IA e machine learning: quando a Saúde se tornará digital?
Para um setor que clama por transformação, a Saúde tem demorado demais a assumir o protagonismo em tecnologia
Lá se vão mais de duas décadas desde que o setor de Saúde começou a clamar por uma transformação que garanta a sustentabilidade do negócio no futuro. Sei disso porque acompanho de perto essas discussões por um novo modelo de gestão, que seja autossustentável e garanta maior abrangência, chegando a um maior número de pessoas. Tudo, claro, com mais eficiência, segurança e com o menor custo possível. E hoje sei que a aplicação da inteligência artificial, do machine learning e da automação é, sem dúvida, o caminho para isso. Pena que a gestão em Saúde ainda é uma das áreas mais atrasadas em tecnologia.
E por que isso acontece? Talvez a forte resistência cultural das estruturas atuais seja o empecilho mais importante. Apesar do modelo de negócios estar praticamente falido, ainda é grande o número de instituições que lucram a partir dele. E não há motivo mais importante para resistir a uma transformação do que o financeiro, como todos sabemos.
Dito isso, a transformação digital que tanto ovacionamos nos últimos tempos precisa ser mais discutida por todos para que sua implantação seja de fato a solução que o setor tanto busca. Já vimos isso acontecer em algumas áreas, como a financeira, enquanto outras como a educação e o direito também fazem sua lição de casa. Mas, repito, a Saúde permanece atrasada em (re)agir.
A resistência ainda é o principal motivo para o modelo de negócios atual continuar vigente. Mas, além dele, a Saúde digital esbarra em um enorme paredão, que é o capital intelectual.
Objetivamente, a barreira de capacitação profissional é um dos desafios mais importantes: a Saúde tem uma carência de profissionais qualificados de TI e de ciência de dados com conhecimento específico sobre o setor, capazes de promover as transformações necessárias.
Portanto, se a Saúde quiser recuperar o tempo perdido e rumar para o digital, precisa assumir um compromisso de formação profissional, ou seja, de desenvolver capital humano que potencialize tudo o que a tecnologia tem a entregar. E isso ainda acontece pouco.
Você pode me lembrar que as startups e healthtechs já se adiantaram e estão formando profissionais com tais expertises. Mas, eu digo, ainda é pouco para o que precisamos: além de não terem recursos para desenvolver tanta gente, elas ainda são pequenas diante dos conglomerados de Saúde – que devem sim encabeçar a iniciativa.
Só com mais pessoas capacitadas em tecnologia e com bom entendimento de Saúde a transformação vai acontecer.
Enquanto isso, empresas de tecnologia se aventuram cada vez mais na Saúde. A Apple, por exemplo, acaba de reunir os dados de sete anos de uso do Apple Watch para lançar um seguro saúde personalizado.
Quer outro exemplo? Há pouco tempo, a Amazon,por meio de uma fusão, lançou um plano de saúde próprio. As bigtechs já perceberam que a Saúde precisa se transformar e – mais importante – que ele ainda está parado.
Por isso, pergunto a você: o que ainda falta para que os principais players de Saúde assumam o protagonismo esperado na mudança digital que precisa vir?
Durante 2022, acompanhamos, quase que diariamente, notícias sobre demissões em grandes empresas de tecnologia: a Meta (que controla o Facebook) mandou embora 13% de seus funcionários em novembro. Já o Twitter, com toda essa novela do Elon Musk, viu seu quadro reduzir para metade do que era no início do ano. E mesmo startups estão demitindo a rodo: este site que monitora os cortes do setor em tempo real já contabiliza mais de 147 mil desempregados em 2022 – e segue somando.
A pergunta que eu faço é para onde estão indo todos esses profissionais altamente capacitados que as empresas de tecnologia estão jogando no mercado? Será que não está na hora de trazê-los para perto da Saúde?
(*) Rodrigo Guerra é especialista em finanças e inovação. As duas áreas não costumam ser associadas, mas quando estão lado a lado, elas conseguem transformar projetos inovadores em prática diária nas empresas. No Projeto Unbox, do qual é fundador, realiza uma curadoria de conteúdos fundamentais para impulsionar as mudanças urgentes e necessárias de pessoas, negócios e da sociedade.