Dieta do glúten: saiba prós e contras da 'queridinha' das famosas
Isis Valverde, Juliana Paes, Kim Kardashian e Gwyneth Paltrow declararam melhorias ao corpo associadas à retirada do glúten
Logo que surge uma dieta da moda, ainda mais quando assinada por famosas propagando seus benefícios, a ideia se espalha rapidamente e muita gente acaba apostando em mudanças alimentares radicais em nome de algum sucesso na balança.
Este é o caso da famosa dieta do glúten, que nos últimos meses vem ganhando a capa de revistas e sendo nomeada como a responsável por redesenhar alguns dos corpos mais famosos da TV. Isis Valverde, Juliana Paes, Kim Kardashian, Lady Gaga, Gwyneth Paltrow e Miley Cyrus são algumas das famosas que já declararam melhorias ao corpo associadas à retirada do glúten. Algumas delas por problemas de saúde, outras, somente pela estética.
O conceito parece simples: retirar das refeições qualquer alimento que venha junto com a inscrição “contém glúten”. Mas na prática, não é tão fácil assim, afinal, a maior parte dos alimentos presentes na mesa do brasileiro inclui este componente.
O glúten é uma proteína vegetal presente no trigo, aveia, centeio e cevada. Em outras palavras, está presente em pães, bolos, biscoitos, macarrão, cereais matinais e também na cerveja.
A nutricionista Carolina Mariano explica que quando ele cai no intestino delgado causa naturalmente um inchaço. No caso de quem tem intolerância a esta proteína, ou no dos celíacos, além do inchaço ocorre a inflamação intestinal, o que acaba dificultando a absorção de nutrientes e causando, entre outros sintomas, a diarreia.
Inicialmente, a dieta começou a ser prescrita somente nestes casos. Logo se popularizou e o glúten acabou sendo colocado como o culpado dos quilinhos a mais.
Mas não é bem assim, segundo os profissionais ouvidos pelo Terra. O glúten é responsável sim, pelo inchaço, e além disso, afeta o metabolismo, retardando a perda de peso. Mas o que engorda são os outros componentes que fazem companhia para ele nestes alimentos, como o carboidrato, gordura e outros tipos de proteína.
Por isso, retirando estes alimentos da dieta, a pessoa pode de fato emagrecer. De acordo com Carolina, podem ser eliminados até 3 quilos em um mês. “O emagrecimento acontece dois motivos. Primeiro porque a retirada estes alimentos vai diminuir este inchaço natural causado pelo glúten. Segundo porque ele frequentemente está inserido em alimentos calóricos. Mas isso não quer dizer que a pessoa está perdendo gordura”, explica, ressaltando que na maioria dos casos os quilos eliminados estão associados somente ao inchaço.
Lia Buschinelli, nutricionista do Instituto Paulista de Cancerologia, reforça que a retirada do glúten em si não emagrece. “A restrição dos alimentos fonte desta proteína reduz automaticamente a ingestão calórica, e como consequência ocorre a perda de peso. Qualquer dieta com restrição de calorias pode emagrecer, seja com a retirada do glúten, da gordura ou do carboidrato, por exemplo”, explica. “O glúten não possui nenhuma propriedade ‘antiemagrecimento’”, reforça.
A profissional cita o pão como exemplo. Segundo ela, ele possui somente uma fração pequena que corresponde ao glúten.” Proporcionalmente, a quantidade de carboidrato é muito maior, portanto ao retirar o pão, retira-se o glúten, mas principalmente o carboidrato, e consequentemente há uma redução calórica na alimentação, e isso sim pode resultar na perda de peso. Se pensarmos pela lógica, todos os pacientes com intolerância ao glúten ou doença celíaca deveriam sem magros, já que são orientados a seguir uma dieta isenta de glúten, o que não é verdade”, pontua.
Equilíbrio
De acordo com os profissionais entrevistados, os nutricionistas só podem receitar a dieta do glúten aos celíacos ou pessoas com intolerância à proteína.
O nutricionista clínico e funcional Fábio Bicalho lembra que, para quem não se enquadra nestes casos, mas quer excluir o glúten, é necessário buscar orientação. “Em uma dieta elaborada por um profissional de nutrição saberá como adequar as necessidades nutricionais mesmo retirando alimentos com glúten.”
