“Brasil é o país do churrasco”, diz médico que criou dieta de Middleton
Em entrevista ao Terra, Pierre Dukan rebate críticas e diz que sua dieta é capaz de equilibrar o organismo
Celebridades a seguem, alguns médicos a contraindicam e o mentor da ideia garante que uma alimentação rica em proteínas é o segredo para entrar em forma comendo à vontade. A dieta Dukan, também conhecida como a dieta da proteína, promete resultados rápidos e é dividida em quatro partes, com restrições de grupos alimentares nas duas primeiras.
Conheça a dieta Dukan, feita por Kate Middleton e Jennifer Lopez
Apontada como a queridinha de famosas como Kate Middleton, Penélope Cruz e Jennifer Lopez, a dieta ficou popularizada com o livro Eu Não Consigo Emagrecer, lançando em 2008 no Brasil e relançado em 2012, com novas dicas, receitas e informações sobre o programa online para perder peso.
Apesar dos resultados satisfatórios, o método para afinar a silhueta vem sofrendo algumas críticas. De acordo estudo da Organização Mundial da Saúde, a dieta é carente em fibras e vitamina C, e alguns médicos ainda chamam atenção para possíveis problemas nos rins causados pelo excesso de proteínas. Ainda assim, Pierre Dukan rebate os pontos desfavoráveis e afirma que, se seguida corretamente, a dieta é capaz de equilibrar o organismo.
“Durante minha vida de médico, encontrei 60 pessoas que tinham somente um rim - ou porque já tinha nascido assim, ou sofreram ferimentos durante a guerra. Durante meus 40 anos de profissão, receitei meu regime a esses pacientes e estudei o sangue, a urina, o ácido úrico. Pude comprovar que até mesmo com um único rim, essas pessoas nunca sofreram qualquer problema pela alimentação rica em proteínas. Mas há uma condição: eles bebiam água, muita água”, explicou o médico.
Em entrevista para o Terra, ele fala sobe as famosas que o seguiram, a escolha do Brasil como único país da América do Sul para levar seu método, a polêmica das proteínas e o relançamento do livro. Confira a seguir.
Terra: Como você criou a dieta Dukan?
Pierre Dukan: No final dos estudos de medicina, fui fazer uma especialização voltada para a neurologia, que normalmente duraria três anos. De manhã, eu ia para a universidade e, à tarde, eu atendia alguns pacientes. Um dos pacientes era um poeta obeso que, em uma das consultas, me pediu para ajudá-lo a emagrecer. Eu recusei porque não conhecia nada sobre nutrição.
Ele insistiu dizendo que eu poderia tirar qualquer alimento dele, exceto a carne. Eu não sabia mais como dizer não e falei para ele comer carne por cinco dias e beber muita água. Quando ele voltou, havia perdido 5 kg em cinco dias. Nós dois ficamos muito surpresos com o resultado. A partir disso ficou na minha mente que a proteína funcionaria em uma dieta de emagrecimento. Comecei a pesquisar sobre o método, e ele conseguiu emagrecer 40 kg.
Mudei de especialidade e me matriculei nos estudos de nutrição. Durante os 30 anos seguintes, eu fui construindo meu método, dividido em quatro fases. E aí, como tive resultados muito satisfatórios e acima da média, resolvi escrever o livro.
T: É preciso praticar exercícios em todas as fases?
P.D.: Sim. E isso não é um conselho, mas uma ordem médica. Incluo os exercícios na receita da dieta. A dieta é dividida em quatro fases, duas para emagrecer e duas para manter. Na fase de ataque, é preciso fazer 20 minutos de caminhada por dia, 30 min na de cruzeiro, 24 min na de consolidação e 20 min para o resto da vida. Outra dica importante é abandonar os elevadores e sempre subir de escada.
T: Como surgiu a ideia de fazer um programa online de emagrecimento?
P.D.: No total das pessoas que leem o livro, 50% atingem o resultado. Eu acho fantástico, mas há outros 50% que não conseguem porque às vezes param, têm uma vida difícil e não acham estímulo para seguir o livro. Para essas pessoas que não conseguiram, eu criei o método virtual para enquadrá-los e ajudá-los diariamente a seguir a dieta. Deu certo. Pelo programa online, 95% das pessoas têm sucesso.
