Dor no joelho é empecilho para emagrecer? Veja o que fazer
Com as dores dos joelhos, pacientes com obesidade não conseguem ter a ajuda da atividade física para perder peso
Quanto maior os adipócitos (células de gordura), maior a inflamação. Essa é uma frase que a endocrinologista Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e com cursos de Obesidade pela Harvard Medical School, costuma repetir aos pacientes.
“Essa inflamação acomete os órgãos como coração, rins e fígado, mas também é altamente danosa para as articulações. Por esse motivo, muitos pacientes portadores de obesidade sentem dificuldade em se movimentar adequadamente e, por isso, acreditam que não conseguirão emagrecer”, explica a endocrinologista.
Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), concorda: a obesidade e o sobrepeso são apontados como grandes causas do desgaste e degeneração das articulações, por causar um trauma repetitivo no joelho por conta da ‘sobrecarga’.
“Mas não é só essa explicação para a obesidade ser maléfica para as articulações: um estudo recente descobriu que ela muda o ambiente dentro das articulações das pessoas, promovendo condições pró-inflamatórias que pioram a artrite. Os pesquisadores descobriram que células específicas no tecido de revestimento articular (sinóvia) de pacientes com osteoartrite estão sendo alteradas devido a fatores associados à obesidade”, explica o ortopedista.
Doença afeta 1/4 da população no Brasil
A Organização Mundial da Saúde tem alertado que a prevalência de obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975. No Brasil, a doença crônica afeta quase 1/4 da população, mas o sobrepeso acomete quase seis em cada 10 brasileiros. “Isso significa predizer que teremos uma ‘epidemia’ ainda maior de artrose nos joelhos”, diz o médico.
A causa da dor nos joelhos por excesso de peso corporal é bem estabelecida na literatura científica.
“O tecido adiposo que foi metabolicamente alterado pela obesidade libera proteínas chamadas citocinas e adipocinas, que são conhecidas por promover a inflamação em todo o corpo. Esse estudo mostrou que a obesidade também altera o ambiente dentro da própria articulação, deixando as células na articulação vulneráveis a serem 'transformadas' naquelas que promovem a inflamação”, acrescenta o médico.
“Assim, a obesidade poderia promover o tipo de inflamação destrutiva nas articulações que vai muito além do esperado pelo desgaste, pois acontece mesmo em articulações que não suportam peso, como as mãos”, completa ele.
Mas afinal, como emagrecer nessas situações?
“Quando o sobrepeso inviabiliza o paciente a praticar atividade física no caso de grande sobrecarga osteoarticular, o tratamento do excesso de peso deve se iniciar com uma mudança alimentar, muitas vezes com ajuda de medicamentos. Uma dieta bem elaborada e a medicação podem, progressivamente, levar a uma perda de peso que melhorará a articulação e, em um estágio mais à frente, esse paciente poderá começar a praticar exercícios”, diz Deborah.
“O tratamento da obesidade fundamenta-se nas intervenções para modificação do estilo de vida, na orientação dietoterápica, no aumento da atividade física quando possível e em mudanças comportamentais. No entanto, o percentual de pacientes que não obtêm resultados satisfatórios com medidas conservadoras é alto”, explica Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Nesses casos, os medicamentos são indicados: “Eles podem facilitar a adoção dos novos hábitos alimentares e também são recomendados para os casos de muita dificuldade para controle da ingesta alimentar ou para tratar as queixas periféricas decorrentes do tratamento de emagrecimento”, acrescenta Marcella.
Segundo Deborah Beranger, o medicamento e as refeições equilibradas servem, nestes casos, para tirar o corpo do círculo vicioso. “A diminuição do peso terá como consequência o alívio da dor. Indicamos, em seguida, iniciar a prática de exercícios físicos, que podem ser de baixo impacto, como natação ou hidroginástica”, explica a endocrinologista.
É preciso sim incluir a atividade física
Segundo o Dr. Marcos, é importante a inclusão da atividade física, uma vez que a articulação foi desenvolvida para estar em movimento.
“Pessoas com sobrepeso ou obesidade podem se beneficiar de uma diminuição no peso corporal para prevenir ou retardar os defeitos estruturais na osteoartrite do joelho", explica.
A musculação pode vir depois, para fortalecer as articulações. “Os exercícios de força resistida, tipo musculação e os treinos funcionais, que aliam exercícios de força e aeróbicos, têm como objetivo aumentar ou preservar a massa muscular e deste modo manter a taxa metabólica basal e gasto energético dentro do esperado para a composição corporal. Deste modo melhoram o controle glicêmico e de outras alterações metabólicas como obesidade, dislipidemias, e hipertensão”, diz Marcella.
“Devemos primeiro ter como meta o controle ou adequação de peso, evitando o excesso de peso. E em segundo lugar a manutenção da massa magra ou musculatura que tem como efeito secundário a proteção das articulações. Assim, além dos exercícios físicos, devemos privilegiar a ingestão de proteínas e uma correta hidratação. Tudo isso será benéfico para os joelhos e saúde metabólica”, finaliza Marcos Cortelazo.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.