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IBGE: alimentação saudável vira a 'academia' das mulheres

Estudo mostra que, sem tempo para conciliar rotina atribulada com exercícios físicos regulares, mulheres optam por alimentação cada vez mais rica em legumes e vegetais

10 dez 2014 - 10h21
(atualizado às 10h31)
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Gabriela Silveira tem 31 anos e é webdesigner. Acorda todos os dias às 8h, dá café da manhã para o filho Guilherme, de três anos, enquanto prepara o seu “suco verde, misturando uma fruta doce com alguma verdura”. Entre limpar a casa, fazer compras e lavar a roupa e louça, sempre ouve um “mãe, brinca comigo” – o marido já saiu para trabalhar. Após levar o garoto para a escola, prepara um almoço baseado em salada, arroz integral, legume e peixe ou frango grelhado. “Zero fritura, óleo em casa não entra nem para o macarrão”, diz.

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À tarde, depois do trânsito, “organizo a bagunça e começo a trabalhar, afinal, não me formei e pós-graduei à toa”. Atuando como free lancer, corre para entregar os trabalhos antes de buscar o filho na escola no final da tarde e recomeçar a rotina “de quem não tem com quem deixar o filho”. No final do dia, por mais que mantenha uma alimentação saudável, ela sente falta “de dar uma escapada para malhar na academia”.

A rotina de Gabriela é não só comum como representa um retrato bastante fiel do estilo de vida atual da mulher brasileira, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde 2013 divulgada nesta quarta-feira (10) pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE). Preocupadas com uma alimentação mais saudável muito mais do que os homens, elas sofrem com a rotina apertada com afazeres domésticos e não conseguem, portanto, fazer exercícios físicos regularmente.

Segundo o levantamento do IBGE, as mulheres consomem mais frutas e hortaliças (39,4%) dos que os homens (34,8%) em todo o Brasil.  A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda neste caso a ingestão diária de pelo menos 400 gramas de legumes e verduras. Se o tema for o consumo de carne com excesso de gordura, então, a diferença é ainda mais discrepante em solo nacional: eles, 47,2%, e elas, apenas 28,3%.

“Ficou evidente que as mulheres consomem menos carnes com gordura e refrigerantes, diferentemente dos homens de uma forma geral”, avaliou Maria Lúcia Vieira, coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE e uma das responsáveis por este extenso levantamento. Aliás, corroborando o que Maria Lúcia disse, mulheres bebem menos refrigerantes ou sucos artificiais, de acordo com a pesquisa: 20,5% elas, 26,6% eles. O parâmetro, neste caso, é de quem faz uso deste tipo de bebida pelo menos cinco vezes por semana.

Em relação ao consumo de sal, principal causa de crises de hipertensão, as mulheres que consideraram o uso excessivo ficou em 12,5%, contra 16,1% dos homens. Outro fator de risco no aumento de doenças crônicas, o álcool mostra ainda diferença maior no consumo entre brasileiras e brasileiros: 13% contra 36,3%, respectivamente, entre aqueles que confessaram terem ingerido cinco ou mais doses, em uma única ocasião, nos últimos 30 dias.

Raphaella com as filhas Valentina e Isadora: pelas filhas, a opção por ficar em casa ao invés de malhar na academia
Raphaella com as filhas Valentina e Isadora: pelas filhas, a opção por ficar em casa ao invés de malhar na academia
Foto: Arquivo pessoal / reprodução

Além, claro, do cigarro: mulheres compõem 11,2% dos fumantes, enquanto os homens, 19,2%, o que fecha a taxa geral do brasileiro em 15%. “A alimentação saudável complementa a prática de exercícios e vice e versa. O ideal seria estar em dia com ambos. Porém, claro que manter uma alimentação saudável minimiza os efeitos negativos de não estar fazendo exercícios físicos”, afirma a empresária Raphaela Lewin, 34.

Mãe de Valentina e Isadora, ela engrossa a estatística de brasileiras que não conseguem equacionar o tempo com os filhos para ingressar nos dados do IBGE de quem faz exercício físico por lazer: o levantamento diz que 18,4% das brasileiras fazem pelo menos 150 minutos de atividades semanais, de intensidade leve ou moderada, ou 75 minutos de ritmo vigoroso.

Sempre em indivíduos de 18 ou mais anos, a pesquisa constatou, em contrapartida, que os homens já conseguem um número maior de inseridos neste contexto, mesmo com o ritmo cada vez mais intenso de trabalho: 27,1% dos homens se exercitam regularmente – neste que é a principal recomendação preventiva contra doenças vasculares, por exemplo.

“Almoço fora e janto em casa. Procuro ir a restaurantes que tenham pratos saudáveis em sua seleção, livre de molhos e frituras. Em casa é fácil, pois não compro nada que eu não ache legal comer. Não como massa (carboidratos) durante a semana também”, explica ainda Raphaela, que dá sua razão para não conseguir visitar a academia. “Porque o tempo que tenho disponível acabo optando por ficar com minhas filhas. A rotina de uma mãe que trabalha fora é muito atribulada”, diz.

“As mulheres são mesmo mais sedentárias, no lazer, principalmente. Acredito ser mesmo a questão da disponibilidade de tempo. Além das atividades domésticas, que a gente viu na pesquisa que os homens dispendem menos tempo”, avaliou a diretora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, ao chamar a atenção para as variáveis do tema.

Quando o assunto é atividade física nas atividades domésticas, no mesmo tempo de 150 minutos semanais, o público feminino engloba 18,2%, enquanto os homens, simplórios 5,4% de tempo com as tarefas domésticas em todo o País.

Juliana com a pequena Gabriela: ela antes malhava à noite. Agora, não mais
Juliana com a pequena Gabriela: ela antes malhava à noite. Agora, não mais
Foto: Arquivo pessoal / reprodução

“Elas bebem menos, fumam menos, e não fazem tantos exercícios quanto os homens no lazer, mas quem já fez uma faxina sabe o exercício que é. Pode não ser muito agradável, mas todo mundo sabe o quão cansativo que é. Então, esses fatores podem estar relacionados”, analisa ainda Maria Lúcia.

Embora no quesito deslocamento para o trabalho a diferença entre homens e mulheres não seja significativa, considerando pelo menos 30 minutos de caminhada diária (ida e volta),para Juliana Pellegrini, 33, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). a correria das grandes metrópoles, claro, favorece uma vida mais desregrada.

Ela, que em casa “nunca tive exemplo de alimentação saudável”, gasta em média, diariamente, “quatro horas entre deslocamento casa e trabalho”. “Acabo fazendo um sanduíche em casa à noite”, e sempre que pode “subo as escadas de casa para não usar o elevador, e danço com a Gabriela, minha filha de 10 meses, o que deve funcionar, pois voltei ao peso normal”. “Antes fazia academia das 21h às 23h, agora, com ela, não tem mais como, então procuro sempre andar quando eu posso”, brinca. 

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Fonte: Terra
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