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Médica vira mastologista após câncer de mama e dá 5 dicas

O sedentarismo, o fumo e o excesso de consumo de gordura estão associados à maior incidência da doença

3 set 2015 - 11h11
(atualizado às 14h09)
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Ilná Escóssia, médica que luta contra o câncer de mama desde 1998, largou sua carreira de obstetra para estudar mastologia
Ilná Escóssia, médica que luta contra o câncer de mama desde 1998, largou sua carreira de obstetra para estudar mastologia
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Após descobrir um câncer na mama direita há 17 anos, a médica Ilná Escóssia decidiu se especializar em mastologia e acabou virando ativista. Em meio a uma nova sessão de radioterapia, para combater um câncer inflamatório, raro e agressivo na pele da mama esquerda, Ilná compartilha com a BBC Brasil detalhes de sua jornada e cinco lições que aprendeu na luta contra o câncer que mais mata mulheres no Brasil – foram 14,2 mil mortes só em 2013. 

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Neste ano, são esperados 57 mil casos da doença. 

"Sou médica ginecologista e obstetra. Sempre trabalhei muito, era uma trabalhadora compulsiva, operava, dava plantões e atendia no consultório e no serviço público. Costumava trabalhar de 10 a 12 horas.

Recebi o diagnóstico de câncer de mama após uma mamografia em março de 1998. Eu tinha então 38 anos. Fiz a mamografia porque, dois anos antes, eu tinha retirado um nódulo benigno da mama direita. A mamografia fazia parte do controle pós-cirurgia.

Com a imagem suspeita, parti para a biópsia da mama, e o diagnóstico foi claro: carcinoma. À época, o protocolo era já começar a quimioterapia antes mesmo da cirurgia.

Com a quimio, meu cabelo caiu todo. Nunca me adaptei a perucas. Lembro bem que tinha uma novela em que as mulheres usavam lenços na cabeça, acho que era O Clone. Sempre preferi lenços, e até hoje é assim.

Parti para a cirurgia em junho de 1998, quando foi retirada a mama direita. Completei o tratamento em São Paulo, com 28 sessões de radioterapia. Fiquei dois meses e meio lá. Meu marido, minha mãe e minhas irmãs se revezavam me acompanhando. Minhas filhas ficaram em Fortaleza, sendo cuidadas pelo irmão mais velho e pela minha cunhada.

Ilná entre as filhas Natália e Virgínia
Ilná entre as filhas Natália e Virgínia
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Quando voltei a Fortaleza, completei a quimioterapia, totalizando nove sessões. Já durante as últimas sessões, voltei ao trabalho no consultório. Comecei então a querer me informar sobre a doença, porque percebi que mesmo eu, médica, não tinha muita informação sobre como o câncer de mama progredia.

Os médicos me orientaram a diminuir o ritmo de trabalho e de estresse. Larguei a obstetrícia e fui estudar mastologia num grupo de pesquisas especializado, o GEEOn (Grupo de Estudos e Extensão em Oncologia), da Universidade Federal do Ceará.

Nessa época, resolvi criar um grupo de apoio a mulheres com câncer de mama, após perceber que a maioria das mulheres diagnosticadas mal sabia o que estava acontecendo e qual seria o tratamento. Elas achavam que o diagnóstico de câncer correspondia ao atestado de óbito.

Formei um grupo, que começou com seis mulheres, num centro de ioga. Compartilhávamos experiências sobre o diagnóstico, o tratamento, os exames, a mutilação, a perda do seio e do cabelo e todo o enfrentamento da doença.

Tínhamos um tutor indiano, o professor Harbans Arora, que já atendia pessoas com câncer e nos orientava com exercícios de ioga, meditação e respiração para minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia. Foi ele que deu nome ao grupo, Amar (Associação de Motivação, Apoio e Renovação).

Os médicos que me conheciam passaram a enviar suas pacientes para nós.

