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Fungo Fusarium: entenda a infecção que deixou 7 pessoas cegas após cirurgias de catarata no Amapá

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, 104 dos 141 pacientes submetidos ao procedimento durante um mutirão apresentaram algum tipo de complicação associado ao micro-organismo

3 nov 2023 - 16h42
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A fusariose é uma doença infecciosa provocada por fungos oportunistas do gênero Fusarium, que vivem em todo o ambiente, sendo encontrados no ar, na água, no solo, nas plantas e nos substratos orgânicos. Recentemente, pelo menos sete pessoas ficaram cegas após participarem de um mutirão de cirurgias de catarata realizado pelo Programa Mais Visão, em Macapá, capital do Amapá, em razão de contaminação por esse tipo de micro-organismo.

Conforme o Ministério da Saúde, esses fungos estão presentes no ambiente na forma de esporos, de saprófitas do solo e em patógenos comuns de plantas e cereais. "Os fungos do gênero Fusarium têm sido relacionados a infecções localizadas ou invasivas em pacientes imunocomprometidos, sobretudo naqueles portadores de neoplasias hematológicas ou submetidos ao transplante de medula óssea, bem como em pessoas imunocompetentes."

Há mais de 200 espécies desse fungo. As regiões tropicais e subtropicais são consideradas as que apresentam condições climáticas propícias para o seu desenvolvimento, de acordo com o ministério. A fusariose é a terceira infecção mais comum causada por fungos.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Amapá (Sesa), do total de 141 pessoas atendidas, 104 foram contaminadas pelo fungo Fusarium, que provocou um quadro de endoftalmite, um tipo raro de infecção caracterizada pela ação de micro-organismos que penetram na parte interna do olho, como tecidos, fluídos e estrutura. Dentre os pacientes com complicações, sete deles precisaram passar por evisceração, quando o globo ocular é removido do crânio.

Formas de transmissão do fungo

A inalação de esporos fúngicos presentes no ambiente ou inoculação direta do fungo na pele (em ferida cirúrgica, queimaduras, úlceras profundas ecelulite facial, por exemplo) são as principais formas de contaminação pelo Fusarium spp., de acordo com o ministério.

"Os locais mais comuns de entrada do fungo no organismo são os seios paranasais, os pulmões e a pele". Além da endoftalmite, que acometeu os pacientes no Amapá, a pasta informa que o micro-organismo pode causar lesões cutâneas, ceratite, sinusite, otite, abcesso cerebral, infecção de corrente sanguínea, artrite, onicomicose, peritonite, pneumonia e osteomielite.

Ainda não se sabe como o fungo chegou às salas de cirurgia do programa Mais Visão.

Como é feito o diagnóstico do fungo?

Segundo o Ministério da Saúde, o diagnóstico é clínico e laboratorial. A confirmação laboratorial baseia-se no exame micológico direto e cultura das amostras clínicas, que podem ser sangue, secreção, aspirado de lavado brônquico alveolar, biópsia de tecido, raspado da córnea, swab nasal, entre outras.

O tratamento

Conforme a pasta, os antifúngicos utilizados na maioria das infecções causadas por Fusarium spp. são voriconazol, posaconazol, natamicina e anfotericina B.

No caso do Amapá, que provocou um quadro de endoftalmite, o tratamento também pode envolver a aplicação de injeção de antibióticos dentro do olho ou a realização de cirurgias. Cada caso deve ser tratado individualmente pelo médico profissional.

As medidas de prevenção

A principal forma de prevenção e controle a ser tomada é adotar hábitos de higiene para evitar a exposição direta ao fungo.

"Recomenda-se a lavagem das mãos dos profissionais de saúde que manejam os pacientes, especialmente aqueles em isolamento, e o monitoramento constante da qualidade do ar e da água para reduzir o número de infecções oportunistas no ambiente hospitalar", orienta o ministério.

O Programa Mais Visão

O mutirão realizado em 4 de setembro deste ano faz parte do Programa Mais Visão, que recebe emenda parlamentar, e é realizado por uma empresa contratada para a prestação do serviço por meio de convênio entre o Estado e o Centro de Promoção Humana Frei Daniel de Samarate (Capuchinhos).

"O Estado entende que a trajetória do Mais Visão ajudou milhares de pessoas com casos bem-sucedidos e com inúmeros relatos de retorno total da visão. Ainda assim, diante do ocorrido, os Capuchinhos paralisaram os atendimentos imediatamente após os primeiros relatos de infecção e, no dia 6 de outubro, o programa foi suspenso."

O caso continua em investigação pela Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá para tentar entender como o fungo chegou ao local das cirurgias. O Ministério Público do Amapá também está investigando a ocorrência. Ainda na semana passada, ouviu representantes das entidades envolvidas no mutirão.

"O Governo do Amapá se solidariza com os pacientes que tiveram as córneas afetadas por uma infecção que ocorreu após as cirurgias de catarata realizadas, em setembro, durante o Programa Mais Visão. Assim que foi notificada sobre o problema pela empresa, a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) iniciou uma investigação para identificar o que motivou as infecções", afirmou a secretaria.

O suporte dado às famílias pela empresa responsável pelos procedimentos também é acompanhado de perto pelo Governo do Estado. Os pacientes estão recebendo serviços médicos 24h, medicação, transporte, apoio com deslocamento a outros Estados e atendimento psicológico.

Histórico

De acordo com os Capuchinhos, desde 2020, quando teve início no Amapá, a iniciativa já realizou mais de 100 mil atendimentos, sendo a maior demanda por cirurgias de catarata, com mais de 50 mil procedimentos. "Foram beneficiados principalmente idosos, pessoas de baixa renda e povos indígenas, como as aldeias Kumenê e Manga, no município de Oiapoque. O programa também trouxe novidades para a rede pública, como a cirurgia de pterígio e o YAG laser, que é a limpeza da lente das pessoas que passaram pela cirurgia de catarata", disse a secretaria.

A Secretaria de Estado da Saúde repassa os recursos federais para a entidade, que por sua vez, contrata uma empresa terceirizada responsável pelos procedimentos aos pacientes. O último repasse feito pelo convênio foi em setembro.

Estadão
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