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Lixo hospitalar do coronavírus vira bomba-relógio da doença

Anualmente, Brasil produz cerca de 253 mil toneladas desse tipo de resíduo; multiplicação desse volume deixaria um passivo enorme de material contaminante sem tratamento no curto prazo

27 abr 2020 - 11h10
(atualizado às 11h45)
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Imagem de arquivo de sacola usada no processo de descarte do lixo hospitalar.
Imagem de arquivo de sacola usada no processo de descarte do lixo hospitalar.
Foto: Leonardo Benassatto / Futura Press
'Não é gripezinha': o que dizem os curados do coronavírus:

BRASÍLIA - O volume de resíduos hospitalares gerados pelo coronavírus vai ampliar em pelo menos quatro vezes a quantidade atual desses materiais produzida em todo o País, uma situação que ameaça travar completamente a capacidade de tratamento desse lixo contaminado. O alerta da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) foi enviado ao Ministério da Saúde na última quinta-feira, 23, por meio de um relatório técnico que analisa os desdobramentos da covid-19 no setor.

Hoje, o Brasil tem capacidade de processar, anualmente, 480 mil toneladas de lixo hospitalar, material conhecido como "resíduos de serviços de saúde". Todos os anos, hospitais, clínicas e laboratórios produzem cerca de 253 mil toneladas desse lixo. A multiplicação desse volume por quatro, portanto, deixaria um passivo enorme de material contaminante sem tratamento no curto prazo.

O problema ganha dimensões ainda mais alarmantes quando considerado que, atualmente, milhares de toneladas de lixo contaminado com vírus da covid-19 são produzidas em casas por todo o País, onde pacientes da doença estão isolados, em tratamento. Sobre a dimensão desse lixo, sequer há estimativas aproximadas de quantidade, uma vez que não se sabe, afinal, quantas pessoas contaminadas pelo coronavírus estão em suas casas.

"Qualquer hospital, laboratório ou clínica do País segue um protocolo rígido de recolhimento, tratamento e descarte desse lixo. Sobre esse aspecto, há uma preocupação com a capacidade de processamento do País. De outro lado, nossa preocupação é com a parte domiciliar, que simplesmente não se sabe como está essa questão do lixo, não há um protocolo sendo aplicado", diz o especialista Walfrido Ávila Ataíde, membro da Abren.

Pesquisas apontam que o novo coronavírus pode sobreviver por cerca de 72 horas em superfícies. Um lixo produzido por uma pessoa contaminada, em sua residência, tem potencial de se espalhar por todo lixo onde esse material for alocado. No caminho até os aterros, passa pelas mãos de garis e, em muitos casos, coletores de reciclagem, sendo manuseados por pessoas.

Em um hospital, a média de lixo hospitalar gerada por cada leito é de cerca de meio quilo por dia. Em uma residência, esse volume pode ser ainda maior, por casa do contato com mais produtos e embalagens.

"Imagine que isso pode se espalhar por esses trabalhadores e, no limite, chegar a comprometer o recolhimento de lixo das cidades se houver uma propagação entre essas pessoas que seguem trabalhando para atender a população", comentou Ataíde. "É preciso que haja ação do governo nessa área, uma orientação à população, que deve ficar mais atento a essas questões."

A Organização Mundial de Saúde recomenda que os resíduos hospitalares sejam eliminados por meio de incineração, sendo o método mais seguro de tratamento e que, inclusive, pode se transformar em geração de energia, bandeira que é defendida pela Abren.

"A internação doméstica de pacientes acometidos pela Covid-19, por sua vez, exige os mesmos cuidados dispensados aos pacientes hospitalizados, principalmente no tocante à prevenção do contato com seus familiares e demais pessoas que residem ou que frequentam o mesmo ambiente e a prática de procedimentos sanitários, principalmente no cuidado com os resíduos gerados na residência", afirma o presidente-executivo e fundador da Abren, Yuri Schmitke Belchior, no documento enviado ao Ministério da Justiça.

O desconhecimento e o não cumprimento de regras específicas para o manejo dos resíduos domiciliares eventualmente contaminados, diz ele, podem trazer sérias consequências para quem não toma as devidas precauções e cuidados.

A estrutura dos municípios para lidar com os resíduos de serviços hospitalares ainda é insuficiente. Pelo menos 36% dos municípios brasileiros ainda não fazem a destinação adequada desse lixo contaminado, ou seja, o material acaba em lixões, aterros comuns ou valas sépticas, em vez de serem incinerados.

O que devo fazer com o lixo?

Algumas orientações para quem está com covid-19 em casa ou convive com algum paciente da doença

  • Tenha duas latas de lixo isoladas em seu quarto, para uso exclusivo e contato com os demais cestos de lixo da casa. Você pode usar uma para restos orgânicos e outra para matéria reciclável.
  • Todo lixo produzido pelo paciente tem que ser depositado nesses cestos. Se a pessoa tiver que ir ao banheiro, por exemplo, tem que levar o seu cesto consigo, devidamente protegido com saco plástico, utilizá-lo e trazê-lo de volta para o quarto.
  • Depois de encher o seu saco de lixo, coloque esse material dentro de outro saco. Com uma caneta ou pincel, escreva de forma bem visível: lixo contaminante. Se quiser, pode procurar sacos adequados para isso, em locais especializados de produtos médicos. São uns sacos vermelhos, facilmente identificáveis.
  • Se você mora em um condomínio, o ideal é que avise o síndico do prédio, para que seu lixo seja recolhido de forma separada e também alocado em um espaço específico, para que não contamine as pessoas que o manuseiam e dos demais sacos de lixo.
  • É importante desinfectar o saco plástico, com o uso de luvas, assim que for entregar o lixo para recolhimento.

Uma dica para colocar objetos pontiagudos, como coletores e agulhas, é utilizar caixinhas de leite vazias, que servem para acondicionar esse tipo de material e protegem as pessoas de se machucarem com esses objetos.

Fonte: Abren, elaboração própria

Estadão
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