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Mandetta ironiza recomendação de cloroquina: "Leigos"

'Um leigo propor e outro fazer o protocolo que libera é o mais próximo de um estudo duplo-cego que temos', afirmou o ex-ministro da Saúde na Brazil Conference at Harvard & MIT

3 jun 2020 - 21h26
(atualizado às 21h30)
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Demitido do Ministério da Saúde por, entre outros motivos, divergir do presidente Jair Bolsonaro quanto ao uso da cloroquina no tratamento do novo coronavírus, Luiz Henrique Mandetta fez uma referência irônica - mas sem citar nomes - sobre o medicamento durante o primeiro painel sobre saúde na Brazil Conference at Harvard & MIT, realizado ontem e transmitido pelo Estadão. "Uma pessoa leiga propor a cloroquina e outro leigo fazer o protocolo que libera o medicamento no mesmo dia é o mais próximo de um estudo duplo-cego que temos no Brasil", afirmou.

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante a cerimônia de posse do seu sucessor, o oncologista Nelson Teich
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta durante a cerimônia de posse do seu sucessor, o oncologista Nelson Teich
Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo

O ensaio clínico duplo-cego consiste no desconhecimento tanto do pesquisador como do paciente sobre qual grupo o paciente se encontra durante o estudo. No fim de abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou o medicamento após uma reunião com o presidente no mesmo dia. Apesar de reconhecer que não há ainda comprovação de segurança e eficácia do tratamento, o CFM afirmou na ocasião que a liberação ocorreu por causa da excepcionalidade da pandemia.

A professora e chefe do departamento de Saúde Global e População de Harvard, Marcia Castro, que também participou do painel, criticou Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por desvalorizarem a ciência. Ela creditou especialmente à falta de liderança o cenário negativo dos dois países. Para ela, o Brasil tinha estrutura "de dar inveja a outros países" para dar uma resposta efetiva à pandemia: o Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, por falta de uma boa gestão federal, há "5.570 governanças paralelas, cada uma tentando resolver o problema".

Para Henrique Neves, diretor-geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, que tem contato tanto com o sistema público quanto com o privado, um melhor diálogo entre os dois poderia também ter resultado em uma melhor contenção. "A área pública lotou (com doentes pelo coronavírus) quando a área privada ainda não tinha ocupado um terço do que havia preparado."

Os três painelistas acreditam que o SUS, de alguma forma, vai sair da pandemia fortalecido. "Sem o SUS seria impossível enfrentar essa situação", afirmou Neves. "Se a gente não conseguiu controlar no início, podemos evitar ondas de contágio subsequentes, que já estão acontecendo em alguns países. Não precisamos inventar a roda, precisamos usar o que temos", finalizou Marcia.

Veja quem são os palestrantes

Luiz Henrique Mandetta, médico e ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro

Ortopedista de formação, Mandetta começou a carreira política no MDB em 2005, ano em que assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (MS), sua cidade natal. Deixou o cargo em 2010, se filiou ao DEM e concorreu a deputado federal - posto que preencheu de 2011 a 2018.

Já em 2019, assumiu como ministro da Saúde de Jair Bolsonaro. Antes da pandemia do coronavírus, Mandetta não era dos ministros que mais tinham destaque no governo. Mas, com o protagonismo adquirido no começo deste ano e com os posicionamentos que contrariavam o chefe, Mandetta foi demitido do comando da pasta por Bolsonaro em 16 de abril, no meio da pandemia.

O ex-ministro está proibido, pela Comissão de Ética da Presidência, de atuar na iniciativa privada por seis meses e está recorrendo da decisão, porque quer atuar em consultoria e palestras. Enquanto isso, ele segue recebendo o salário de R$ 31 mil, pago aos integrantes do primeiro escalão, assim como ocorre com o ex-ministro da da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Marcia Castro, professora e chefe do departamento de Saúde Global e População de Harvard

Formada em Estatística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e PhD em Demografia pela Universidade de Princeton, Marcia é chefe do departamento de Saúde Global e População da Universidade de Harvard desde janeiro de 2019.

De acordo com informações no portal de Harvard, desde 2004, ela trabalha no Programa de Controle da Malária Urbana de Dar es Salaam, uma cidade da Tanzânia, na África, promovendo o uso de gestão ambiental para melhorar a saúde urbana. Ela também trabalha em um projeto que mede saúde, pobreza e local, em Accra, Gana, também na África.

Além disso, Marcia está trabalhando nas questões de mobilidade humana e infecções assintomáticas da malária na Amazônia brasileira, bem como os impactos potenciais causados por eventos climáticos extremos na transmissão da malária na Amazônia.

Henrique Sutton de Sousa Neves, diretor-geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein

Neves é formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e Programa de Administração Avançada da Harvard. Atualmente, além de diretor-geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, ele é membro efetivo do Conselho de Administração da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), segundo informações do Linkedin pessoal e da página de governança da CCR.

Foi vice-presidente da Shell Brasil para Assuntos Corporativos, de Mercados Nacionais e de Varejo entre 1993 e 1998, presidente na Brasil Telecom de 1998 a 2002 e presidente da Varig em 2005. Em 2010 foi escolhido o Executivo de Valor da área de Indústria Farmacêutica e Serviços Médicos.

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Estadão
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