Dipirona cura dor do amor no coração, como viralizou nas redes?
Apesar de ser tentador passar ileso pela dor de um término de relação com o uso desses compridos, especialistas fazem alerta sobre tendência
Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por diversas publicações que ligam o uso de medicamentos analgésicos a melhora de desconfortos emocionais. Apesar de ser tentador passar ileso pela dor de um término ou luto com o uso desses compridos, especialistas ouvidos pelo Terra fazem alertas sobre a prática.
O psiquiatra Caio Gibaile explica que a dor emocional e a dor física estão diretamente relacionadas e que analgésicos auxiliam diretamente a reduzir a dor física, o que pode reduzir indiretamente a dor emocional momentaneamente.
“Uma pessoa com fibromialgia sente mais dor quando está enfrentando um período de estresse ou um episódio depressivo, por exemplo. Da mesma forma, pessoas que sofrem com dores crônicas também tendem a ter pior qualidade de vida e maiores índices de transtornos mentais”, exemplifica o profissional.
Porém, é importante ressaltar que o efeito dos analgésicos é transitório - ele se restringe apenas ao período após a administração, sendo o benefício limitado ao curto prazo e não servindo como medicamentos de manutenção, pois não são capazes de prevenir dores físicas ou mentais no médio e longo prazo.
A psicóloga Nathalie Gudayol ainda ressalta que o uso de analgésicos para tratar dor emocional pode apresentar riscos e efeitos colaterais. Analgésicos opióides, por exemplo, podem causar sedação, dependência e efeitos emocionais adversos. Além disso, o uso prolongado pode levar a tolerância. Outros analgésicos, como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), podem ter efeitos gastrointestinais e cardiovasculares.
“A automedicação com analgésicos para lidar exclusivamente com dor emocional não é geralmente recomendada, pois não trata a causa subjacente. Abordagens multidisciplinares, incluindo terapia psicológica e suporte emocional, são frequentemente preferíveis. Consultar um profissional de saúde é crucial para avaliar os riscos individuais e determinar a melhor abordagem”, aconselha a profissional.
O psiquiatra Caio Gibaile destaca que há vários riscos descritos na literatura médica do uso de analgésicos continuamente.
Analgésicos não opióides, como os AINEs, Ibuprofeno e o Naproxeno, apresentam risco de desenvolver ou agravar úlceras gástricas e sangramentos no trato gastrointestinal, além de prejuízo na função renal.
Na administração frequente de opioides, como Codeína e Tramadol, há o risco de dependência química, física e psicológica além de síndromes de abstinência.
“Ademais, como os medicamentos analgésicos alteram a percepção de dor pelo nosso cérebro, há o risco, com o uso crônico, de que a pessoa passe a, paradoxalmente, sentir mais dor, por desregular essa região”, ressalta o psiquiatra.
Já Nathalie Gudayol destaca que o tratamento mais eficaz para a dor emocional envolve abordagens específicas, como aconselhamento psicológico, terapia cognitivo-comportamental ou outras modalidades terapêuticas. O uso de analgésicos, especialmente sem uma base médica sólida, não é considerado a principal abordagem para tratar essas formas de dor emocional.
“A personalização do tratamento, com a orientação de profissionais de saúde mental, é crucial”, pontua a psicóloga.