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Fiocruz alerta para meningite transmitida por caramujo após RJ registrar morte

Caso é o primeiro do Estado em dez anos; em todo o Brasil, infecções são registradas desde 2006

3 jul 2024 - 18h29
(atualizado às 19h15)
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Após a morte de um paciente por meningite transmitida por caramujos no Estado do Rio de Janeiro, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu um alerta para possíveis novas ocorrências da doença. A instituição soou o alarme no final de junho, depois de análises laboratoriais identificarem a presença do verme causador da doença em um caramujo da região onde a morte foi registrada. Desde então, novos moluscos infectados já foram encontrados pela instituição.

Caramujos do gênero Pomacea analisados no Laboratório de Malacologia do IOC/Fiocruz
Caramujos do gênero Pomacea analisados no Laboratório de Malacologia do IOC/Fiocruz
Foto: Josué Damacena/Divulgação Fiocruz / Estadão

Este é o primeiro caso registrado de meningite transmitida por caramujo no Estado do Rio de Janeiro desde 2014. No Brasil, casos semelhantes ocorrem desde 2006.

A doença, chamada meningite eosinofílica, é caracterizada pela inflação das meninges, membranas que revestem o encéfalo, no cérebro, e a medula espinhal. A infecção nos seres humanos acontece quando as pessoas ingerem um caramujo infectado ou o muco liberado por ele, contendo as larvas do verme.

As análises começaram em maio, após solicitação da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, município carioca onde ocorreu o caso. Junto a agentes da Vigilância Ambiental em Saúde (Suvam) da região, os pesquisadores da Fiocruz foram até a região realizar a coleta de caramujos em diferentes pontos do bairro em que a vítima contraiu a doença. Segundo relatos médicos, ela teria ingerido um caramujo de água doce cru.

Foram analisados 22 moluscos. Entre eles, um da espécie Pomacea maculata, popularmente conhecido como lolô ou Aruá, testou positivo para a presença do verme Angiostrongylus cantonensis, causador da doença.

A pesquisadora Silvana Thiengo, chefe do Laboratório de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), responsável pelo estudo, explica que a instituição realiza investigações contínuas e segue encontrando novos caramujos infectados em outros bairros de Nova Iguaçu.

Os pesquisadores do IOC coletaram também dados de animais como ratos, preás e gambás na região onde houve o caso para confirmar a infecção desses mamíferos. As análises estão em andamento.

Além do Rio, estudos realizados pelo Serviço de Referência para Esquistossomose-Malacologia da Fiocruz entre 2008 e 2021 detectaram o verme causador da doença em outros 13 estados brasileiros. São eles: Amazonas, Amapá, Pará, Tocantins, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Santa Catarina.

Para Silvana Thiengo, chefe do Laboratório de Malacologia do IOC/Fiocruz, o cenário destaca a importância de os serviços de saúde estarem alertas para o diagnóstico da doença, bem como a população estar atenta ao risco causado por esses animais. "É um alerta, mas sem alarmar. Uma informação. As pessoas precisam ter cuidado com o manuseio dos moluscos, tanto de água doce quanto terrestres, para evitar a infecção", afirma.

Como acontece a transmissão?

Em seu ciclo de vida, o verme busca hospedeiros como roedores, que servem para desenvolvimento do parasita adulto. No organismo desses animais, como os ratos urbanos, eles se reproduzem e geram larvas (formas jovens do verme) que são eliminadas pelas fezes dos mamíferos. Essas larvas, por sua vez, acabam sendo ingeridas pelos caramujos. Dentro dos moluscos, os vermes adquirem a forma capaz de infectar animais vertebrados.

Por fim, nos humanos, a meningite eosinofílica se inicia com a ingestão acidental dos caramujos ou lesmas infectados, ou pelo contato com o muco desses moluscos, contendo a larva dos vermes. Uma vez que ele chega na corrente sanguínea, o parasita pode alcançar as meninges, onde morre e causa a inflamação.

A transmissão também pode acontecer ao comer alimentos, principalmente moluscos, caranguejos, rãs e camarões, que se alimentam dessas lesmas e caracóis ou, ainda, verduras, legumes e frutas mal-lavados, permitindo que paciente se infecte.

Além do Aruá, a doença pode ser transmitida por diferentes espécies de caramujos, como o caramujo gigante africano, um animal mais comumente encontrado.

Sintomas

Alguns sintomas típicos de meningite, como a rigidez da nuca e a febre, são mais raras na doença transmitida por caramujos. O seu sintoma mais comum é a dor de cabeça forte e frequente. Além disso, os pacientes apresentam distúrbios visuais, enjoo, vômito e sensação de formigamento ou dormência.

Na maioria dos casos, a pessoa se cura espontaneamente. Mesmo assim, o acompanhamento médico é importante porque alguns indivíduos desenvolvem quadros graves, que podem levar à morte.

O tratamento busca reduzir a inflamação no sistema nervoso central e aliviar a dor, além de evitar complicações.

Cuidados

Silvana Thiengo indica algumas ações para evitar a contaminação: ao manusear moluscos, usar luvas ou saco plástico; ter atenção às crianças, pois eles podem levá-los à boca e se infectar; e higienizar bem as verduras. Ela indica que o alface, por exemplo, "deve ser bem lavado e deixado de molho em uma solução de um litro de água para uma colher de sopa de água sanitária por 20 minutos antes de consumir, para matar as larvas do verme", ensina.

Outra dica importante é evitar o consumo de moluscos crus ou mal cozidos. Ainda, para eliminar os caramujos, caso eles aparecem na sua casa, colete-os manualmente e os coloque em água fervente por cinco minutos. Em seguida, as conchas devem ser quebradas e descartadas para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.

As autoridades de saúde também recomendam submergir os moluscos em uma solução de água sanitária por 24 horas, se a fervura não for possível.

A Fiocruz reforça a importância do trabalho dos agentes de vigilância municipais em mapear os riscos de infecção por meio da coleta periódica de moluscos e envio para análise parasitológica pelo Serviço de Referência do IOC/Fiocruz. Nova Iguaçu, por exemplo, é uma das cidades que realiza essa vigilância frequentemente. /COM AGÊNCIA BRASIL

Estadão
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