Oliveira, do Hospital Menino Jesus. "É normal que as pessoas sintam esse medo, mas elas não podem abandonar tratamentos e precisam procurar atendimento."

Rafael, de 8 anos, e Leonardo Raffa Perotti, de 11, já foram fregueses de ambulatórios médicos em outonos e invernos passados. Neste ano, foi diferente. "Só levei uma vez ao oftalmo, mas foi para uma consulta de rotina", conta a mãe, a publicitária Alexandra Raffa Perotti, de 46 anos, que mora na Vila das Mercês, na capital.

Estadão
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