Greve de fome como a de Glauber Braga pode causar neuropatia e síndrome de realimentação, alerta especialista
Deputado está de 'jejum prolongado' em prosteto contra cassação
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) enfrenta um processo de cassação na Câmara após expulsar integrante do MBL em 2024. Em protesto, iniciou greve de fome no Congresso Nacional.
A cassação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) foi aprovada na última quarta-feira, 9, por 13 votos a cinco, no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Como forma de protesto, o parlamentar entrou em greve de fome na madrugada de quinta-feira, 10, e e afirmou que não deixaria o Congresso Nacional até o fim do processo.
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"Estou me alimentando diariamente da solidariedade de vocês. Muito obrigado pelas mensagens bonitas, pelos livros, pelas flores, pelos vídeos, pela mobilização, por tudo… Não posso calar porque luto com aquelas e aqueles q têm fome de justiça", disse.
Até esta terça-feira, 15, já se passaram 6 dias desde que o parlamentar entrou em greve de fome. A equipe do deputado informou que ele está ingerindo apenas líquidos e que está recebendo acompanhamento médico. Ele já perdeu 4kg.
A médica Elaine Dias JK, PHD em endocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP) e metabologista, explica que o jejum prolongado, como o de Glauber Braga, pode oferecer riscos à saúde.
"Ao parar de se alimentar, o corpo inicialmente utiliza as reservas de glicogênio (uma forma de açúcar estocado no fígado e músculos), o que dura no máximo dois dias. Depois disso, passamos a usar gordura como fonte de energia, produzindo corpos cetônicos fazendo gliconeogenese. Esse é um mecanismo natural de adaptação, que permite que o cérebro continue funcionando", afirma.
Segundo a especialista, esse processo tem limites e, com o passar dos dias, o indíviduo pode apresentar fraqueza intensa, tontura, desmaios e alterações cognitivas.
"Após poucos dias de jejum absoluto, ou ingestão de apenas líquidos não calóricos, o corpo começa a consumir massa muscular, inclusive do coração, o que compromete a função de diversos órgãos. Existem registros históricos de pessoas que resistiram a greves de fome por semanas, mas quase sempre com sequelas graves", diz.
Entre as consequências de médio e longo prazo que uma greve de fome pode causar estão neuropatia, miopatia, alterações hepáticas, distúrbios hormonais e até falência de múltiplos órgãos.
"Além disso, há um risco pouco conhecido chamado síndrome da realimentação. Após um jejum prolongado, a simples reintrodução de alimentos pode desencadear uma queda abrupta de fósforo no sangue, arritmias cardíacas e até morte. Isso acontece porque o metabolismo, desacostumado à presença de glicose, entra em colapso ao tentar retomar seu funcionamento", relata.
Dra. Elaine também alerta que a ingestão de líquidos, mesmo contendo eletrólitos, não é o suficiente para evitar os riscos à saúde ocasionado pelo jejum.
"Pode atrasar algumas complicações, mas não impede a progressiva disfunção orgânica. Episódios de síncope são comuns após poucos dias de jejum absoluto, principalmente em posições ortostáticas (em pé ou sentado) pela hipovolemia. Portanto, embora seja possível permanecer consciente por vários dias, isso ocorre à custa de importante comprometimento funcional", ressalta.
A especialista destaca as complicações sistêmicas que podem afetar o organismo humano em caso de jejum prolongado, principalmente após a segunda semana de greve de fome. São elas:
- Miopatia e neuropatia periférica, pela desnutrição calórico-proteica e deficiência de vitaminas do complexo B (especialmente B1 e B12);
- Disfunção hepática e pancreática, com risco de elevação de enzimas hepáticas, intolerância à glicose e alteração da resposta insulínica;
- Atrofia gastrointestinal e dismotilidade, com má tolerância à reintrodução alimentar;
- Síndrome da realimentação, condição potencialmente fatal causada pela rápida reintrodução calórica, com hipofosfatemia grave, arritmias e colapso hemodinâmico;
- Supressão dos eixos hormonais e além de perda óssea acelerada.
Entenda o pedido de cassação de Glauber Braga
Em 16 de abril de 2024, Glauber Braga expulsou aos chutes o influenciador Gabriel Costenaro, integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), da Câmara dos Deputados, depois que o jovem fez insinuações sobre a ex-prefeita de Nova Friburgo, Saudade Braga, mãe do deputado. Na época, ela estava doente e faleceu 22 dias depois do ocorrido. No mesmo ano, foi aberto um processo de cassação contra Glauber.
Segundo o parlamentar, Arthur Lira (PP-AL) opera nos bastidores para prejudicá-lo, utilizando um relatório "comprado" como instrumento. O deputado psolista alega que suas constantes críticas ao ex-presidente da Câmara e referente ao orçamento secreto o transformaram em alvo político. Durante diversas sessões do Conselho de Ética, enquanto seu processo corria, o deputado repetidamente se referiu a Lira como "bandido"
A decisão ainda cabe recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso o processo siga após a votação nesse colegiado, caberá ao plenário decidir.
Desde que começou, no último dia 10, ele recebeu visitas dos ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Sidônio Palmeira (Comunicação Social) e Cida Gonçalves. O deputado Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, e o ator Marco Nanini também estiveram no local.