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Dieta com ciclos de jejum pode regenerar pâncreas diabético, diz estudo

24 fev 2017 - 15h46
(atualizado em 25/2/2017 às 12h28)
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Uma nova dieta com pequenos ciclos de jejum consegue fazer o pâncreas afetado pelo diabetes recuperar suas funções, afirmam pesquisadores americanos. Experimentos com cobaias mostraram que quando o órgão - que ajuda a controlar a taxa de açúcar no organismo - se regenerou, os sintomas da doença desapareceram.

O diabetes surge com a destruição das células beta do pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina e pelo controle do açúcar no sangue
O diabetes surge com a destruição das células beta do pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina e pelo controle do açúcar no sangue
Foto: SPL

O estudo, feito por um grupo da Universidade do Sul da Califórnia, foi publicado na revista científica Cell.

Segundo os cientistas, a dieta consegue "reiniciar" o corpo e a descoberta é "potencialmente animadora" porque pode converter-se num novo tratamento do diabetes.

Eles afirmam, no entanto, que as pessoas não devem experimentar a dieta sem acompanhamento médico.

No experimento, ratos foram submetidos a um "regime que simula o jejum", explicam os pesquisadores.

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Durante cinco dias, as cobaias receberam alimentos com poucas calorias, poucas proteínas, pobres em carboidratos e ricos em gordura insaturada como azeite de oliva, óleo de milho e de canola, castanha do Pará, amêndoa, salmão, sementes de linhaça e abacate, entre outros.

É um regime parecido com uma dieta vegetariana à base de nozes e sopas - mas com 800 a 1.100 calorias diárias.

A dieta testada pelos pesquisadores americanos não deve ser seguida sem a supervisão de um médico
A dieta testada pelos pesquisadores americanos não deve ser seguida sem a supervisão de um médico
Foto: Thinkstock

Depois, as cobaias passaram 25 dias comendo de tudo, sem restrições.

Estudos anteriores já haviam indicado que esta dieta pode também retardar o ritmo do envelhecimento.

Reprogramação

Os ratos submetidos ao experimentos apresentaram regeneração em um tipo especial de célula no pâncreas: as células beta.

São elas que detectam o açúcar no sangue e, se este nível estiver muito alto, liberam insulina, o hormônio que pode controlá-lo.

"Nossa conclusão é de que ao levarmos os ratos a um estado extremo e trazê-los de volta - ou seja, ao deixá-los famintos e depois alimentá-los novamente - as células no pâncreas são levadas a uma reprogramação, que recupera parte do órgão que não estava mais funcionando", disse Valter Longo, um dos participantes do estudo.

O testes com ratos tiveram bons resultados tanto para diabetes do tipo 1 como para o tipo 2.

O tipo 1, ou diabetes mellitus, é caracaterizado pela destruição parcial ou total das células beta do pâncreas, que resulta na incapacidade progressiva de o organismo produzir insulina.

Este tipo aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. É sempre tratado com insulina, medicamentos, dieta e atividades físicas para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue.

Já o tipo 2 se manifesta mais frequentemente em adultos, e está associado principalmente a um estilo de vida que faz com que o organismo não consiga usar adequadamente a insulina que produz ou deixe de produzir insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia.

Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes.

Dependendo da gravidade, a doença pode ser controlada com atividade física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de insulina e outros medicamentos.

"Em termos médicos, estas descobertas são potencialmente muito importantes porque mostramos - em modelos com ratos - que se pode usar a dieta para reverter os sintomas da diabete", diz Longo.

"Em termos científicos, as descobertas talvez sejam ainda mais importantes porque mostramos a dieta pode servir para reprogramar as células sem que se tenha de fazer nenhuma alteração genética nelas."

Como é a dieta?

O repórter Peter Bowes, da BBC, participou de uma experiência com o Dr. Valter Longo. "Durante cada ciclo de cinco dias de jejum eu comia um quarto da quantidade que as pessoas consomem em média e perdi entre dois e quatro quilos", explica.

"Antes de fazer o ciclo seguinte de jejum, os 25 dias em que comi normalmente devolveram o meu peso original. Mas nem todas as consequências da dieta sumiram tão rapidamente."

A pressão sanguínea de Bowes baixou, assim como o hormônio IGF-1, que está relacionado a alguns tipos de câncer.

O repórter Peter Bowes testou a dieta com ciclos de jejum
O repórter Peter Bowes testou a dieta com ciclos de jejum
Foto: BBC

"As refeições muito pequenas que eu fiz durante os cinco dias de jejum não tinham nada de gourmet, mas eu ficava feliz de ter algo para comer", relembra.

Para saber se a dieta pode ajudar também o ser humano, os cientistas a aplicaram em 71 pessoas durante três meses e constataram melhora do nível de açúcar no sangue delas.

No entanto, Valter Longo diz que as pessoas não devem se apressar em adotar o novo regime. "Não é uma boa ideia tentar isso em casa. A dieta é muito mais sofisticada do que se imagina."

Ele adverte que as pessoas podem "ter problemas" de saúde se fizerem o regime sem supervisão médica.

Segundo Emily Burns, da organização britânica Diabetes UK, a notícia é "potencialmente muito boa, mas precisamos ver se os resultados são verdadeiros para os seres humanos antes de sabermos o que significam para os diabéticos".

"Pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2 vão se beneficiariam imensamente de tratamentos que possam reparar ou regenerar as células produtoras de insulina no pâncreas", afirma.

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