Infertilidade: parentalidade tardia, poluição e obesidade podem explicar aumento
Outras possíveis causas incluem obesidade e poluição ambiental; problema impacta homens e mulheres na mesma proporção
Questões biológicas, sociais e ambientais podem estar relacionadas com o aumento da infertilidade ao redor do mundo. Um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em abril deste ano, mostra que um a cada seis adultos, o equivalente a 17,6% da população, sofre com o problema atualmente.
Nas Américas, esse número chega a 20%, de acordo com o ginecologista Marcelo Cavalcante, especialista em reprodução humana. É ele quem sugere, em entrevista ao Terra, alguns fatores que podem impactar a fertilidade. São eles:
- Parentalidade tardia
Como frisa o médico, existe uma relação inversamente proporcional entre a qualidade dos óvulos e a idade da mulher. "A mulher já nasce com o total de óvulos para toda a sua vida reprodutiva. Assim, com o avançar da idade, os óvulos perdem qualidade, dificultando a gravidez natural e aumentando o risco de perda gestacional, especialmente devido a alterações genéticas do concepto".
Já os homens produzem espermatozóides por toda a vida, mas estudos recentes já confirmam a perda substancial de qualidade com o avanço da idade. Isso também dificulta a geração de uma gravidez e eleva o risco de complicações nos futuros filhos.
- Obesidade
"A obesidade interfere diretamente na qualidade dos gametas (óvulos e espermatozóides). Alterações hormonais e um processo inflamatório crônico observado nos homens e mulheres com IMC elevado são os principais fatores responsáveis pela má qualidade dos gametas", pontua o médico.
- Estilo de vida
Ao falar em estilo de vida, Cavalcanti cita hábitos como etilismo e tabagismo, ambas práticas relacionadas ao risco aumentado de má qualidade de gametas. Além disso, fumar reduz a quantidade de óvulos da mulher.
- Contaminantes
Ele menciona alguns compostos chamados de "contaminantes ambientais", a exemplo do bisfenol e ftalatos que são liberados por plásticos. De acordo com o ginecologista, essas substâncias prejudicam a produção de gametas por terem ação semelhante a hormônios que interferem na gametogênese.
- Poluição ambiental
"Vários estudos já observaram que partículas de poluentes na atmosfera interferem na qualidade espermática", confirma.
Problema de homens e mulheres
Em geral, a infertilidade deve ser investigada quando o casal passa 12 meses tentando gerar uma vida, sem sucesso.
Se a mulher tiver mais de 35 anos, o problema pode ser apontado após seis meses, afinal essa é a idade média em que a quantidade e a qualidade dos óvulos apresenta um maior declínio. Para os homens, o alarme toca um pouco mais tarde: entre 45 e 50 anos.
Ainda assim, de modo geral, a estatística é similar para homens e mulheres - com 35% dos casais, a infertilidade é feminina, e com outros 35%, é masculina. Em outros 20% dos casos, ambos são inférteis e nos 10% restantes, a causa de infertilidade é desconhecida.
Quem são as mulheres mais suscetíveis a problemas de fertilidade?
Um estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina, com amostras de quatro cidades dos Estados Unidos, identificou que mulheres negras são as mais propensas a ter problemas de fertilidade.
Ao trazer a realidade para o Brasil, Marcelo Cavalcante não observa um recorte étnico-racial sobre a questão. No entanto, ele pondera que populações com maior vulnerabilidade — fatores educacionais, tabagismo, risco de doenças e dificuldade de acesso a serviços de saúde — estão expostas a condições que levam à infertilidade.