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Rapunzel solidária: mulheres doam cabelos para pacientes com câncer

Projeto arrecada cabelos para doar para mulheres que passam por quimioterapia

4 fev 2014 - 10h45
(atualizado em 8/12/2014 às 14h30)
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Os cabelos tomam boa parte da rotina feminina: lavar, hidratar, cortar e manter brilho e movimento requer muito amor e disciplina. Para muitas mulheres, eles representam uma marca registrada, símbolo de feminilidade e beleza.

Agora imagine, do dia para a noite, ficar sem eles. Pois é isso que acontece com milhares de pacientes que enfrentam o câncer de mama, o mais incidente na população feminina não só no Brasil, como no mundo todo.

E foi se colocando no lugar destas mulheres que muitas outras, colaboradoras do projeto Rapunzel Solidária, se prontificaram a ajudar a causa. A iniciativa tem como objetivo arrecadar cabelos para serem doados às portadoras de câncer. O conceito é simples: ao apostar em um novo corte, ao invés de dispensar os fios, elas os guardam para serem usados por quem está passando por tratamento quimioterápico. 

Nesta terça-feira (04), quando é celebrado o Dia Mundial do Câncer, o Terra destaca a história da administradora de empresas Elizabeth Lomaski, 50, autora do projeto.

Depois de superar um câncer de mama, ela decidiu devolver ao mundo, “de forma tangível”, como ela mesma diz, a alegria de ter se livrado do incômodo trazido pelas sessões de quimioterapia – que tem como um dos principais sintomas a queda dos cabelos de todo o corpo.

O Rapunzel Solidária nasceu despretensiosamente, quando Beth, como é conhecida, comentou com uma amiga, a psicóloga Ana Cecília Simões, que deixaria o cabelo crescer para doar às pacientes do Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer).

A colega gostou da ideia. “Ela me disse, ‘vou cortar o cabelo hoje, então trago para você amanhã”. E foi aí que ela percebeu que poderia ajudar mais gente.

No último dia 13 de janeiro, ela criou uma fanpage no Facebook. No fim do mês, já eram contabilizados 1500 seguidores. Atualmente, a média é de 80 pessoas curtindo a página por dia, além de mensagens do Brasil inteiro, de mulheres interessadas solicitando informações. Só no mês de janeiro foram 20 doações, entre elas, de crianças.

<p>A mais recente doação veio de Luísa, de apenas três aninhos</p>
A mais recente doação veio de Luísa, de apenas três aninhos
Foto: Facebook / Reprodução

Nascendo um projeto

Na família de Beth, a doença não era exatamente uma novidade. A irmã teve câncer de mama metastático quando tinha apenas 38 anos, logo após o nascimento do filho. “Foi um choque tremendo e até hoje ela passa por um tratamento que vai de medicamentos orais à quimioterapia”, conta.

Como Beth sempre teve problemas nas mamas, como cistos e nódulos benignos, fazia o acompanhamento anual, mas, com a doença da irmã, passou a fazer de seis em seis meses. Em 2012, teve o primeiro susto.

Uma secreção que saiu do seio esquerdo a levou para o mastologista, quando passou por cirurgia para retirada do primeiro tumor. Na época, alguns médicos a alertavam sobre a possibilidade de tirar os dois seios, de forma preventiva, devido ao histórico de problemas na região.

Em 2013, ela foi diagnosticada novamente com tumor nas duas mamas. “Meu mundo caiu. Já pensei em tudo de ruim que minha irmã havia passado, pensei nos meus pais, nos meus filhos. Mas logo perguntei para os médicos: ‘o que tenho que fazer’?”, relembra.

Beth foi aconselhada a retirar as duas mamas, por meio da cirurgia de mastectomia, mas, para sua surpresa, não precisou passar por quimioterapia nem radioterapia. “Foi a melhor notícia! Não iria ficar careca nem sentir todos os incômodos que a 'quimio' e a 'radio' causariam. Eu realmente me senti abençoada”, afirma.

Até hoje ela toma medicações para prevenir a volta da doença, no entanto, desde então sente vontade de agradecer por sua superação. E foi assim que abraçou a causa. 

