Dislexia atinge até 17% de alunos: como identificar?
Dislexia pode ser encontrada entre 5 e 17% dos alunos nas salas de aula
O que é dislexia?
Para começar, é importante que entenda que a dislexia é mais comum do que pensamos. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), ela pode ser encontrada entre 5 e 17% dos alunos nas salas de aula ao redor do mundo.
Ou seja, muitas crianças e jovens estão lutando nas salas de aula com apenas uma pequena porcentagem da capacidade, do que seria considerado o padrão, para decodificar mensagens. Ela existe em diferentes graus e ela possui diversas abordagens de tratamento para melhorar a dificuldade. Por isso, para falar sobre dislexia, trouxemos um especialista em neurologia, o médico Fernando Gomes* para explicar.
Quais são as causas, como é feito o diagnóstico e os possíveis tratamentos?
A dislexia faz parte do escopo de condições genéticas com início neurobiológico. Ela é caracterizada por dificuldade em decodificar códigos. Ou seja, faz com que o indivíduo tenha dificuldade no aprendizado. Sendo assim, a pessoa tem dificuldade na escrita e leitura de palavras. É um desafio disléxico montar palavras, focar na ordem das letras para formar aquela linguagem. Além disso, também é comum apresentar um sintoma bem característico da condição que é a troca desordenada de letras, seja na leitura ou na escrita.
Pessoas que possuem essas dificuldades podem sofrer bullying pelos que desconhecem a problemática e associam a dislexia à inteligência. Nesse sentido, a dislexia nada mais é do que um distúrbio genético e não possui relação com o Quociente de Inteligência (QI).
Cada indivíduo tem as suas próprias características, por exemplo, uma pessoa que não tem um desempenho satisfatório em matérias ligadas ao português pode ser bem desenvolvida em cálculos variados e com o disléxico isso não seria diferente.
Esse pensamento acompanha a lógica de habilidades e aptidões individuais. A condição é vista, principalmente, no sexo masculino, mas não é extinta no feminino, apesar de que a proporção é 3x1.
Ou seja, a cada três meninos com dislexia, há apenas uma menina. Ademais, existem diferentes graus da condição congênita. Nesse contexto, podem haver distintos níveis de dificuldades que podem atingir os indivíduos, sendo mais ou menos severos.
Quais são os tipos mais comuns de dislexia?
Confira a seguir quais são os tipos mais comuns de dislexia em crianças e adultos:
- dislexia visual: ela tem como característica a dificuldade em visualizar palavras, distinguir direções como direita e esquerda;
- dislexia auditiva: esse tipo afeta a percepção de sons diversos, podendo trazer prejuízos na fala.
- dislexia mista: esta é uma mistura de outras, comumente fundindo as duas anteriores, visual e auditiva.
Como identificá-la?
A manifestação da condição irá variar segundo os aspectos da mesma. Conforme dito anteriormente, existem diferentes níveis e tipos de alterações. Esses sinais se evidenciam, principalmente, a partir da fase em que a criança está começando a ser alfabetizada. Nessa fase os pais podem identificar alguns indícios mais comuns que podem fazer a diferença na hora do diagnóstico com um profissional de saúde. Os principais são:
- dificuldade na leitura, escrita e também poderá apresentar obstáculos na soletração de palavras;
- desafio em compreender a leitura de livros e questionamentos;
- problemas para o reconhecimento de símbolos;
- desorganização das palavras, como inversão, troca ou acréscimo de letras;
- problemas com a organização temporal e espacial, além de ter dificuldades na coordenação motora;
- dificuldade de concentração em atividades gerais.
Segundo o neurocirurgião Fernando Gomes, a atenção é a porta de entrada cognitiva para o nosso cérebro, todas as informações e experiências estão ali.
"Quando existe prejuízo na vida cotidiana de uma criança por conta de alteração na captação da atenção, entendemos a necessidade de se procurar um profissional da saúde e estabelecer o tratamento de forma definitiva", afirma.
A observação da criança é um dos passos primordiais na identificação de uma condição que causa desconforto e desafios em atividades corriqueiras. Nem sempre uma criança é "preguiçosa" ou "não presta atenção porque não quer". Muitas vezes elas estão lutando contra dificuldades que muitos não compreendem e é dever dos responsáveis ficar atento ao desenvolvimento daquele indivíduo.
Quanto mais cedo identificar a dislexia mais rápido será a descoberta e a implementação do tratamento necessário para diminuir as dificuldades da pessoa. O diagnóstico precoce é de grande importância, pois evita que aquela criança passe por processos depreciativos que possam atingir, de forma negativa, a sua autoestima. E não é só em crianças que precisamos estar atentos, existem casos de adultos que foram diagnosticados de forma tardia e, com o acompanhamento adequado, conseguiram quebrar barreiras.
Como é feito o diagnóstico da dislexia?
O diagnóstico pode ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por neurologistas, psicólogos e fonoaudiólogos. No encontro com os especialistas o indivíduo passará por uma série de testes de visão, audição, desempenho cognitivo, entre outros. É importante levar o seu filho ao médico para que a condição seja identificada de maneira correta, pois a dislexia pode apresentar sintomas de outros transtornos já conhecidos como déficit de atenção.
Quais os tratamentos para a dislexia?
A dislexia é uma condição que não possui cura. Porém, é possível encontrar tratamentos que amenizem a dificuldade que o indivíduo está passando. Conforme dito anteriormente, é necessário um trabalho em equipe. Ou seja, é preciso ter o auxílio de profissionais qualificados, bem como a ajuda dos pais e/ou responsáveis pelas crianças.
Os profissionais da saúde irão criar ferramentas, junto com a pessoa, para melhorar barreiras de escrita e leitura. Apesar de um diagnóstico de uma condição incurável ser desanimador, é possível levar uma vida normal, seguindo as estratégias criadas pelos médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros.
*Dr. Fernando Gomes, Médico neurocirurgião, neurocientista, professor livre docente do Hospital das Clinicas de SP, comunicador e autor de 8 livros