'Desisti de voltar para Manaus. Voltar para quê?', questiona professor
Com a rede de atendimento em colapso e sem oxigênio, o Amazonas vai ser obrigado a transferir parte dos pacientes para outros Estados
BRASÍLIA - Professor de Economia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Lucas Vitor de Carvalho Sousa desistiu de retornar para Manaus nesta sexta-feira (15) em função da nova onda de covid-19 que atinge a cidade. De férias em São João del-Rei, no interior de Minas Gerais, ele decidiu ficar na casa de parentes pelo menos até o fim de fevereiro.
"Iria voltar amanhã, mas desisti. Não vou mais, por causa da situação de lá, que está caótica. Hoje mesmo a coordenadora do meu curso na Ufam entrou em contato recomendando não voltar", contou Sousa nesta quinta-feira. "Voltar para quê? Se eu ficar doente, não conseguirei tratamento. Os relatos são de que não há vagas nem em hospital particular."
Com a rede de atendimento em colapso e sem oxigênio para tratamento da covid-19, o Amazonas vai ser obrigado a transferir parte dos pacientes para outros Estados. Em um primeiro momento, 235 pacientes serão enviados a hospitais do Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás e Distrito Federal. "Tenho medo de morrer por uma questão banal, como a falta de oxigênio", disse Sousa.
"Eu já fui infectado em novembro, mas meu caso foi assintomático. O receio é de que haja reinfeção e não tenha atendimento. Parece que estamos em um filme de terror." Fora de Manaus desde o início de dezembro, Sousa conta que foi perceptível o avanço da segunda onda de contaminação na cidade. "Na primeira onda, não havia ninguém no meu ciclo de relacionamento que morreu. Nesta segunda onda, está diferente. Há pessoas que eu conheço que morreram. Meu vizinho perdeu o pai", afirma. "Quando saí de Manaus, no início de dezembro, vi que a doença estava se aproximando, mas não imaginava que ela tomaria esta proporção."