Gabriela Loran: o controle da compulsão alimentar na perda de 25kg
A atriz fala à Boa Forma sobre sua saúde e como ela é essencial na construção da autoestima
A atriz Gabriela Loran é uma dessas pessoas que, ao seguirmos nas redes sociais, nos parecem super alegres e "de bem com a vida".
Engraçada e belíssima, a atriz cresceu no Instagram mostrando sua personalidade e também atuando na Globo, como na novela Cara e Coragem e na série Arcanjo Renegado.
Mas, por trás dessa persona otimista, mora também alguém forte -- Gabi é uma voz alta e ativa sobre a visibilidade de pessoas trans, como ela -- porém frágil ao mesmo tempo, que sofreu com bastante ansiedade e uma compulsão alimentar grave.
Com a condição sob controle -- com ajuda psíquica e mental -- e 25kg a menos, Gabriela fala à Boa Forma sobre sua saúde e como ela é essencial na construção da autoestima.
Confira a entrevista exclusiva:
1) Você já contou que tinha uma compulsão alimentar, condição que frequentemente vem da ansiedade. De onde vinha isso para você?
Vem da internet. Eu cresci muito na internet durante a pandemia. Foi quando eu comecei a me popularizar, efetivamente, comecei a postar com muita frequência e a internet deixou de ser um hobby para virar um trabalho. E nesse sentido, eu comecei a criar ansiedades em relação aos conteúdos que eu produzia, até mesmo em relação às opiniões da internet, os ataques que eu recebia…
Eu via no alimento a forma de compensar e tirar um pouco do peso das coisas que eu sentia. Eu comecei a direcionar aquela ansiedade que eu sentia em relação a conteúdo, em relação aos ataques, em relação ao julgamento do tribunal da internet, para a comida. Isso foi muito muito sutil.
E, ao mesmo tempo em que eu cresci na internet, comecei a receber também muitas parcerias de restaurantes. Comecei a receber comida em casa, então esses dois comportamentos foram se atrelando: o medo e a ansiedade com a internet + a possibilidade de ganhar comida por meio de parcerias com restaurantes.
2) Como você conseguiu superar a compulsão?
Eu consegui superar a compulsão por meio de uma reeducação psíquica e mental, além também da consciência alimentar.
Antigamente, eu comia três hambúrgueres e não me sentia saciada, eu me sentia cheia, mas sentia necessidade de comer mais. E eu comecei a entender isso. Foi um trabalho de reeducação mental mesmo, de reprogramação cerebral quase.
Ao mesmo tempo, comecei a fazer personal três vezes na semana, a me exercitar mais e a mudar minha rotina.
Eu falo que eu não fiz dieta e eu não fiz mesmo. O que eu tive foi uma nova consciência daquilo que eu estava comendo porque como eu sou taurina, eu sinto que comer é um dos meus maiores privilégios e eu jamais deixei de comer as coisas que eu gosto por conta dessa pressão. Então reaprendi a comer, né?
3) A prática de exercícios físicos é algo que você sempre teve ou teve que "se forçar"?
Eu sempre gostei de pedalar, eu sempre gostei de caminhar, eu sempre gostei de estar na natureza e sempre gostei de meditar. Agora, a academia, eu tive que me forçar porque sempre foi um meio tóxico para mim, pela pressão estética que tem dentro desse ambiente, sabe?
Então, sempre tive receio de estar na academia por achar que meu corpo não estava dentro dos padrões para ir à academia. Eu tive que me forçar no início, até entender a real importância disso. Mas exercício físico eu sempre fiz sem rotina. Sempre gostei de dançar, de caminhar, de pedalar etc.
4) Você se sente bonita?
Quando você é uma pessoa trans, a autoestima é construída diariamente. Porque ela é atacada diariamente também.
Então, hoje eu posso dizer que estou na minha melhor fase em relação à minha beleza e a como eu me sinto comigo.
Inclusive, fiz até um post recente no Instagram falando sobre a minha beleza, falando que hoje eu realmente me acho bonita para caralho, mas nem sempre foi assim, né? Por conta de várias pressões estéticas e padrões, mas hoje eu me sinto bem e tenho trabalhado muito bem isso.
Hoje eu costumo dizer que minha autoestima não oscila, ela está linear.
5) Como uma mulher trans você sente que essa pressão por uma "aparência ideal" é ainda mais forte?
Talvez sim, porque a gente sabe que preconceito é uma questão muito latente em relação aos corpos das pessoas trans e pessoas trans estão na base da pirâmide quando o assunto é ódio.
Nós vivemos no país que mais mata pessoas trans no mundo, mas que também mais acessa conteúdo pornográfico trans, então, existe aí uma pressão não só estética, mas também de existência mesmo.
6) Quem você diria que é hoje um exemplo de beleza que te inspira?
Nossa, existem tantas referências, mas eu diria que, sem egocentrismo, hoje, eu sou a minha maior inspiração.
Porque eu tive que buscar forças dentro de mim mesma e tive que ressignificar muita coisa para poder me olhar no espelho e me sentir bem comigo mesma. Eu não sou perfeita, eu estou longe da perfeição, eu continuo tendo coisas em mim que eu não gosto, mas todo dia é um aprendizado. Eu aprendo a viver com os meus defeitos e com as minhas qualidades.
Então, hoje, posso dizer que eu sou a minha maior inspiração. Há outras inspirações, obviamente. Mas é preciso que a gente desabroche de dentro para fora, para poder, inclusive, olhar para uma inspiração externa, para outra pessoa, e estar bem e conseguir se ver.
7) De que outras maneiras além da aparência você constrói sua autoestima?
Eu acho que a autoestima é um trabalho diário de você falar para si mesma e de saber se colocar, porque tem dias que a gente não está bem e você não tem que se forçar.
Eu acho que isso de se forçar a dizer que você está bem o tempo inteiro não é justo. A gente não está bem o tempo inteiro e saber respeitar esses momentos também é uma forma de trabalhar a autoestima. É entender que tem dias bons e tem dias ruins, tem dias que eu tô me sentindo a mulher mais linda do mundo e tem dias que eu não tô, então é ter esse cuidado consigo. Acho que essa também é uma das maneiras de construir uma autoestima boa e sólida, é você entender que são momentos.
8) O que você acha que está de mais diferente na Gabriela de hoje?
Eu acho que a gente está sempre em constante transição. A Gabriela de um ano atrás é uma, a Gabriela de hoje é outra e nem vai ser a Gabriela de amanhã em relação à imagem, à aparência e à estética. Eu me permito ser, eu me permito tomar decisões sobre o meu corpo que me deixem bem comigo mesma.
Eu já deixei de ligar para a opinião dos outros há muito tempo, então hoje, faço o que eu quero, da maneira que eu quero, porque sei que a pessoa que mais importa nesse mundo sou eu mesma. Então, eu preciso cuidar desse templo. Eu preciso cuidar desse corpo da maneira que eu acho certa.
Não existe uma fórmula secreta, não existe um padrão. Existe você se cuidar e se sentir bem.