Diabetes: Reino Unido se torna 1º a oferecer 'pâncreas artificial' na rede pública
A tecnologia usa um sensor de glicose sob a pele para calcular automaticamente a quantidade de insulina que será administrada por meio de uma bomba.
Dezenas de milhares de ingleses com diabetes tipo 1 terão acesso uma nova tecnologia, chamada de pâncreas artificial, para ajudar a controlar a doença.
O sistema usa um sensor de glicose sob a pele para calcular automaticamente a quantidade de insulina administrada por meio de uma bomba.
Ainda este mês, o NHS (Serviço Nacional de Saúde, na sigla em inglês) começará a entrar em contato com adultos e crianças que podem se beneficiar da nova tecnologia.
No entanto, os responsáveis pela saúde pública britânica alertam que pode levar até cinco anos para que todos os pacientes elegíveis recebam o equipamento.
Isso se deve aos desafios de obter um número suficiente de dispositivos, além da necessidade de treinar mais funcionários sobre como usá-los na prática.
Nos testes, a tecnologia — conhecida oficialmente como sistema híbrido de circuito fechado — melhorou a qualidade de vida e reduziu o risco de complicações de saúde a longo prazo.
No final do ano passado, o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (Nice, na sigla em inglês), que avalia a incorporação de novas tecnologias na rede pública de saúde britância, disse que o NHS deveria adotar o pâncreas artificial.
Quase 300 mil pessoas têm diabetes tipo 1 no Reino Unido, incluindo cerca de 29 mil crianças.
No Brasil, a Federação Internacional de Diabetes estima que a enfermidade afete 588 mil indivíduos. A incorporação do pâncreas artificial no Sistema Único de Saúde (SUS) é debatida, mas não há previsão de que a tecnologia seja aprovada e implementada no país.
No diabetes tipo 1, o pâncreas não produz insulina, um hormônio importante que ajuda a transformar os alimentos em energia.
Os pacientes acometidos pelo quadro precisam monitorar de perto os níveis de açúcar, ou glicose, no sangue e administrar insulina todos os dias, por meio de injeções ou de uma bomba.
A nova tecnologia faz isso automaticamente, pois consegue virtualmente imitar a função de um pâncreas — embora ela ainda exija que as informações sobre a ingestão de carboidratos sejam inseridas num aplicativo, para que o sistema funcione com mais precisão.
O pâncreas artificial foi desenvolvido para evitar que pessoas com diabetes tipo 1 apresentem níveis baixos ou elevados de glicose no sangue. O descontrole do açúcar no sangue representa um risco para a vida delas.
Além disso, o dispositivo também ajuda a melhorar o controle geral da glicose, o que significa que a chance de complicações — como doenças cardíacas, renais e oftalmológicas — diminui.
Gemma Lavery, que mora em Plymouth, na Inglaterra, passou a usar o dispositivo depois de fazer parte de um projeto piloto do NHS. Ela diz que o pâncreas artificial transformou sua vida.
"Não preciso mais me preocupar com o estresse relacionado ao trabalho que afeta meus níveis de glicose no sangue, pois o circuito fechado ajuda a resolver isso antes que se torne um problema", conta ela.
"Posso ter uma noite inteira de sono sem me preocupar com os baixos níveis de glicose, que atrapalham minha rotina matinal. Também descobri que meu diabetes está mais estável."
'Incrivelmente emocionante'
O professor Partha Kar, que atua coo conselheiro especializado em diabetes do NHS, disse que a incorporação do pâncreas artificial representa "uma ótima notícia para todos com diabetes tipo 1".
"Esta tecnologia futurística não só melhora os cuidados médicos, como também melhora a qualidade de vida dos pacientes", acrescenta ele.
A médica Clare Hambling, diretora clínica de diabetes do NHS na Inglaterra, acredita que a nova tecnologia "tem o poder de redefinir a vida" das pessoas com diabetes tipo 1.
"O diagnóstico do diabetes tipo 1 pode passar batido para muita gente. Então se você está preocupado com alguns sintomas, como urinar com mais frequência, sentir sede em demasia, estar mais cansado e emagrecer, por favor, procure um especialista", orienta ela.
Colette Marshall, executiva-chefe da ong Diabetes UK, aponta que "é incrivelmente emocionante ver o lançamento desta tecnologia".
"Este é realmente um momento marcante."
O Nice aprovou a implementação do sistema no NHS em dezembro passado.
Na sequência, o NHS estabeleceu um plano de cinco anos sobre como fornecer o equipamento aos pacientes elegíveis.
O Nice recomenda o uso do pâncreas artificial para pessoas com diabetes tipo 1 que se enquadram em alguns critérios, incluindo crianças e menores de 18 anos, mulheres grávidas e pessoas com uma hemoglobina glicada (exame feito a partir de uma amostra de sangue) superior a 7,5%.