Doença de Alzheimer pode ser ainda mais difícil para quem vive com a pessoa diagnosticada
Número de pessoas com demência no Brasil pode chegar a mais de 5 milhões em 2050; cuidadores também precisam de tratamento, alerta geriatra
Um recente estudo revelou que ao menos 1,76 milhão de pessoas com mais de 60 anos vivem com alguma demência no Brasil e esse número tende a crescer ainda mais.
A Lei nº 11.736/2008 instituiu o dia 21 de setembro como o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer. A data chama atenção para as condições desse tipo de demência, que atinge 70% dos afetados, especialmente neste contexto de aumento de número de casos incidindo em uma população que está envelhecendo.
De acordo com o Ministério da Saúde, a previsão é que se chegue a 2,78 milhões de brasileiros com demência no final desta década e a 5,5 milhões em 2050. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 50 milhões de pessoas vivem com demência no mundo — e a projeção da entidade é que atinja a marca de 150 milhões em 2050.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e ainda sem cura que afeta, majoritariamente, pessoas acima de 65 anos de idade, impactando a memória, a linguagem e a percepção do mundo.
Em entrevista ao Terra Você, a médica geriatra da Saúde no Lar, Simone de Paula Pessoa Lima explicou quais são os primeiros sinais da doença e indicou como familiares podem encontrar ajuda.
Desorientação faz parte dos primeiros sintomas
De acordo com a profissional, os primeiros sinais de Alzheimer incluem perda de memória recente, como esquecer compromissos de forma recorrente, o local que guardou algum objeto do dia a dia ou nomes de pessoas familiares, além de:
- Dificuldade em executar tarefas habituais;
- Desorientação em relação ao tempo e espaço;
- Mudanças na capacidade de julgamento;
- Perda de interesse por atividades sociais.
Ao perceber esses sintomas, buscar uma avaliação médica especializada para um diagnóstico precoce torna-se essencial.
Doença tem diferentes estágios
A médica conta que no estágio inicial o impacto acontece desde o diagnóstico, até quando o paciente passa a ter dificuldades em realizar atividades mais complexas, provocando, com frequência, mudanças no humor e irritabilidade.
“Nessa fase, a autonomia do paciente pode ser preservada com suporte leve”, diz.
À medida que a doença progride, a dependência aumenta, surgindo confusões, alterações comportamentais mais significativas e dificuldades na compreensão e comunicação. Os cuidados passam a incluir supervisão constante e apoio para as atividades da vida diária.
No estágio avançado, o paciente requer cuidados integrais, com assistência em higiene e até na alimentação. Pode chegar a ser necessário o manejo de complicações como a imobilidade. “O ajuste dos cuidados deve sempre priorizar o conforto e dignidade do paciente”, ressalta a especialista.
Tratamentos não retardam progressão da doença
Os tratamentos disponíveis para Alzheimer incluem medicamentos como os inibidores da colinesterase e a memantina, que podem ajudar a minimizar as perdas cognitivas e comportamentais temporariamente.
Além dos fármacos, intervenções não farmacológicas, como estimulação cognitiva, atividade física e suporte emocional, são fundamentais para otimizar a qualidade de vida. No entanto, a médica destaca que embora esses medicamentos possam retardar a progressão dos sintomas, eles não interrompem a evolução da doença.
Familiares precisam buscar apoio
A doença de Alzheimer pode ser ainda mais difícil para aqueles que vivem com a pessoa diagnosticada. A médica conta que os cuidadores familiares enfrentam desafios inicialmente emocionais e sociais.
“Além do estresse de lidar com a dependência progressiva do paciente, alterações de comportamento (agitação, agressividade), existe o impacto emocional de ver um ente querido perder suas habilidades cognitivas”, detalha.
Nas fases moderada e avançada o desafio físico aparece de forma mais marcante devido a necessidade de ajuda no banho, transferências (cama/cadeira) e mudanças de posição na cama.
Para lidar com essas situações, a geriatra recomenda que o familiar busque ajuda e suporte profissional.
“Participar de grupos de apoio e aprender técnicas de manejo comportamental e autocuidado, a fim de evitar o esgotamento emocional e físico, além do planejamento antecipado para o futuro da doença também é crucial”, indica.
Internação pode ser a melhor opção
Apesar dos preconceitos sociais que a internação de um ente querido possa causar para os familiares envolvidos, a médica explica que escolher uma clínica especializada para cuidar de um idoso com Alzheimer pode ser uma opção valiosa quando o nível de cuidados exigidos ultrapassa as capacidades familiares.
“Nessas instituições, o paciente pode receber assistência profissional contínua, com foco no manejo dos sintomas, conforto e segurança, especialmente nos estágios mais avançados da doença. Para o cuidador, essa decisão pode aliviar o estresse e a carga emocional, permitindo que ele se concentre no bem-estar do paciente e no autocuidado”, diz a especialista.
Bons hábitos podem inibir a doença
A Doença de Alzheimer ainda não possui uma forma de prevenção específica, no entanto os médicos acreditam que manter a cabeça ativa e uma boa vida social, regada a bons hábitos e estilos, pode retardar ou até mesmo inibir a manifestação da doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, as principais formas de prevenir, não apenas o Alzheimer, mas outras doenças crônicas, são:
- Estudar, ler, pensar, manter a mente sempre ativa;
- Fazer exercícios de aritmética;
- Jogos inteligentes;
- Atividades em grupo;
- Não fumar;
- Não consumir bebida alcoólica;
- Ter alimentação saudável e regrada;
- Fazer prática de atividades físicas regulares.