Desde o início o atendimento sempre foi gratuito. Meu trabalho no grupo é totalmente voluntário, assim como o de outras profissionais, que coordenaram sessões de fisioterapia e terapias de grupo. Até hoje temos duas artesãs voluntárias que coordenam uma oficina e nos ensinaram a fazer artigos que vendemos para pagar despesas do projeto.

Em 2008, dez anos após o primeiro diagnóstico, novos exames constataram metástase óssea, que é quando o câncer se espalha para outros tecidos do corpo. Fiquei muito assustada. Mas comecei um tratamento com um novo medicamento, que não só diminuía as dores como reduzia o ritmo de crescimento dos tumores. As minhas lesões realmente permaneceram estáveis, de acordo com os exames, e assim permanecem.

Em setembro de 2014, ao fazer o autoexame, percebi sintomas diferentes na mama esquerda, como vermelhidão, inflamação e dor. A mamografia e a ultrassonografia não detectaram nódulos. Meu oncologista diagnosticou um câncer inflamatório, raro e agressivo, que acomete a pele da mama.

Após nova biópsia, reiniciei a quimioterapia. Com oito ciclos, meu cabelo caiu de novo. Em 2015, fiz mastectomia da mama esquerda. Em São Paulo, estou fazendo revisões terapêuticas e vou iniciar novas sessões de radioterapia. Minhas filhas e minhas irmãs estão se revezando para cuidar de mim. O apoio da família e dos amigos é fundamental.

As mulheres do Amar sempre dizem que o grupo é fundamental para elas. Todas chegam deprimidas e assustadas e aprendem com as outras a enfrentar a doença, se sentem mais fortes. Temos um trabalho educativo em escolas, comunidades rurais, empresas, e falamos da importância da mamografia e do diagnóstico precoce no combate ao câncer de mama.

A doença é tratável e tem cura quando diagnosticada precocemente. Muitas mulheres ainda têm medo da mamografia e dizem que dói. Sempre digo que é melhor a dor do exame do que a dor do diagnóstico de câncer.

E acho que a principal beneficiada pelo trabalho do Amar fui eu. Capacitar outras mulheres para falar sobre o câncer me fortaleceu, me impulsionou a estudar mastologia e me ajudou a superar todas as etapas difíceis. Foi o que me ajudou a me manter viva durante todo esse tempo."

Em 17 anos de luta contra o câncer, Ilná Escóssia tem algumas dicas que a ajudaram e que ela divide com suas pacientes. O câncer está relacionado a múltiplos fatores genéticos e ambientais (e esses têm um peso fundamental). De todo modo, aqui vão algumas dicas:

1. A mamografia é imprescindível, o mais importante exame na detecção precoce do câncer de mama. Pode ser feita a partir dos 35 anos, se a mulher tem antecedentes familiares de primeiro grau, quer dizer, mãe ou irmã com câncer. E anualmente após os 50 anos, para todas as mulheres. A maior incidência do câncer de mama é entre 50 e 70 anos.

2. É preciso combater o excesso de gordura na alimentação. Os estudos mostram que a gordura, em especial a gordura animal, aumenta o risco de câncer de mama. Principalmente após a menopausa, a gordura se transforma em hormônios através de uma enzima chamada aromatase, e isso aumenta o risco.

3. O sedentarismo é nosso inimigo, aumenta em 30% os riscos de câncer não só de mama, mas vários outros, como próstata. Daí a importância da atividade física na prevenção da doença.

4. Fumar, ao contrário do que muita gente pensa, não é associado apenas a doenças cardíacas. Também pode influenciar no câncer de mama, bexiga e próstata.

5. A questão emocional é muito importante. Muitas mulheres que sofreram perdas, perderam filhos, maridos, empregos, desenvolveram câncer. O estresse contribui para a diminuição da imunidade e fragiliza o organismo, favorecendo alterações celulares. Com a imunidade reduzida, as células se multiplicam desordenadamente. É isso que caracteriza o processo cancerígeno, a multiplicação desordenada da célula normal, gerando os tumores.

'Essa luta é nossa': Brasileiro com câncer faz campanha online:
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