Einstein testa remédio para artrite para evitar tempestade inflamatória em pacientes com covid
Medicamento tem a capacidade de modular sistema imunológico; resultados devem ser divulgados até março
Grave complicação que pode ocorrer em pacientes com a covid-19, a tempestade de citocinas, reação exacerbada do sistema imunológico que pode afetar o funcionamento de órgãos vitais, é um dos eventos que agrava o estado do paciente, sendo capaz de levá-lo à morte. Para tentar evitar esse quadro de tempestade inflamatória, pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein estão realizando um estudo em pacientes leves a moderados que estão internados com um medicamento para artrite reumatoide que tem a capacidade de modular o sistema imunológico.
"É um imunomodulador para evitar a tempestade de citocinas. Ele inibe uma das vias mais importantes da imunomodulação que são conhecidas nas doenças, como a jak", afirma Otávio Berwanger, diretor da Academic Research Organization (ARO) do Einstein.
Eles vão analisar a evolução de 289 pacientes internados com sintomas como febre e pneumonia, mas que não necessitam de ventilação mecânica nem internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Algumas dessas pessoas pioram, evoluem para precisar de suporte intensivo e desenvolvem a tempestade de citocinas, uma resposta inflamatória muito intensa que começa a causar dano em muitos órgãos. Causa insuficiência respiratória, dano grave no pulmão, no coração, rins, falência múltipla dos órgãos. A gente quer pegar isso antes", explica Berwanger.
O medicamento utilizado é o Tofacitinibe, vendido pelo nome comercial Xeljanz, da farmacêutica Pfizer. "Resolvemos usar alguma medicação mais sofisticada para modular o sistema imunológico e evitar a exacerbação. É uma droga que teve muito sucesso em artrite reumatoide e colite ulcerativa, já tem eficácia comprovada e tem a vantagem de ser uma droga via oral, que pode ser controlada."
Embora seja uma medicação conhecida, Berwanger alerta que, mesmo que os resultados contra a tempestade de citocinas se comprovem, o medicamento não deve ser tomado em casa. "É um medicamento para ambiente hospitalar, onde a pessoa pode ser monitorada. Ela não é indicada para covid-19 e, se aprovada, será necessário prescrição médica, porque tem contra-indicações."
O estudo, que será duplo cego e controlado por placebo, está sendo feito em 24 centros em todo o País e com pacientes acima de 18 anos. Ele teve início em outubro e os últimos pacientes foram incluídos este mês. "É um estudo que a gente está motivado e tem muita esperança. Se a gente conseguir provar que consegue, vamos reduzir a mortalidade e a necessidade de suporte de oxigênio mais intenso para tratar as pessoas e fazer com que elas saiam bem e sem sequelas." Os pacientes serão acompanhados por 30 dias após a inclusão no estudo e os resultados devem ser publicados entre fevereiro e março.
O estudo Stop Covid é uma colaboração entre ARO Einstein e Pfizer, e inclui a participação da Coalizão Covid-19 Brasil, que, além do Einstein, reúne HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).