Ministério da Saúde aponta aumento de mortes em 13 Estados
Pará e Rio tiveram as maiores altas; especialista afirma ser preciso frear planos de flexibilizar quarentena em regiões mais críticas
Metade dos Estados brasileiros teve alta no número de mortes por covid-19 na última semana em comparação com os sete dias anteriores, segundo dados apresentados nesta quarta-feira, 26, pelo Ministério da Saúde. São 13 unidades da federação nessa situação, quatro a mais do que no balanço apresentado na semana passada pela pasta.
Estão no grupo Estados de todas as regiões: Acre, Amapá, Pará, Tocantins e Rio já mostravam essa tendência de alta no boletim anterior. Já Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Minas, Espírito Santo e Rio Grande do Sul entraram na lista nesta semana.
Os maiores aumentos porcentuais de óbitos foram registrados nos Estados do Pará (80%) e Rio (62%), que já haviam passado por pico de casos e mortes há alguns meses, mas que enfrentam uma ameaça de novo crescimento em meio ao agravamento da pandemia em municípios do interior e à flexibilização das quarentenas.
Ainda de acordo com o governo federal, doze Estados tiveram redução de óbitos confirmados e dois ficaram com números estáveis no período.
O diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis do ministério, Eduardo Macário, afirmou que muitas das mortes registradas na última semana não são novas, mas estavam ainda sob investigação.
Os dados da pasta mostram ainda que seis dos 13 Estados que tiveram alta no número de mortes também registraram aumento no total de casos.
Para Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e coordenador do Infogripe (sistema que monitora internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave - SRAG), a situação epidemiológica nacional, de estabilidade no número de casos e mortes por covid, não reflete a diversidade de cenários nas regiões, Estados e municípios, que estão passando por momentos distintos da pandemia. O monitoramento das internações em cada localidade, diz ele, comprova isso.
"Temos Estados que já tiveram redução de casos e estão tendo novo aumento e aqueles que foram atingidos mais tarde e ainda estão com tendência de alta. Mas mesmo nos Estados que registram queda, os números ainda são elevados", diz o pesquisador. "Quinze unidades da federação têm pelo menos uma macrorregião de saúde com tendência de crescimento de internações por SRAG. Isso é um sinal de alerta. Nessas localidades, se há planos de maior flexibilização da quarentena, eles deveriam ser adiados", afirma.
Taxa de contágio. Outro dado divulgado nesta quarta-feira indica que os números da pandemia no Brasil estão longe de uma queda sustentada. O Brasil voltou a ter aumento do índice de contágio uma semana depois de apresentar, pela primeira vez desde abril, queda na taxa de transmissão do coronavírus. As estimativas são da universidade britânica Imperial College de Londres.
O cálculo mostra que a taxa de contágio (Rt) do vírus no País subiu de 0,98, na semana passada, para 1, na semana atual. O Rt indica para quantas pessoas um paciente infectado consegue transmitir o novo coronavírus. Quando o indicador está abaixo de 1, há indícios de desaceleração do surto e, acima disso, ele tem tendência de alta.
Especialistas em epidemiologia e matemática afirmam, porém, que uma variação pequena como a observada entre os dois relatórios não é capaz de, sozinha, indicar mudanças significativas no comportamento da pandemia no País.
Professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Renato Pedrosa explica que a variação de 0,98 para 1 está dentro do chamado intervalo de confiança. "É como uma pesquisa eleitoral, que sempre tem uma margem de erro. O índice de uma semana para outra teria que estar fora dessa margem pra dizer se houve de fato uma mudança significativa", diz.
No caso do relatório de ontem, o intervalo de confiança para o Rt de 1 ficou entre 0,93 e 1,12. Como o Rt da semana passada foi 0,98, as taxas das duas últimas semanas estão dentro da mesma margem. "São oscilações dentro de um ponto de equilíbrio, não tem força para indicar uma tendência. O cenário parece ser mais de estabilidade, mas uma estabilidade estacionada em um número elevado de casos e mortes", diz Eliseu Waldman, epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
"Mesmo no cenário anterior, da semana passada, o índice de 0,98 ainda estava dentro de um intervalo de confiança de Rt em 1, então não necessariamente estava desacelerando", pondera Marcelo Gomes, da Fiocruz. "Temos que continuar com as medidas como o distanciamento social e o uso de máscaras.