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Entenda como é produzida a vacina contra o H1N1

A Vacina Influenza Trivalente, ou Vacina da Gripe, tem origem francesa e age para a produção de anticorpos contra outros dois vírus, o H3N2 e o Influenza B

5 nov 2020 - 11h42
(atualizado às 12h02)
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O debate sobre as pesquisas para uma vacina contra a Covid-19 esquentou depois que o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou que não permitirá a compra da CoronaVac. O imbróglio se deu porque a vacina é desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e é testada no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo estadual de São Paulo. A fala do Presidente gerou questionamentos e argumentos de que a vacina desenvolvida para a prevenção ao H1N1, que é distribuída no Brasil, também utilizaria tecnologia da Sinovac. Essa informação, no entanto, é falsa.

A Vacina Influenza Trivalente, ou Vacina da Gripe, é usada não só para a prevenção contra o H1N1, mas também para outros dois tipos de vírus influenza, o H3N2 e o Influenza B, por isso o "Trivalente" no nome. A sua composição é revisada anualmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que publica duas vezes por ano recomendações sobre que tipos de amostras virais devem estar presentes no imunizante. Isso acontece, porque o influenza sofre mutações com relativa facilidade e devido à tendência de os casos de infecção aumentar durante o inverno, assim, a OMS publiciza no início do ano as orientações para os países do hemisfério norte e, na metade, para os países do hemisfério sul.

A origem tecnológica da vacina da gripe é francesa, mas atualmente as doses distribuídas para o SUS são produzidas, em sua maioria, pelo Instituto Butantan. Ricardo das Neves, Diretor de Produção do instituto, explica que as técnicas de produção também são diferentes. Enquanto no caso da CoronaVac, o vírus é replicado em células, na Influenza Trivalente esse processo é executado em ovos. Pode parecer estranho que o imunizante "venha do ovo", mas Neves explica que esse é um dos métodos mais antigos e seguros para o desenvolvimento de vacinas.

Como é produzida a vacina contra o H1N1

  • Replicação do vírus

    Primeiro os cientistas inoculam o H1N1 em ovos embrionados, ou seja, que estejam fecundados e comprados de granjas, que oferecem serviços especializados para esse tipo de trabalho. O ovo utilizado no processo não é o mesmo que é comercializado nos mercados. "É outra classificação de ovo, que tem um nível de limpeza e controle diferente daqueles que compramos para comer", explica Neves. Após a inoculação do vírus, os ovos são incubados para que ocorra a replicação viral.

  • Clarificação e purificação

    A segunda etapa consiste da coleta do líquido alantóico, um fluído que envolve o embrião presente no ovo e onde é encontrado os vírus. Esse composto, então, passa por um processo de centrifugação para que haja a sua decomposição e seja possível a clarificação e purificação do líquido. É essa técnica que garante que não vá para as vacinas resquícios de clara, gema ou qualquer tipo de impureza.

  • Inativação e fragmentação

    Em seguida, os vírus são inativados e fragmentados quimicamente. Isso é o que garante que ele não vá ativo para o produto final e, logo, impede que ele se replique no corpo humano e provoque a doença. É nessa fase também que é feita a filtração esterilizante e, por fim, seja encaminhado para o controle de qualidade.

  • Reunião de amostras

    Como a Vacina Influenza Trivalente é composta por três amostras diferentes, esses processos são repetidos para cada espécie de vírus. Somente quando se inicia a produção da terceira amostra é que os farmacêuticos começam a reunir todas elas em um mesmo líquido e, posteriormente, são envasados nos frasquinhos enviados para o SUS.

Tempo de produção

Um lote de produção monovalente, ou seja, que contém apenas um vírus inativado, demora cerca de 11 dias para ficar pronta. O processo completo -- que abarca o início da formulação da composição da vacina, aprovação pelo setor de qualidade e envio para a realização da campanha de vacinação -- leva aproximadamente sete meses.

Efeitos colaterais

De acordo com Ricardo Neves, os efeitos colaterais são poucos e se caracterizam por sintomas como dor na região de aplicação da vacina e febre baixa. Recomenda-se que pessoas alérgicas a ovo não tomem o imunizante sem prescrição médica, uma vez que pode haver resquícios de substâncias químicas da matéria-prima no produto final.

Para o restante da população, não é necessária recomendação médica, mas, por outro lado, não basta que se compareça no posto de saúde para garantir a imunização. Ele explica que, normalmente, a aplicação da vacina contra a gripe ocorre apenas no período da campanha de vacinação e para grupos específicos como idosos, gestantes, crianças, indígenas e profissionais da saúde e educação.

Caso alguém apresente alguma reação inesperada após tomar a vacina, o Instituto Butantan oferece um SAC, que recebe as informações sobre os efeitos adversos.

Estadão
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