Médico diz que prefere ter HIV a diabetes e causa polêmica
Segundo médico, o HIV, se devidamente tratado, não diminui a expectativa de vida do paciente, enquanto a diabetes pode reduzi-la em até 10 anos
Em uma coluna publicada no site Spectator nesta semana, o médico britânico Max Pemberton (pseudônimo jornalístico) afirma que, clinicamente falando, ele, como médico, preferiria ter o vírus HIV a ter diabetes tipo 2. O artigo tem causado polêmica, mas a intenção não era falar que uma doença é melhor ou pior do que a outra, e sim ressaltar que hoje o vírus da aids já pode ser tratado e, tomando-se os devidos cuidados, a doença não mais é sinônimo de morte - podendo ser até menos danosa do que a diabetes 2, por exemplo.
Para ele, as pessoas são complacentes com a diabetes de uma forma que seria considerada "descuidada" com a aids, como se fosse um contratempo que pode ser consertado com remédios. "Mas isso está errado", diz ele. "Independentemente de como é tratada, a diabetes 2 é uma doença progressiva, que resulta em um aumento de remédios ao longo do tempo. Um recente estudo australiano mostrou que, depois de 6 anos, 44% dos pacientes não respondiam mais ao tratamento oral e precisaram de injeções de insulina."
Já a aids, por outro lado, exige uma medicação em dose única e fixa, uma vez ao dia. Também deve ser tomada para o resto da vida, mas não há o incômodo da injeção, ambos os tratamentos têm efeitos colaterais, mas as estatísticas no Reino Unido mostram que o HIV não mais reduz a expectativa de vida do paciente, enquanto a diabetes tipo 2 pode reduzi-la em até 10 anos.
Diabéticos têm 4 vezes mais chances de ter uma doença cardiovascular e em até 30% dos casos há danos no funcionamento dos rins. A diabetes aumenta os riscos de cegueira, ferimentos e úlceras. A aids, se tratada a tempo e corretamente, pode não dar maiores problemas, já que o sistema imunológico é mantido em equilíbrio.
Os avanços da medicina e campanhas publicitárias, segundo Pemberton, possibilitaram essa mudança no quadro dos pacientes soropositivos. Desde que a doença surgiu, há mais de 30 anos, campanhas em massa e bastante agressivas fizeram com que as pessoas tivessem medo da aids, que pode de fato matar uma grande quantidade de gente em muito pouco tempo. Esse medo foi responsável pela "promoção do sexo seguro em uma escala que nunca se fez em relação à alimentação saudável contra a diabetes", por exemplo.
Na página do Spectator, os comentários de leitores sugerem que o assunto é ainda tabu, já que muitos condenaram a posição aberta do médico que, segundo eles, encoraja comportamentos "de risco".
Outros, diabéticos, discordam da opinião de Pemberton, já que para eles a diabetes não causou conquências tão graves. "As complicações que você menciona são resultados de uma diabetes mal controlada", comentou uma leitora.
"É o impacto social da condição que afeta o diagnóstico, mais do que o aspecto físico. O maior problema de ser diagnosticado com aids é o medo de ser rejeitado pela sociedade, e não a doença em si", diz o médico. "Se a aids ainda tem o status de uma doença aterrorizante, é devido à atitude da sociedade - e não por causa do vírus", finaliza.