T: E como funciona?
P.D.: De manhã, envio três páginas por e-mail de orientações do dia. A primeira com orientações sobre os alimentos liberados, com opções de cardápios para o almoço e jantar. Na segunda, envio aconselhamentos sobre atividade física, com uma parte obrigatória e outra opcional. A terceira página é sobre a motivação para que as pessoas não desistam de fazer a dieta. Elas podem receber essas informações tanto por e-mail, como por mensagem no telefone. No Brasil, o plano para perder 10 quilos custa R$ 250.
Durante o dia, o paciente segue as orientações, e à noite me envia um relatório explicando quantos gramas perdeu no dia, se cometeu algum deslize na dieta, se fez atividades físicas, o nível de motivação em uma escala de um a cinco e, por último, qual foi o alimento que ele mais sentiu falta. Se no final de cinco dias ele responder o mesmo alimento, eu mando um relatório liberando o consumo. É bom, porque o relatório permite que a gente saiba dar orientações exclusivas para cada um.
T: Ele existe em quais países?
P.D.: França, Inglaterra, Itália, Espanha, Estados Unidos, Polônia, China, Austrália, Alemanha e Brasil.
T: Por que você escolheu o Brasil como o único país da América do Sul?
P.D.: Porque o Brasil é um país muito grande que está evoluindo no aspecto econômico e tem um grande problema ligado à obesidade infantil. Quando uma criança já é obesa, ela tem grandes chances de levar esse problema para o resto da vida. O excesso de peso durante a infância e adolescência influencia a fase adulta. Além disso, quando uma mãe toma cuidado com a própria saúde, também reflete na saúde dos seus filhos. Por esse motivo, eu escolhi o Brasil.
T: Tem algum hábito na alimentação dos brasileiros que chama sua atenção pelo lado positivo ou negativo?
P.D.: Comecei minha vida como médico nutricionista com a carne e o Brasil é o país do churrasco por excelência. A carne brasileira está presente em todos os lugares do mundo. Em todos os países que já visitei, encontrei a carne nacional e a carne brasileira. Por isso, acho que a dieta pode funcionar muito bem aqui.
T: Esse é o relançamento do livro aqui. Quais são as novidades dessa nova edição?
P.D.: O livro foi relançado com seis capítulos a mais. Incluí receitas diferentes, um programa de atividades físicas, a apresentação do programa de emagrecimento online e orientações voltadas para a motivação das pessoas. Com isso tudo, o livro dobrou de volume.
T: Para lançar o livro em diferentes lugares do mundo, existe algum estudo sobre os hábitos culturais do país para serem levados em conta na dieta?
P.D.:
No método, tem cem alimentos. Então quando eu chego num país qualquer, dentro dessa cadeia de cem alimentos sempre tem alimentos que são universais, como carne de boi, salmão, tomate e repolho. Tem peixes que você só encontra na Itália e tem legumes que só são possíveis encontrar no Brasil, por exemplo. Mas de todos os alimentos liberados na dieta, é possível encontrar 80% deles em quase todos os lugares do mundo.
O que existe é uma adaptação para as receitas, por meio de temperos, ervas e especiarias que são apreciadas em um país e também o modo de preparo. Na Espanha, por exemplo, se faz muita comida na prancha, algo que não é feito em outros países. Então, quando levei a dieta para lá, fiz muitas receitas usando esse método. Aqui no Brasil, trabalho com cozinheiros e nutricionistas locais que me ajudam a readaptar as receitas.
T: Como você encara o sucesso do livro?
P.D.: Eu estou muito feliz, muito orgulhoso porque isso permitiu que eu tivesse uma terceira vida. A primeira parte da minha vida eu era meio solteiro e meio estudante. A segunda foi a medicina com a família e agora, que é a terceira fase, é a missão de ir a todos os países levar minha dieta e a mensagem que eu quero passar. E isso não é ligado à moda ou estética do corpo bonito, mas está fundamentalmente ligado à saúde.
T: Apesar disso, algumas famosas como Penélope Cruz, Jennifer Lopez e Kate Middleton seguem sua dieta. Como você se sente com isso?
