Entenda os riscos do uso prolongado de esteroides e anabolizantes
Decisão do CFM atende pedido de entidades médicas preocupadas com os riscos que essas substâncias oferecem à saúde
A prescrição de anabolizantes, tipo de hormônio sintético fabricado a partir da testosterona, e de esteroides androgênicos, caracterizados como um hormônio anabólico, foi proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) nesta terça-feira (11). A decisão atende a um pleito de sociedades médicas que, preocupadas com os riscos que o uso prolongado dessas substâncias pode fazer aos indivíduos, clamam por regulamentação.
"Os sócios especialistas e associados de nossas sociedades estão vivenciando, no seu cotidiano, um número crescente de complicações advindas do uso indevido de hormônios. Paralelamente, é crescente e preocupante a disseminação de postagens, em redes sociais, fazendo apologia ao seu uso, transmitindo uma falsa expertise e segurança na sua prescrição, colocando em risco a saúde da população", denunciam as sociedades brasileiras de Cardiologia (SBC), de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e de Urologia (SBU) e as federações brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Gastroenterologia (FBG).
Como frisam as entidades, o uso off-label dos anabolizantes com fins estéticos e de performance pode vir a representar um grave problema de saúde pública. Por isso, criticam médicos que optam "por atuar em áreas com denominações que têm muito marketing, ao invés de ciência, além de não reconhecidas por nenhuma entidade médica (e em nenhum país do mundo), como 'antienvelhecimento' ('anti-aging'), 'medicina integrativa', 'performance' e 'modulação hormonal'".
Quais os danos provocados à saúde?
O nutricionista Felipe França explica que o uso prolongado e não monitorado de anabolizantes e esteroides pode provocar danos graves ao corpo todo, mas principalmente ao coração e ao fígado, esse último o órgão responsável pelo metabolismo e pela eliminação de substâncias químicas do organismo.
"Quando uma pessoa usa essas substâncias, o fígado é obrigado a trabalhar mais. O processo metabólico envolvendo tais substâncias pode causar estresse oxidativo, um processo que ocorre quando as células produzem moléculas instáveis chamadas radicais livres. Esses radicais livres podem causar danos às células e tecidos, levando à inflamação, envelhecimento precoce e doenças crônicas", explica França, especialista em Oxidologia e Bioquímica celular.
Outro problema que ele identifica é o fato de que alguns esteroides e anabolizantes são hepatotóxicos. Ou seja, podem danificar diretamente as células hepáticas do fígado.
Considera-se ainda o risco aumentado de problemas cardíacos porque essas substâncias podem aumentar a pressão arterial e provocam mudanças nos níveis de colesterol. Além disso, França acredita que pessoas que fazem uso de esteroides costumam não abrir mão de hábitos antigos, como beber e fumar. A consequência é ter as células debilitadas.
Hiperatividade, TDAH e Depressão
É importante destacar ainda o grande risco para pessoas com transtornos de humor, como hiperatividade, TDAH ou depressão. Seu uso pode acarretar aumento de episódios de manias, piora do quadro de depressão e alterações de humor e aumento da agressividade”, acrescenta Renata Brasil, nutricionista esportiva.
Com todas essas observações, não é difícil entender porque os anabolizantes não são indicados para todo mundo. Como reforça a especialista, é essencial entender o objetivo buscado com cada substância e ter indicação médica para usá-la, mas não indiscriminadamente a fim de obter melhores performances de treino e mudanças estéticas.
Para que servem os esteroides e os anabolizantes, afinal?
Os esteroides anabolizantes são usados para o tratamento de problemas como queimaduras extensas, grandes cirurgias, desnutrição e atrofias musculares. Já os anabolizantes costumam ser prescritos em casos de osteoporose, anemia aplásica, anemia decorrente de insuficiência renal crônica e até câncer.