Próximos passos

Com a divulgação no Facebook, a rede de solidariedade vem crescendo e agora o objetivo é conseguir novos parceiros. Beth busca empresas que atuam no ramo de perucas para fazer novas peças com os cabelos doados; ou que estejam interessadas apenas em comprar o cabelo para futura comercialização – gerando assim renda para ser revertida à Graac.

A administradora afirma que um dos seus objetivos é ajudar quem não tem recursos para comprar a própria peruca, que, segundo ela, custa de R$ 4 a 5 mil. “A peruca pode ajudar a melhorar a autoestima destas mulheres. Quando elas se sentem bem e bonitas, o corpo reage positivamente”, completa.

 

"Depoimento de Juliana Martin, 34, professora, que descobriu o câncer de mama há um ano
AFP

"Tudo começou com uma plástica que eu ia fazer no seio, queria diminuir. Fui ao médico e, nos exames pré-operatórios, apareceu um caroço de seis milímetros. O médico pediu a biópsia. Como tenho histórico de câncer de mama na família, todo mundo insistiu que eu fosse em um especialista. Quando veio o resultado de câncer de mama, foi minha opção tirar as duas mamas – a doente e a saudável – de forma preventiva, pois a chance de o câncer retornar era grande.

Eu não tinha medo de nada, na verdade. Estava tranquila. O meu único e maior medo era o meu cabelo cair. Eu tinha uma história com ele, era a coisa que eu mais gostava, sempre cuidei dele, era muito bonito. A primeira pergunta que fiz para o médico não foi se ia doer, se eu ia sofrer. Foi: ‘eu vou ficar careca’? E ele disse: ‘vai’.

Então eu resolvi fazer um sacrifício antes do tratamento começar. Cortei o cabelo e guardei o rabo. Ficou bem curtinho, mas logo depois da primeira sessão, já vi o pouco que sobrou começar a cair. Entrei em desespero. Foi a parte mais difícil pra mim. Por onde você passa tem cabelo caindo: no travesseiro, na roupa, no prato.

Decidi raspar a cabeça. Fui para o banheiro, sozinha, com a maquininha. Foi a pior sensação. Meu marido e minha filha, de 4 anos, estavam me esperando no quarto. Eu saí muito envergonhada e quando ela me viu, chorou muito. Ficou assustada ao me ver careca. Neste período, o quartinho dela estava em reforma, e ela estava dormindo comigo. Neste dia, ela não quis dormir lá. Eu fiquei muito triste de machucar alguém além de mim.

Estou perdendo muitas coisas, estou de licença do trabalho, tudo me enjoa, tudo me machuca, estou muito chata. Não consigo passar uma vassoura na casa, ou ficar com minha filha no colo, pois fico cansada.

Mas tudo isso me trouxe muitas coisas boas, amizades refeitas, família muito unida, muitas pessoas me dando muita força. Entre elas, uma amiga que doou o cabelo para o projeto Rapunzel Solidária. Ela disse que fez isso pensando em mim.

Então eu lembrei do rabinho que estava guardado e pensei: ‘já sei o que quero fazer com ele’. Quando a Beth me pediu uma foto para divulgar a doação, eu não queria. É muito difícil sair do mundinho da gente e ir para um mundo muito maior. Eu não gosto mais de tirar foto, não me reconheço mais. É muito difícil você olhar no espelho e não se reconhecer mais.

Mas quando eu decidi mandar, eu pensei que seria por uma causa muito maior. Meu sorriso, nessa foto, batia com o que eu estava sentindo ao doar.

Eu não queria ser olhada pela curiosidade, ou por dó, e tinha medo do susto que poderia causar. Mas me dispus a fazer isso pelo projeto. Eu assimilei o tamanho da causa.

Depois disso, acho que as coisas ficaram mais fáceis para mim. Me senti mais livre. As pessoas me viram careca, agora não têm mais curiosidade.

Não foi bom só para o projeto, foi bom para mim. A página tem 1600 curtidas, mas eu quero mais. Nós somos milhões.

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Fonte: Terra
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