Médicos estudam lesões na pele causadas pelo coronavírus
Entre os trabalhos mais substanciais já disponíveis, a Sociedade Brasileira de Dermatologia cita o que foi realizado por uma equipe de pesquisadores espanhóis com 375 pessoas em toda a Espanha
Além dos pulmões, o novo coronavírus seria capaz de de afetar outras partes do corpo, como a pele? Ainda não se sabe, mas é o que dermatologistas tentam descobrir com pesquisas que, aos poucos, são submetidas a revistas especializadas. Entre os trabalhos mais substanciais já disponíveis, o coordenador do Departamento de Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Paulo Criado, cita o que foi realizado por uma equipe de pesquisadores espanhóis com 375 pessoas em toda a Espanha e que está disponível no British Journal of Dermatology.
Observando as pessoas, selecionadas entre 3 e 16 de abril, os pesquisadores conseguiram encontrar cinco principais padrões relacionados a problemas de pele. As lesões foram classificadas como:
- pseudo-frieira nas mãos e pés (19%), outras erupções cutâneas, especialmente no tronco, mas também capaz de afetar membros (9%),
- urticárias, especialmente no tronco, mas podendo estar dispersa por outras partes do corpo (19%),
- maculopápulas (manchas avermelhadas salientes) que podem apresentar graus diferentes de descamação, principalmente nas mãos (47%),
- livedo (que são "linhas" avermelhadas ou azuladas) ou necrose (6%).
Embora o grupo espanhol tenha seguido algumas das regras para uma boa pesquisa dermatológica, como documentar os casos com fotos, ainda assim não foi rigoroso o suficiente. Portanto, é cedo para determinar que problemas de pele possam ser outros sintomas da covid-19.
Paulo Criado cita a falta de biópsias que poderiam atestar a presença de covid-19 na pele como uma das principais lacunas no trabalho. "Existe uma técnica em que você coloca anticorpos para detectar o vírus. Chama-se imunohistoquímica. Se você fizesse a biópsia e marcasse o vírus com anticorpos, poderia ver se a covid-19 está lá ou não", explicou.
Ele lembra também que as manifestações na pele não são inéditas na literatura médica, ou seja, não passaram a aparecer agora com a disseminação da pandemia. O eritema pérnio, por exemplo, que recentemente ficou conhecido como "dedos de covid" e também foi apontado como um possível sintoma pela contaminação do coronavírus, nada mais é do que um inchaço nos dedos, recorrente quando o clima está mais frio. "A biópsia poderia dar o indício se existe uma relação de causa e efeito."
Além disso, o especialista cita a pequena amostra de casos e a falta de diagnóstico para o coronavírus das pessoas analisadas pelo estudo. Para ele, testar 375 espanhois é pouco para um país que, até esta segunda-feira, registra 218 mil casos positivos - ficando atrás apenas dos Estados Unidos no ranking mundial de infectados.
E, mesmo que os pacientes estudados tenham sido selecionados quando a pandemia já estava no auge no país, foram aceitas pessoas que não tinham sido clinicamente comprovadas com coronavírus por falta de testes.
Itália
Aos poucos, cientistas de todo o mundo começam a submeter seus relatórios a seus pares na comunidade científica. Um dos primeiros e principais trabalhos que norteiam as pesquisas sobre problemas de pele e o coronavírus é o realizado por um grupo no Hospital Lecco, na Itália, e assinado pelo doutor Sebastiano Recalcati. Dos 88 pacientes analisados, 18 desenvolveram manifestações cutâneas (8 no início e 10 após serem internadas). O grande problema, porém, é que não há nenhum registro fotográfico.
Citando o trabalho de Recalcati, os pesquisadores do Departamento de Dermatologia do Hospital Regional de Orleans, na França, contaram o caso de uma mulher de 27 anos, sem histórico médico, que apresentou urticária e foi tratada com anti-histamínico. Dois dias mais tarde, ela apresentou calafrios, dor no peito e febre acima de 39 graus e foi diagnosticada positivo pelo coronavírus.