Incidência de coqueluche em São Paulo já é quatro vezes maior que em 2023; conheça a doença
Doença atinge sobretudo crianças, que são maioria dos casos e dos registros de mortalidade; vacinação é principal meio de prevenção
O Estado de São Paulo registrou 37 casos de coqueluche apenas nos cinco primeiros meses do ano. O número é praticamente o mesmo do registrado no ano passado inteiro, quando 38 casos da doença foram notificados no Estado. Só na capital paulista, foram confirmados 32 casos, o que representa um aumento de quatro vezes em relação a todo o ano de 2023, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Conhecida popularmente como 'tosse comprida', a coqueluche é causada pela bactéria Bordetella pertussis, que afeta principalmente as vias respiratórias. A transmissão ocorre através do contato com secreções contaminadas, principalmente por tosse, fala ou espirro. Crianças são as principais vítimas e representam a maioria dos casos e óbitos.
A coqueluche tende a se espalhar mais em climas amenos ou frios, como na primavera e no inverno, quando as pessoas ficam mais tempo em ambientes fechados. A transmissão é alta, podendo gerar até 17 casos secundários por infecção, semelhante ao sarampo e à varicela, e muito superior à covid-19, que gera cerca de três casos secundários por infecção.
Em abril deste ano, o Estadão mostrou que, até aquele momento, a cidade de São Paulo registrava 14 casos da doença. Ou seja, é possível dizer que a quantidade mais do que dobrou em apenas um mês. Em todo ano de 2023, foram registrados oito casos e, em 2022, apenas um. Neste ano, nenhuma morte aconteceu. O último óbito registrado na cidade foi em 2019.
Segundo a pediatra Mônica Levi, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), é possível que esse aumento no número de casos seja resultado de variações normais em relação a períodos de circulação da doença.
De qualquer forma, a especialista ressalta que essa situação deve acender um alerta a respeito da necessidade de vigilância em relação à doença, tanto para serviços de saúde como para pacientes. "Devemos ficar de olho nos sintomas e procurar um posto de saúde o quanto antes. Além disso, é preciso que o monitoramento em relação à coqueluche seja feito de forma mais rígida a partir de agora", destaca.
Quais os sintomas da coqueluche?
O principal sintoma da coqueluche é a tosse seca, que, nos casos mais graves, pode durar semanas ou até meses. Justamente por isso a doença é conhecida por 'tosse comprida'.
De forma geral, o Ministério da Saúde categoriza os sintomas da doença em três níveis de acordo com a gravidade do quadro. No primeiro nível, os sintomas são mais leves e costumam ser semelhantes aos de um resfriado, como mal-estar, nariz escorrendo, tosse seca e febre baixa. Nos níveis mais complicados, a doença é caracterizada principalmente pela piora da tosse, que pode se tornar tão intensa a ponto de comprometer a respiração, provocar vômitos ou cansaço extremo.
A coqueluche é uma doença grave?
A coqueluche pode causar pneumonia, convulsões, comprometimento do sistema nervoso e até a morte. A maioria dos casos graves acomete crianças menores de um 1 ano de idade, principalmente as com até 6 meses de vida, de acordo com a SBIm.
De acordo com Mônica, os idosos e pacientes com doenças crônicas que afetam o pulmão também têm risco elevado de apresentar complicações em decorrência da doença
Os adultos podem ter coqueluche, mas normalmente são assintomáticos ou apresentam sintomas leves. Isso não quer dizer, porém, que eles não devam ser vacinados, destaca a presidente da SBIm. "São os adultos que mais passam a doença para os bebês e, por isso, todos devem estar com o esquema vacinal em dia", orienta.
Qual o tratamento?
Como se trata de uma doença causada por uma bactéria, o tratamento consiste essencialmente no uso de antibióticos, de acordo com o Ministério da Saúde.
É possível prevenir a coqueluche?
A vacinação é a principal estratégia de prevenção contra a coqueluche.
Os bebês, principal grupo de risco da doença, devem tomar a vacina pentavalente, que protege contra o tétano, a difteria, a hepatite B, a coqueluche e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae B. Esse imunizante é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O esquema vacinal é composto por três doses que devem ser tomadas aos dois, quatro e seis meses, além de duas outras doses de reforço, que devem ser aplicadas aos 15 meses e aos 4 anos, de acordo com o Ministério da Saúde. Apesar de ser recomendada a essas faixas etárias, ela está disponível no SUS para todas as crianças menores de sete anos.
Os adultos, em especial os que têm contato com crianças menores de um ano, também devem se vacinar contra a doença. Nesses casos, a indicação é a vacina tríplice acelular (dTpa), que protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche e está disponível no SUS para profissionais da saúde, parteiras tradicionais e estagiários da saúde que atuam em maternidades e unidades de internação neonatal, além das grávidas, que devem tomar o imunizante a partir das 20° semana de gestação. Trata-se de uma vacina de dose única, que, em geral, necessita de reforço a cada 10 anos.
Os adultos que não se enquadram nessas categorias também podem tomar a vacina contra a doença em clínicas e laboratórios privados. Inclusive, no particular, há ainda outras opções de imunização contra a doença para adultos e crianças, como a hexavalente, que protege contra seis doenças: pólio, difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae e hepatite B. / COM AGÊNCIA BRASIL