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Falta de imunização a domicílio prejudica idosos acamados

Embora a campanha tenha começado no dia 5 de fevereiro para maiores de 90 anos, UBS em Santana informou que não havia previsão de quando imunização em casa teria início. Parentes carregaram mulheres até o local

16 fev 2021 - 10h10
(atualizado às 10h22)
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Com problemas de mobilidade e idade avançada, as irmãs Silvia e Thaís Nogueira Fortes, de 97 e 92 anos, preenchem os requisitos para ter direito à vacinação em casa, mas tiveram o serviço negado pela equipe do posto de saúde da região e enfrentaram uma saga para conseguir a imunização contra a covid-19.

Agente de saúde prepara vacina contra Covid-19 em localidade do Amazonas
REUTERS/Bruno Kelly
Agente de saúde prepara vacina contra Covid-19 em localidade do Amazonas REUTERS/Bruno Kelly
Foto: Reuters

Familiares das idosas tiveram que carregar Silvia em sua cadeira de rodas para descer as escadas do prédio onde ela mora com a irmã, na Parada Inglesa, zona norte de São Paulo, e contratar um táxi acessível para que ela pudesse chegar ao posto. Uma filha e uma cuidadora a acompanharam no veículo. Silvia tem sequelas de um AVC e de múltiplas quedas e não anda.

Thaís ainda consegue caminhar com ajuda, mas está muito debilitada e precisou do suporte de outra filha e do genro no trajeto.

Embora a campanha de vacinação tenha começado no dia 5 de fevereiro para maiores de 90 anos na cidade e contemple imunização domiciliar no caso de idosos acamados, a família das idosas foi informada por profissionais da UBS Joaquim Antônio Eirado, em Santana, posto de referência da região onde elas moram, que não havia previsão de quando a vacinação em casa teria início. Os familiares foram orientados a voltar a procurar o posto em março.

"A gente foi pessoalmente nos postos buscar informação logo que começou a vacinação. Falaram que não sabiam quando ia começar e que era para a gente ficar de olho, ficar ligando ou indo lá para saber. Disseram que era melhor voltar só no mês que vem", conta a arquiteta Bluette Fortes, de 71 anos, filha de Silvia. "Procuramos também informações na internet e não tinha nada. A gente via na TV gente sendo vacinada em casa e não entendia por que não tínhamos acesso. Elas são até cadastradas naquele posto porque retiramos fraldas para elas lá. A gente ficou sem chão", completa ela.

O Estadão entrou em contato com o posto e recebeu a mesma informação. A funcionária explicou que a unidade tem apenas uma equipe de vacinação, que está trabalhando na imunização presencial e que, portanto, não poderia sair para vacinações domiciliares. A reportagem também foi orientada a ligar de volta em março.

Após a recusa da UBS Joaquim Antônio Eirado, as filhas de Silvia procuraram outros dois postos de saúde da região para saber se havia como agendar a vacinação domiciliar em outras unidades, mas foram informadas de que somente o posto de referência do domicílio poderia fazer esse tipo de ação. A equipe de uma das unidades, porém, informou que, se as idosas fossem pessoalmente ao drive thru do posto, poderiam receber a vacina mesmo não sendo cadastradas no local.

Foi então que a família montou a operação para levá-las à UBS Isolina Mazzei na última quarta-feira, 10. "Elas moram no primeiro andar acima do térreo de um prédio sem escadas. Isso dificulta ainda mais tirá-las de casa, mas queríamos vacinar logo. Ficamos com medo de acabar as doses. Pedimos ajuda para um sobrinho para carregar minha mãe nas escadas", conta Bluette.

Embora as idosas estejam isoladas desde o início da pandemia, as filhas queriam vaciná-las o quanto antes por causa do risco de contato com pessoas que frequentam a casa delas para os cuidados diários. Com os problemas de mobilidade, elas precisam de cuidadoras e das filhas diariamente. Com a ajuda de cinco familiares, uma cuidadora e o motorista do táxi acessível, as idosas puderam ser vacinadas.

O caso demonstra a falta de padronização para a vacinação de idosos acamados em São Paulo. A reportagem entrou em contato com várias unidades na última quarta-feira, 10, e recebeu informações divergentes. Em algumas delas, a vacinação domiciliar já havia começado. Em outras, não havia nem previsão para início.

Na UBS Lauzane Paulista, também na zona norte, a vacinação ainda não havia sido iniciada porque era preciso formar uma lista maior de idosos interessados para que a equipe saísse às ruas de uma vez só. Na ocasião, havia só três pacientes inscritos.

Na UBS Mooca, zona leste, região central, a atendente informou que todos os idosos acima de 90 anos acamados já haviam sido vacinados. Já na UBS Vila Ipojuca, na zona oeste, somente os idosos previamente cadastrados no posto estavam sendo imunizados e, após o término dessa etapa, seria feita a vacinação dos demais.

Questionada sobre o caso da UBS Joaquim Antônio Eirado e sobre a falta de padronização nas ações de cada posto de saúde para idosos acamados, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que "todos os equipamentos recebem as mesmas orientações quanto ao protocolo a ser seguido" para a vacinação de usuários acamados. "A orientação é que a UBS registre a solicitação e realize o agendamento com a família para aplicação da vacina". Os familiares, disse a pasta, devem fazer o contato presencial ou por telefone com a UBS de referência da região e solicitar o atendimento.

A secretaria informou que a UBS Joaquim Antonio Eirado começou a vacinar idosos acamados na quarta-feira, embora a reportagem tenha entrado em contato com o posto na tarde daquele mesmo dia e tenha sido informada de que não havia previsão para o início da ação.

A família de Silvia e Thais espera agora conseguir que a segunda dose do imunizante seja aplicada em casa.

Estadão
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