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Mais de 30% dos idosos do Brasil são depressivos e 16% solitários

O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos do BR feito pela Unicamp revelou sintomas depressivos e de solidão na terceira idade — como ajudar na terceira idade?

17 set 2023 - 13h02
(atualizado às 20h46)
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Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entrevistaram quase 8 mil pessoas acima dos 50 anos para gerar a última edição do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), incluindo questões de saúde mental — assim, descobriu-se que mais de um terço dos idosos do país (34%) têm sintomas depressivos, e 16% sentem solidão.

Foto: JD Mason / Unsplash / Canaltech

Sintomas como esses são quatro vezes mais prevalentes nos adultos brasileiros mais velhos que relatam sempre sentirem solidão, com o risco de depressão dobrando por conta de morarem sozinhos. Além de observar os resultados do estudo, o Canaltech também conversou com o Dr. Natan Chehter, geriatra membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas.

A terceira idade e a saúde mental

Para o ELSI-Brasil, os pesquisadores da Unicamp entrevistaram 7.957 pessoas acima dos 50 anos acerca da frequência com que se sentem sozinhos ou solitários — as respostas podiam ser "sempre", "algumas vezes" ou "nunca". Deles, 34% relataram ter sintomas depressivos e 16% experimentavam sentimentos de solidão. Entre os depressivos, 33% sentiam-se sozinhos sempre.

Mais de um terço dos idosos brasileiros apresentam sintomas depressivos e 16% são solitários, mas vale lembrar que morar sozinho não necessariamente gera tais sintomas — quando há convívio com a família, tais sintomas podem se dissipar (Imagem: LightFieldStudios/Envato)
Mais de um terço dos idosos brasileiros apresentam sintomas depressivos e 16% são solitários, mas vale lembrar que morar sozinho não necessariamente gera tais sintomas — quando há convívio com a família, tais sintomas podem se dissipar (Imagem: LightFieldStudios/Envato)
Foto: Canaltech

Para verificar os sintomas depressivos, um método indireto que avalia oito itens comportamentais é utilizado, sem usar a palavra depressão com o paciente — ao notar a presença de quatro dos oito itens associados à condição, considera-se que a pessoa tem sintomas depressivos.

Segundo Chehter, é importante diferenciar solidão de isolamento: morar sozinho é um indicador de isolamento social, mas não necessariamente de solidão. Este último é um sentimento de desamparo e abandono, algo subjetivo que pode, inclusive, surgir mesmo quando estamos cercados de familiares, amigos ou outras pessoas.

Para os familiares, perceber sintomas de depressão pode ser feito por sinais indiretos como perda de peso, desânimo e falta de vontade de realizar atividades diárias, alterações do sono, apetite e afins.

O geriatra ainda comenta que há vários motivos para que idosos acabem morando sozinhos — em suma, isso acontece por necessidade, preferência. A necessidade se dá por conta de uma família totalmente ausente ou inexistente, enquanto a preferência pode se dar quando o idoso não tem uma boa relação com os familiares, optando pelo isolamento.

Morar sozinho muitas vezes não é uma escolha do idoso, mas sim uma necessidade por conta de familiares ausentes ou brigas (Imagem: Redd/Unsplash)
Morar sozinho muitas vezes não é uma escolha do idoso, mas sim uma necessidade por conta de familiares ausentes ou brigas (Imagem: Redd/Unsplash)
Foto: Canaltech

É importante, completa o médico, notar se o fato de morar sozinho se dá por uma escolha consciente e abalizada. Pode ser que o idoso tenha alguma condição que deteriora a saúde e reduza sua autonomia, e, nesse caso, a companhia se torne absolutamente necessária, mas há os que não precisam de ajuda e podem de fato morar sozinhos.

Tanto nos idosos quanto nos mais jovens, esse isolamento social gerado por morar sozinho é um comportamento de risco para solidão e sintomas depressivos, e se torna importante notar a influência desse comportamento na saúde — em muitos casos, o contato social pode melhorar esses sintomas, mas também devem ser tratados os outros aspectos relacionados à autonomia do idoso e à sua saúde mental.

Como ajudar um familiar idoso que mora sozinho?

De acordo com Chehter, o principal para melhorar o cuidado com um parente idoso que se sinta solitário é estar presente — não necessariamente morando junto, quando isso não se faz necessário. Preocupar-se com o familiar, mesmo que à distância, supervisionando seus afazeres do dia-a-dia, pode ajudar a melhorar sintomas, mandando mensagens e ligando com alguma frequência, buscando visitar quando possível.

Estar presente é importante para diminuir a sensação de solidão do familiar idoso, e isso não precisa ser necessariamente em pessoa — ligações de vídeo e preocupação com a rotina, mesmo por texto, ajuda a dissuadir sintomas depressivos (Imagem: Andrea Piacquadio/Pexels)
Estar presente é importante para diminuir a sensação de solidão do familiar idoso, e isso não precisa ser necessariamente em pessoa — ligações de vídeo e preocupação com a rotina, mesmo por texto, ajuda a dissuadir sintomas depressivos (Imagem: Andrea Piacquadio/Pexels)
Foto: Canaltech

Isso, é claro, quando não é absolutamente necessário um cuidado mais próximo, no caso de um familiar precisar administrar remédios, ajudar o idoso a se alimentar sem oferecer risco a si próprio (comendo muito pouco, por exemplo) e a fazer outras atividades essenciais para o dia-a-dia. Quando isso não é possível, há de se recorrer ao serviço social, associações de bairro, instituições sociais ou até mesmo serviços pagos de cuidadores ou lares de idosos.

Os familiares, em suma, devem dar a devida importância e preocupação ao assunto para garantir suporte e uma sensação de amparo pelos seus parentes mais idosos. Em termos de saúde mental, repetem-se os conselhos já conhecidos e batidos, mas essenciais para manter corpo e mente saudáveis — exercícios regulares, atividades de lazer e de convívio social, alimentação saudável e manter a distância de vícios como a bebida e o tabagismo.

Fonte: International Journal of Epidemiology

Canaltech
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