Alotriofagia: por que personagem de Klara Castanho come botões?
Em momentos de tensão e ansiedade, Ângela, da série 'Bom Dia, Verônica', arranca os botões da própria roupa e come
A segunda temporada da série brasileira Bom Dia, Verônica já está disponível e traz a atriz Klara Castanho no papel de Ângela, uma adolescente que sofre abuso sexual e psicológico do próprio pai, interpretado por Reynaldo Gianecchini. Um detalhe chama a atenção. Sempre que está nervosa ou ansiosa, a personagem arranca botões da própria roupa e come.
O distúrbio tem nome: alotriofagia. É um transtorno alimentar definido pelo desejo ou hábito de mastigar coisas que não sejam alimentos ou, ainda, não tenham qualquer valor nutricional, como óleo, sementes, gelo ou botões, por exemplo.
"É muito comum acontecer em pessoas com alguma causa de ansiedade, mas também em pessoas com deficiência intelectual, autismo ou esquizofrenia", explica o psiquiatra Daniel Bastos em entrevista ao Terra.
Crianças e grávidas também estão entre os pacientes acometidos por esse distúrbio. Segundo o especialista, inclusive, pesquisas apontam que 20% das crianças atendidas em clínicas de saúde mental apresentam a alotriofagia.
O percentual tende a diminuir depois da adolescência e é muito raro em adultos que não tenham qualquer deficiência intelectual.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da alotriofagia é feito por um psiquiatra por meio de entrevistas, depois que qualquer deficiência nutricional é descartada. Por outro lado, não existe tratamento específico para o transtorno, visto que surge a partir de uma condição pré-existente - esta, sim, com meios para ser tratada. É o que os médicos chamam de "tratamento via causa de base".
"Se for autista, é por remédio antipsicótico. No caso de pessoas ansiosas, remédio para ansiedade, assim como acompanhamento com psicólogo e nutricionista", exemplifica Bastos. "Os dois casos que atendi na minha carreira eram por transtorno de ansiedade. Uma paciente comia arroz cru e se sentia menos ansiosa ao fazer isso, mas era algo compulsivo", acrescenta o psiquiatra.
O outro caso que Bastos atendeu em sua carreira foi uma paciente com transtorno obsessivo-compulsivo. "Ela achava que estava infectada por bactérias. Uma vez, ela estava internada do hospital e comeu a comida de lá. Depois, achou que estava infectada e acabou tomando álcool em gel para tentar limpar a garganta e o estômago de bactérias", relata.
A literatura médica dá conta de casos em que pacientes tinham o hábito de comer também lascas de tinta da parede, madeira, casca de ovo e cola. "São coisas totalmente inusitadas", comenta.