Segundo Lia, o glúten tem função estrutural, e pode participar da construção dos músculos, tecidos, células, unhas, cabelos e pele. “Porém a sua ausência não compromete nenhuma destas funções, pois as fontes de proteína da alimentação são muito variadas e é possível suprir a falta dele com outros alimentos sem prejudicar o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo."
Substituições inteligentes
Para quem quer diminuir o consumo do glúten e, assim, emagrecer por meio de uma reeducação alimentar saudável, vale fazer algumas substitiuições. Carolina não indica excluir o glúten radicalmente, mas diminuir sua ingestão com trocas simples.
Uma boa dica para quem exagera no pãozinho, por exemplo, é usar a tapioca como alternativa, que, segundo a profissional, não contém glúten e nem gordura. “Cuidado com o recheio, pois é ele quem deixa a opção calórica”, lembra. Geleias light, queijo branco ou creme de ricota são boas opções.
Além disso, o arroz branco ou integral não contêm glúten, e fazem às vezes do macarrão para quem consome a massa em excesso. Para os fãs de bolos e outros tipos de massa, a dica é substituir a farinha de trigo pela de arroz, de mandioca ou de milho, além da fécula de batata e do amido de milho que são livres de glúten. Amaranto, quinua e batata yacon também boas pedidas.
Lia lembra, no entanto, que caso a substituição seja feita na mesma quantidade de calorias, o emagrecimento não ocorre. “Por exemplo, um prato de massa feita com farinha de trigo por um prato de massa feita de farinha de arroz não necessariamente reduz o valor calórico do prato, e portanto não emagrece.”
Recomendações
Os especialistas não recomendam a exclusão total do glúten, no caso das pessoas que não têm restrição à proteína. ““É uma dieta de moda. Em longo prazo, pode trazer prejuízos porque você vai deixar de comer muitas coisas, e assim, faltam alguns nutrientes”, afirma Carolina, completando que como consequências de uma alimentação deficiente estão fraqueza, déficit de atenção e falta de disposição.
Lia reforça que apesar de o glúten não ser essencial para os seres humanos, indicar este tipo de dieta para as pessoas emagrecerem não necessariamente estimula a adoção de hábitos alimentares saudáveis. “Restringe um grupo grande de alimentos que fazem parte do hábito alimentar diário da maioria da pessoas, e a perda de peso, se ocorrer, pode ser revertida caso a pessoa reintroduza os alimentos com glúten na dieta. Por esta razão, não deve ser praticada com o intuito de emagrecer”, finaliza.
Intolerância ao glúten x doença celíaca: entenda
De acordo com Lia, a intolerância ao glúten tem características parecidas com a doença celíaca, porém, os sintomas são mais leves e menos graves. Os indícios mais comuns são “dor abdominal, fadiga e dores de cabeça após a ingestão de alimentos que contenham glúten”, explica.
Elas ressalta que, diferentemente da doença celíaca, a intolerância ao glúten não envolve mecanismos alérgicos ou autoimunes, por isso seus sintomas são menos graves. “Na intolerância ao glúten, os indivíduos toleram pouco o glúten e desenvolvem uma reação que normalmente não leva a danos no intestino”.
O diagnóstico é feito por exclusão, com a retirada e reintrodução controlada dos alimentos que contêm glúten. “Uma vez detectada a intolerância, a orientação é manter uma dieta isenta ou com pouco glúten, de acordo com a tolerância individual, a fim de evitar que os sintomas apareçam”.
Já a doença celíaca é caracterizada pela hipersensibilidade intestinal desencadeada pela ingestão do glúten, porém envolve mecanismos alérgicos ou autoimunes, por isso as reações costumam ser mais acentuadas. “Neste caso, o glúten ingerido causa uma inflamação na parede do intestino, fazendo com que ele diminua a capacidade de absorver os nutrientes, e não só o glúten, mas também outras proteínas como gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais”.
Ela afirma que, além de fortes dores abdominais e diarreia como sintomas mais comuns, o quadro pode evoluir para a desnutrição. Segundo a profissional, a doença celíaca pode se manifestar em qualquer idade. “Indivíduos com parentes de primeiro grau que têm a doença possuem mais chance de desenvolvê-la, o que indica um forte componente genético. Ela é diagnosticada através de biópsia do intestino delgado, não tem cura, e o único tratamento possível atualmente é manter uma alimentação isenta de glúten, para não desencadear a inflamação no intestino”, completa.