Doença pulmonar e câncer: conheça os efeitos do cigarro eletrônico
Especialistas afirmam que quem utiliza o cigarro eletrônico tem mais chance de migrar para o cigarro comum do que quem não utiliza
Com uma variedade de sabores, aromas e a semelhança aos narguilés, os cigarros eletrônicos dão, à primeira vista, a ideia de serem uma boa alternativa. No entanto, o uso desse dispositivo tem sido prejudicial à saúde de jovens e artistas renomados.
Nesta semana, a forrozeira Solange Almeida, 47, contou em entrevista ao 'Domingo Espetacular', da Record TV, que quase abandonou a carreira devido ao uso de cigarros eletrônicos. Já em dezembro do ano passado, a assessoria de imprensa do cantor Zé Neto, dupla sertaneja de Cristiano e usuário desse cigarro, afirmou que ele desenvolveu um problema chamado "foco de vidro no pulmão" e falta de ar ao cantar.
Os sintomas apresentados pelo artista podem estar relacionados, além de resquícios da Covid-19, ao uso prolongado de cigarro eletrônico. Mas é entre os jovens que os vapers ou vaporizadores, como também são chamados, ganharam espaço muito rápido, reacendendo o debate sobre o tabagismo.
Davi Sousa, 16, estudante do ensino médio, diz que utiliza o cigarro eletrônico como uma forma de "lazer", e que não se considera um viciado. "[Uso] mais para me divertir com meus amigos". Já Erick Silva afirma que passou a usar após ver muitos amigos utilizando. "Para não ser o único da turma a não usar, comecei a fumar também".
No Brasil, o uso desses aparelhos é proibido desde 2009, mas a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) mostra que o uso tem se tornado cada vez mais frequente, principalmente entre os mais jovens. Segundo o levantamento, em 2019, 16,8% dos estudantes de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico. Na faixa de 13 a 15 anos, a prevalência foi de 13,6%. Entre os jovens com 16 até 17 anos, de 22,7%.
Por ser mais prático, ter uma aparência mais tecnológica e atrativa, e não causar aquele incômodo do cigarro tradicional — sobretudo pela diferença de odor —, os eletrônicos passaram a ser socialmente aceitáveis em diversos ambientes, principalmente em festas e eventos.
Efeitos ao organismo
De acordo com o Inca Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) não são seguros e possuem substâncias tóxicas além da nicotina. Sendo assim, o cigarro eletrônico pode causar doenças respiratórias semelhantes àquelas decorrentes da Covid-19, como o enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer.
Ainda segundo o Inca, estudos mostram que os níveis de toxicidade podem ser tão prejudiciais quanto os do cigarro tradicional, já que combinam substâncias tóxicas com outras que muitas vezes apenas mascaram os efeitos danosos. Liz de Almeida, chefe de Prevenção e Vigilância do Inca, reforça que não há benefícios para quem prefere utilizar o dispositivo eletrônico em vez do cigarro comum.
"A probabilidade de quem utiliza o cigarro eletrônico passar a usar o cigarro comum é muito maior do que quem não utiliza. Ou seja, para quem quer parar de fumar, esse não é o caminho", observa, em entrevista ao Terra.
Liz também entende que a falta de conhecimento tem levado os jovens a usarem ainda mais o cigarro eletrônico. "[Os jovens] precisam entender o quanto isso é prejudicial à saúde. Torcemos para não ser legalizado aqui no Brasil, pois a indústria tem investido muito no marketing desse produto", completou a especialista do Inca.
Já Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que não forma segura de consumo de tabaco ou nicotina.
"As formas fumadas são as mais perigosas. Existem mais de 80 substâncias no cigarro eletrônico. E vão surgir mais. São os mesmos riscos de um cigarro convencional, com o incremento do metal que vai para o organismo de quem usa o cigarro eletrônico", aponta.
O coordenador da SBPT destaca que o cigarro eletrônico ainda provoca efeitos psicológicos no indivíduo que o utiliza ou potencializa aqueles já existentes, como ansiedade e depressão.
"O jovem quer se encaixar em diversos grupos, por isso ele passa a utilizar de alguns artefatos e tomar algumas atitudes que lhes façam estar ligados a um determinado grupo", completou Corrêa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está na fase final de elaboração de seu posicionamento quanto à liberação do uso dos DEFs. No começo de abril, a agência começou a etapa de participação social no processo que analisa o consumo de cigarros eletrônicos.
Nesta fase, a Anvisa vai receber evidências técnicas e científicas sobre esses produtos. O prazo para receber informações técnicas e científicas sobre cigarros eletrônicos será até o dia 11 de maio.