Herpes zoster: Entenda doença que afeta Damares Alves
Senadora falou sobre infecção após aparecer usando máscara no Congresso. Vírus causou paralisia facial e demanda atenção para tratamento
A senadora Damares Alves (Republicanos) usou as redes sociais para explicar o motivo de ter adotado a máscara facial recentemente: uma infecção por herpes zoster. Conforme a ex-ministra, o vírus infectou a parte interna do ouvido e gerou uma paralisia facial.
"Fiquei internada alguns dias. Faço tratamento para amenizar a situação", explicou ela pelo Twitter. "Nem preciso explicar o quanto é constrangedor para uma mulher passar por isso, por isso fico triste com a falta de empatia."
Segundo o otorrinolaringologista Paulo Dorea, membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial (ABORL-CCF), há pessoas afetadas pela doença que ficam com sequelas no rosto para sempre. "A gente tem que ficar preocupado no restabelecimento dessa função motora porque, em alguns poucos casos, pode ser que a face não volte ao normal, sendo necessária cirurgia", diz.
— Damares Alves (@DamaresAlves) March 7, 2023
Os especialistas classificam a paralisia em números de 1 a 6 - quanto mais próximo de 6, maior o risco de a sequela não desaparecer. Outro ponto sensível é o olho: paralisias muito agudas podem travar a pálpebra, fazendo com que o olho não feche. Nesses casos, nos quais o paciente precisa aprender a dormir de olho aberto, é necessário acompanhamento contínuo para garantir que a retina não fique seca ou lesionada.
Qual a doença de Damares?
Para o médico infectologista Adriano Silva, o caso da senadora tem indícios de síndrome de Ramsy Hunt. Diferente do herpes zoster comum, que costuma afetar os nervos sensitivos, nessa especificidade da doença é atingido um nervo facial motor, que, atacado, causa a paralisia facial.
"O sintoma do herpes zoster, via de regra, é sensitivo: dor, dormência e calor bem localizados na região atingida. Só que o nervo facial é um nervo motor, responsável por movimento e não por sensação. Então, quando atinge o nervo facial, você tem paralisia", afirma o especialista.
Esse vírus é o mesmo da catapora e, por isso, se manifesta no corpo com pequenas bolhas que coçam e ardem. O local mais comum para o aparecimento das lesões é no tronco, mas elas também podem surgir nos braços e pernas ou, mais dificilmente, nos ouvidos, como no caso de Damares. As dores costumam ser locais, porém muito intensas.
O tratamento, seja qual for a parte do corpo atingida, costuma combinar antivirais que impeçam a proliferação do vírus e corticoides, para ajudar no restabelecimento da função do nervo.
"Se um dos sintomas for a paralisia da face, é indispensável uma pomada para o olho. Quando o paciente for dormir, precisa usar, porque como o olho acaba ficando aberto, ele pode raspar o olho no travesseiro e causar uma lesão", explica o otorrino.
As bolhas, assim como na catapora, costumam sumir em um prazo médio de duas semanas. Há casos raros de sequelas definitivas, que podem ser corrigidos com cirurgia. "É preciso fazer esse acompanhamento diário (da paralisia) com testes eletroneurofisiológicos para saber o prognóstico da volta da função do nervo", afirma.
O que Damares sente?
Além da dor tradicional do herpes zoster, a infecção no ouvido pode causar um quadro similar ao da labirintite, com tonturas e vertigens. "Essa doença costuma tirar o indivíduo da capacidade produtiva dele, porque ele fica tonto o tempo inteiro, sem conseguir dirigir, trabalhar, entre outras coisas", diz o infectologista.
O diagnóstico é feito após um exame sorológico, embora os médicos concordem que as bolhas características da doença facilitem uma avaliação clínica.
Como se proteger do herpes zoster
Já existem no Brasil duas vacinas contra o herpes zoster: a Shingrix (recombinante) ou a Zostavax. "Essa vacina é altamente eficaz, absolutamente indicada para qualquer pessoa acima de 60 anos de idade e relativamente indicada para pessoas de outras idades", diz o infectologista.
A imunização, entretanto, não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). A depender da marca e do laboratório escolhido para compra, cada dose da vacina (recomenda-se duas) pode custar R$ 800.