Médica desmente 5 mitos sobre a dor: ‘Repouso não melhora dor’
Por ser uma doença invisível, a dor acaba sendo alvo de muitas informações falsas. Conheça algumas delas
Ninguém gosta de sentir dor, mas todo mundo experimenta essa sensação. Dependendo de suas características, a dor pode tornar-se crônica. Quando isso acontece, acaba recebendo a alcunha de doença invisível, porque é sentida, mas raramente identificada.
Em razão desta dificuldade em comprová-la, quem sofre de dor crônica costuma ser alvo de descrença, não só de pessoas próximas, mas de profissionais da saúde. Afinal, vale a lógica: o que não se vê não existe. Por conta disso, o estudo da dor crônica acaba sendo relegado a segundo plano, o que faz com que o assunto fique envolto em muitos mistérios.
Por conta de circunstâncias da vida, a médica Amelie Falconi seguiu a direção contrária da maioria dos médicos e resolveu mergulhar fundo nos estudos sobre a dor. Especializou-se em dor na Faculdade do Hospital Santa Casa, em São Paulo, e fundou o Comitê de Medicina Integrativa e Dor Crônica da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED). Hoje é médica intervencionista em dor e atua em diversas frentes para dirimir dúvidas sobre o tema.
Pois é a própria Amelie quem desmistifica pensamentos comuns a respeito da dor. Veja os 5 principais.
1. Exercício físico piora o desgaste articular
Amelie afirma que, ao ser realizado de forma adequada e supervisionada, geralmente, o exercício físico não piora o desgaste articular.
“Muito pelo contrário, a prática traz benefícios à saúde das articulações, incluindo a prevenção ou retardamento do desgaste articular, também chamado de osteoartrite”, diz.
Segundo ela, o exercício físico pode ter um papel importante na prevenção e manejo da osteoartrite, pois promove o fortalecimento dos músculos que suportam as articulações; envolve movimento, que pode ajudar a manter a flexibilidade das articulações; atua no controle do peso, que, em excesso, sobrecarrega as articulações de carga, como os joelhos; e melhora a circulação sanguínea para as articulações, o que pode ajudar a fornecer nutrientes essenciais para a cartilagem e outras estruturas articulares.
2. Repouso melhora a dor
Amelie afirma que o repouso pode ser útil em certos casos agudos de dor, como após uma torção de tornozelo, e por um tempo limitado. Contudo, faz uma ressalva de que, em muitos casos de dor crônica, o repouso prolongado tende a piorar a condição.
“Isto porque acaba levando ao descondicionamento físico, à perda de força muscular, à diminuição de flexibilidade e até mesmo ao aumento da sensibilidade à dor”, diz.
Por seu lado, a atividade física regular consegue minimizar todos os pontos acima descritos. De acordo com ela, deve-se dar muita atenção ao tipo e à intensidade do exercício físico, pois estes devem ser individualizados e adequados às condições de saúde e às limitações do paciente com dor crônica.
“Assim, é fundamental consultar um profissional de saúde qualificado para desenvolver um plano de exercícios adequado e seguro, levando em consideração a causa da dor, o estado de saúde geral do paciente, e outros fatores relevantes”, afirma.
3. Exames de imagem mostram a causa e a intensidade da dor
A resposta é não. Segundo Amelie, geralmente exames de imagem, como radiografias, ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas não são capazes de mostrar a intensidade da dor.
A médica intervencionista em dor explica que os exames de imagens têm como sua função principal identificar alterações nas estruturas do corpo que possam estar ligadas a condições médicas que causam dor. Dessa forma, os exames de imagem podem ajudar a identificar a causa subjacente da dor, avaliar a gravidade e extensão da condição e auxiliar na definição do plano de tratamento, mas não podem medir a intensidade da dor.
“A dor é experiência subjetiva e individual, cuja intensidade varia de pessoa para pessoa”, diz.
Para avaliar sua intensidade, segundo a médica intervencionista em dor, utiliza-se, principalmente, o relato do paciente sobre sua experiênia de dor, que é coletado via ferramentas subjetivas, como a Escala Númerica da Dor e a Escala Visual Analógica.
4. Criança não sente dor
Quando o médico avalia a intensidade da dor, conforme as escalas citadas, ele enfatiza a importância de o paciente comunicar de forma clara sua experiência de dor, descrevendo a localização, a qualidade, a duração e a intensidade dela. Como bebês e crianças pequenas não são capazes de expressar verbalmente o que sentem, é muito comum que se pense que eles não são capazes de sentir dor. Tal ilação não poderia ser mais equivocada.
“A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável que pode ser experimentada por pessoas de todas as idades, incluindo crianças”, afirma Amelie.
Segundo a médica, bebês e crianças pequenas costumam expressar dor chorando, ficando inquietas, contorcendo-se, evitando toques ou movimentos específicos ou por meio de mudança no comportamento ou no humor.
“Por isso, a importância de pais, cuidadores e profissionais de saúde ficarem atentos ao qualquer sinal e sintoma de dor nas criança, para fornecerem o devido cuidado e conforto”, diz.
Sempre levando em conta que a experiência de dor de uma criança pode ser diferente com relação a um adulto, devido a diferenças de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso, além de diferenças culturais e individuais.
5. Velhice é sinônimo de dor
“O envelhecimento é um processo natural e inevitável que afeta o corpo de várias maneiras e a dor pode ser uma das manifestações desse processo. Várias condições de saúde associadas ao envelhecimento contribuem para a sensação de dor e fatores como diminuição da massa muscular, perda de densidade óssea e diminuição da flexibilidade”, comenta Amelie.
Conforme a médica intervencionista em dor, embora a dor possa ser comum em pessoas mais velhas, isso não significa que ela é inerente ao envelhecimento, ou seja, pode ser evitada ou mitigada de diversas maneiras.
“Há muitas opções de tratamento disponíveis para ajudar a gerenciar a dor em pessoas idosas, incluindo medicamentos, terapias físicas, abordagens não medicamentosas e modificação de estilo de vida”, finaliza ela.
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