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Tratamento da Aids do Brasil salva mais que média global

Mortes em decorrrência do HIV no Brasil caíram a uma taxa anual de 2,3% entre 2000 e 2013, mais do que a queda de 1,5% registrada globalmente. Estudo também mostra que mortes por tuberculose também apresentaram taxa mais baixa no País

22 jul 2014 - 11h49
(atualizado às 12h04)
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Foto: Reuters

Desde a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2000, as mortes por HIV/ Aids e tuberculose no Brasil caíram a taxas maiores do que a média global, indica um estudo divulgado nesta terça-feira (22). Além disso, o número de anos de vida salvos graças ao acesso a tratamento e prevenção ficou acima do registrado em países em desenvolvimento, segundo a pesquisa.

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De acordo com o relatório, publicado na revista científica The Lancet e divulgado na Conferência Internacional sobre Aids, que ocorre em Melbourne, na Austrália, as mortes em decorrrência do HIV no Brasil caíram a uma taxa anual de 2,3% entre 2000 e 2013, maior do que os 1,5% registrados globalmente. Nos casos de mortes por tuberculose, a taxa anual de queda foi de 4,5% desde 2000, acima da média global de 3,7%.

No cálculo dos anos de vida salvos graças ao acesso a terapia antirretroviral, programas para prevenir a transmissão do HIV de mãe para filho e a promoção do uso de camisinhas, o Brasil atinge um índice de 0,37, em uma escala que vai de 0,07, para países em pior situação, até 0,49, em países muito ricos.

"O desempenho do Brasil está acima do registrado em outros países em desenvolvimento, que foi de 0,28 a 0,35", disse à BBC Brasil um dos co-autores do estudo, Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário da USP.

De acordo com o estudo, entre 1990 e 2003, mais de 230 mil anos de vida foram salvos no Brasil graças ao acesso à prevenção e tratamento. De 2004 a 2008, foram mais de 450 mil anos. E de 2009 a 2013, quase 682 mil anos.

Em todo o mundo, foram 20 milhões de anos de vida salvos desde 1990, mas o autor principal do estudo, Christopher Murray, alerta que a qualidade dos programas de tratamento e prevenção do HIV e da Aids ainda tem grandes variações de acordo com a região do planeta e diz que ainda há muito a ser feito para avançar no combate à doença.

Objetivos do Milênio

O estudo foi conduzido por um grupo internacional de cientistas e coordenado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, nos EUA. Com a análise do Global Burden of Disease 2013 (Carga Global de Doenças) é possível verificar a incidência e mortalidade por HIV, tuberculose e malária em 188 países de 1990 a 2013.

Segundo os pesquisadores, o ritmo do declínio global no número de mortes e infecções das três doenças passou a ser mais forte a partir de 2000, com a adoção dos Objetivos do Milênio por governos ao redor do mundo. O objetivo número 6 é combater a propagação dessas doenças e garantir acesso universal ao tratamento. O prazo para o cumprimento dos objetivos vai até 2015.

"A única coisa que acho que o Brasil não irá cumprir é em relação à mortalidade materna", diz Lotufo. "(Dos outros Objetivos do Milênio) O Brasil está alcançando tudo. O que significa que está cumprindo com a obrigação. Nada mais que isso."

No Brasil, as mortes em decorrência do HIV caíram de um pico de mais de 17 mil em 1996 para pouco mais de 10 mil em 2013, sendo 7.912 mortes de homens e 2.305 de mulheres.

Globalmente, no pico da epidemia, em 2005, o HIV causou 1,7 milhão de mortes. A incidência global de HIV atingiu seu ponto mais alto em 1997, com 2,8 milhões de novas infecções. Desde então, vem declinando. Em 2013, foram 1,3 milhão de mortes e 1,8 milhão de novas infecções em todo o mundo.

"O que chamou mais a atenção no Brasil, que já começou com os dados da Unaids divulgados na semana passada, foi que a incidência da doença está estável", afirma Lotufo. "A mortalidade caiu bem, mas estamos temos uma situação de estabilidade em relação a novos casos."

Tuberculose e malária

Os cientistas concluíram que o sucesso no combate ao HIV também teve impacto positivo sobre a luta contra a tuberculose. Depois de aumentar globalmente a uma taxa anual de 0,4% entre 1990 e 2000, a incidência global da doença começou a cair a uma taxa de 1,3% até 2013.

A maior rapidez e eficácia no tratamento tem reduzido a duração de infecções por tuberculose globalmente. No entanto, os pesquisadores alertam que o envelhecimento da população levará a um número maior de casos e mortes.

No Brasil, 4.184 homens e 1.604 mulheres morreram vítimas da doença no ano passado. No caso da malária, de 2000 a 2013 o Brasil reduziu a taxa de mortalidade em uma média de 9,2% ao ano, com 71 mortes em 2013.

Em termos globais, a epidemia de malária teve seu pico no início dos anos 2000, com 232 milhões de casos em 2003 e 1,2 milhão de mortes em 2004. Em 2013, foram 164,9 milhões de casos e 854.566 mortes por malária no mundo.

Segundo outro co-autor do relatório, Alan Lopez, da Universidade de Melbourne, além de documentar o impressionante progresso no combate às três doenças, o estudo representa um alerta de que ainda há muito o que fazer. "HIV, tuberculose e malária ainda causam cada uma cerca de 1 milhão de mortes por ano no mundo", diz.

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