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Epidemiologista desligado da Saúde cita "pedra no caminho"

Wanderson Oliveira afirmou que Brasil estava à frente de outros países e ampliava a capacidade de atendimentos e diagnóstico

27 mai 2020 - 16h10
(atualizado às 16h20)
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O enfermeiro e epidemiologista Wanderson Oliveira despediu-se do Ministério da Saúde com recados à interferência do Palácio do Planalto sobre a estratégia da pasta de enfrentamento da covid-19. Em publicação divulgada a colegas na noite de terça-feira, 26, Oliveira afirma que o Brasil estava à frente de outros países e ampliava a capacidade de atendimentos e diagnóstico. No entanto, "no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho", escreveu, reproduzindo trecho de poema de Carlos Drummond de Andrade.
Wanderson Oliveira
08/04/2020
REUTERS/Adriano Machado
Wanderson Oliveira 08/04/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Oliveira foi exonerado do cargo de secretário de Vigilância em Saúde na segunda-feira, 25. Ele já havia entregado carta de demissão do governo durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta (DEM), mas acabou permanecendo na pasta a pedido de ministros da ala militar. Tido como um dos principais formuladores da estratégia inicial de enfrentamento da covid-19, Oliveira é servidor do Hospital das Forças Armadas (HFA) e referência em estudos sobre saúde pública.

O epidemiologista não nominou a "pedra" que atravessou o seu caminho na pasta, mas sinalizou na mensagem de despedida que o trabalho que estava em curso foi interrompido. Mesmo o ex-ministro Nelson Teich, segundo o epidemiologista, "seguiria pelo mesmo caminho", mas também foi atrapalhado.

"Pelo bem de minha saúde e de minha família, era hora de deixar o caminho livre para novas ideias, novas pessoas e novas estratégias", afirmou.

O epidemiologista teve diversas passagens pelo Ministério da Saúde desde 2001. Além dele, outros técnicos com mais de uma década de experiência na Saúde deixaram a pasta após a exoneração de Mandetta. O médico Julio Croda era parte da equipe de Oliveira e demitiu-se ainda em março. Ele afirmou ao Estadão que "não quis ser responsável" por orientação "equivocada" contrária ao o isolamento social e por óbitos.

Na leitura de técnicos do ministério, o presidente Jair Bolsonaro incomodou-se com o protagonismo que a Saúde recebeu no começo da pandemia. O mandatário também se opôs publicamente a recomendações de distanciamento social e passou a estimular aglomerações, ao participar de manifestações pró-governo.

Ainda na gestão Mandetta, a pasta chegou a recuar, por pressão do governo, de orientações como de "auto-isolamento" para pessoas que retornavam de viagem internacional. Mais recentemente, na gestão interina de Eduardo Pazuello, o ministério mudou radicalmente de discurso e publicou orientação para uso precoce da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra o vírus.

"Estávamos à frente pelo menos duas semanas em relação aos demais países da Europa e Américas, ampliando a capacidade laboratorial, leitos, EPIs e Respiradores. No entanto, como dizia o poeta e conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, 'no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho"', afirmou Oliveira ao despedir-se.

"Sobre a resposta à pandemia da covid-19, seria muito bom conhecer o contexto de cada decisão que foi tomada, pois nem tudo que se vê é o que parece, nem tudo que parece é o que realmente é. Há muita história em cada decisão que deve ser contextualizada ao seu tempo", completou o epidemiologista.

Estadão
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