‘Fiquei 10 anos mais nova’, diz idosa que fez 1ª cirurgia acordada para aneurisma em MG
Anísia Ornelas, de 70 anos, não apresentava sintomas quando descobriu 3 aneurismas cerebrais por meio de um exame de ressonância magnética
Setembro é o mês de conscientização sobre o aneurisma cerebral, uma doença silenciosa que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode acometer até 2% da população, estando entre as doenças que mais resultam em óbitos no mundo.
Foi o caso da dona de casa Anísia Ornelas Fernandes, de 70 anos, que não apresentava sintomas quando descobriu três aneurismas cerebrais por meio de um exame de ressonância magnética. Ela foi a primeira paciente a realizar a cirurgia acordada para a doença em Minas Gerais.
A decisão de realizar o procedimento com Anísia acordada foi motivada por fatores importantes. A localização do aneurisma era bastante delicada, em uma região onde a obstrução da circulação pode levar a déficits incapacitantes como alterações na linguagem ou perda de movimentação em um lado do corpo.
O médico neurocirurgião Felipe Mendes, responsável pela cirurgia, conta que o caso de Anísia proporcionou a vantagem de ajustar o procedimento de forma segura, enquanto ela fornecia um retorno sobre suas funções cognitivas e motoras.
“Em comparação com a cirurgia tradicional, essa abordagem diminui o risco de sequelas, proporcionando uma recuperação mais rápida e eficaz, garantindo uma melhor qualidade de vida”, explica o profissional ao Terra Você.
Por outro lado, Anísia lembra do medo que sentiu ao receber o diagnóstico. Sem sintomas comuns ao aneurisma cerebral - como dor de cabeça intensa e súbita, náuseas, vômitos, rigidez no pescoço, alterações na visão, na fala, na sensibilidade - ela não esperava o resultado temeroso dos exames.
“[Foi] Um pouco assustador, pois já tinha visto casos de pessoas terem passado pelo diagnóstico, e não terem a mesma sorte que eu”, lembra em relato exclusivo ao Terra Você.
Do ponto de vista técnico, o médico conta que o principal desafio foi garantir a precisão cirúrgica em um ambiente de extrema sensibilidade, considerando que a paciente estava consciente durante parte do procedimento. Uma coordenação cuidadosa entre o neurocirurgião, o anestesista e a equipe de monitoramento neurológico foi essencial.
“Para a paciente, não é algo trivial. Permanecer acordada durante o procedimento com o cérebro exposto, com presença de eletrodos de monitorização, posicionada em uma mesa cirúrgica não é simples. Isso pode gerar muita ansiedade e apreensão. Por isso, todos os detalhes e etapas são exaustivamente explicados para garantir a adequada seleção e preparação para a cirurgia”, reforça o especialista.
No caso de Anísia, a avaliação envolveu uma análise criteriosa de seu estado de saúde geral, idade e localização dos aneurismas. Como o aneurisma tratado estava próximo a áreas do cérebro envolvidas em funções críticas, o método com a paciente acordada foi considerado mais seguro para monitorar essas funções durante a cirurgia.
Quando soube que sua cirurgia seria realizada com ela acordada e que seria a primeira pessoa no estado a participar da técnica, a ansiedade tomou conta de Anísia.
“Primeiro, pensei em desistir, tive medo, mas ouvindo várias pessoas e familiares, vi que seria a melhor forma de não haver sequelas”, relembra Anísia.
Ela conta que precisou manter sua espiritualidade em alta e confiou na equipe de neurocirurgiões, sentindo-se confiante para tolerar todos os passos da cirurgia.
“[O procedimento] Foi incrível, pois estava ouvindo no momento, achei um máximo! A recuperação foi ótima, bem tranquila. Em nenhum momento pensei que poderia dar errado, pois estava bem confiante”, afirma a mineira.
O acompanhamento pós-operatório de Anísia foi realizado de forma rigorosa, com monitoramento contínuo na UTI para observar qualquer alteração neurológica.
O médico conta que durante esse período, ela não apresentou sequelas e conseguiu receber alta hospitalar após alguns dias. Durante esse processo, ela apresentou uma crise convulsiva que foi controlada com medicamentos.
Nas avaliações subsequentes, Anísia continuou bem e os exames de imagem indicaram uma boa evolução no tratamento do aneurisma.
“Estou cada dia melhor, pois parece que fiquei uns 10 anos mais nova, e tenho cuidado bem da saúde”, celebra a dona de casa.
Com base na experiência bem-sucedida de Anísia, o neurocirurgião acredita que o procedimento de aneurisma com o paciente acordado se tornará mais comum, principalmente em casos onde o aneurisma está próximo a áreas eloquentes do cérebro.
Mendes observa que com os avanços contínuos na neurocirurgia e na tecnologia médica, é provável que esse método seja adotado de forma cada vez mais ampla, principalmente em centros especializados.
“A técnica oferece maior precisão e segurança. O feedback em tempo real permite intervenções mais personalizadas e menos invasivas”.