P.D.: Assim como nós, essas também são pessoas comuns que devem proteger a saúde, mas elas precisam cuidar da imagem e da estética por um motivo profissional. No caso de Penélope Cruz e Jennifer Lopez, elas engordaram após a gravidez e, se não conseguissem mais perder peso, prejudicaria o trabalho. Eu também me encaixo nesse quadro. Se eu engordar, acaba meu trabalho.
T: Sobre a Kate Middleton, em especial, ela nunca falou sobre a dieta. Ela te procurou diretamente para ter instruções?
P.D.: Não, ela não me procurou pessoalmente. Eu conversei com a prima germânica da rainha da Inglaterra, que foi responsável pela organização do casamento do príncipe William, e ela já tinha perdido 17 kg com a dieta. A mãe da Kate Middleton se inspirou no resultado e seguiu o mesmo método, tanto que ela declarou publicamente nos jornais. Aí a filha dela também seguiu, mas por uma questão social, por protocolo, ela não fala abertamente nos jornais que já fez, mas também não nega.
T: Tem alguma história de alguém que seguiu sua dieta que mais te surpreendeu?
P.D.:
Semana passada, no Rio de Janeiro, no momento em que eu fazia uma sessão de autógrafos na cidade, uma jovem de 30 anos me contou que seguiu o método Dukan e emagreceu 15 kg. Mas o que me surpreendeu foi que ela sofria de diabetes insulino-dependente e, fazendo o regime, parou de fazer aplicações de insulina. Ela ficou superbonita e mostrou fotos de antes e depois. Quando eu a vi antes nas fotos, tive a impressão que era a avó dela e agora ela está magra, com a pele bonita e radiante. Esse foi um dos casos que mais me marcou.
T: Médicos do mundo todo contestam a sua dieta alegando que proteína demais pode causar danos aos rins. Isso de fato pode acontecer?
P.D.: Quando uma pessoa tem o funcionamento normal dos rins, a dieta da proteína não tem nenhuma incidência negativa, pelo contrário. Há um estudo científico que saiu em Harvard, em que testaram ratos muito prejudicados por diabetes e com rins danificados. Eles fizeram um regime sem açúcar, apenas com proteínas e um pouquinho de gorduras, e o organismo desses animais que estavam quase mortos voltaram a funcionar muito bem.
Durante minha vida de médico, eu encontrei 60 pessoas que tinham somente um rim - ou porque já tinha nascido assim, ou sofreram ferimentos durante a guerra. Durante meus 40 anos de profissão, receitei meu regime a esses pacientes e estudei o sangue, a urina, o ácido úrico e pude comprovar que até mesmo com um único rim, essas pessoas nunca sofreram qualquer problema pela alimentação rica em proteínas. Mas há uma condição: eles bebiam água, muita água. Pelo menos um litro e meio por dia, para limpar as toxinas.
T: Outra crítica é de que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o cardápio da dieta Dukan resulta na carência de vitamina C e de fibras. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
P.D.: Para as fibras, já não é verdade, porque há uma série de legumes a serem consumidos, exceto nos quatro primeiros dias. A partir do momento em que se inicia a segunda fase da dieta, é possível consumir o legume que quiser, a hora que quiser e a quantidade que quiser. Além disso, eu receito o farelo de aveia que é rico em fibras. Desde a primeira fase, é preciso consumir uma colher e meia de farelo de aveia diariamente, duas colheres na fase de cruzeiro, duas e meia na fase de consolidação e três para o resto da vida.
Já no caso da vitamina C, durante os quatro primeiros dias, de fato não tem muita vitamina C, mas a partir da segunda fase, com os legumes, a dieta é rica no nutriente. É preciso saber que um pimentão tem tanta vitamina C quanto uma laranja. O mesmo acontece com a couve e vários outros legumes. Para atingir uma carência profunda de vitamina C, é preciso ficar seis meses sem consumi-la. Então quatro dias são irrelevantes, mas se mesmo assim a pessoa quiser, nada impede que ela vá è farmácia e compre cápsulas de vitamina.
T: Para finalizar, qual é seu prato preferido?
P.D.: Cuscuz para comida salgada e chocolate para comida doce.