Mitos e verdades sobre os danos que a Covid-19 pode causar ao olfato e paladar
Especialista diz que "é possível recuperar olfato mesmo após muito tempo da perda" e alerta para quem sofre de doenças autoimunes
A pandemia já existe há quase dois anos, mas a Covid-19 ainda é uma doença que está em estudo e desafia os profissionais da ciência e medicina todos os dias, uma vez que de tempos em tempos surge uma variante do vírus.
Para esclarecer algumas dúvidas sobre os problemas que a doença pode causar ao olfato, paladar e sistema respiratório, o Dr. Gilberto Ulson Pizarro, otorrinolaringologista do Hospital Paulista e o Dr. Morton Scheinberg, pesquisador em doenças autoimunes, respondeu algumas questões que ajudam a desvendar mitos e verdades.
Não sentir gosto e nem cheiro de nada, pode ser Covid-19?
Mito. No atual momento, a possibilidade não deve ser descartada, porém a dificuldade em sentir cheiros não é uma exclusividade da Covid-19. É comum que, em doenças como H1N1, rinites, pólipos e desvios de septo, as pessoas apresentem a falta de olfato como um de seus sintomas. "Para se ter um diagnóstico correto, é indicado que, ao apresentar este ou mais sintomas, o paciente procure um hospital", orienta o especialista.
Idosos têm mais chances para contrair o vírus?
Verdade. Por fazerem parte do grupo de risco à doença, os idosos têm maior probabilidade de apresentar quadros mais graves. Por esse motivo, a imunização contra o vírus é imprescindível para estas pessoas, que tendem a ter a saúde mais vulnerável nesta fase da vida.
No entanto, não podemos deixar de mencionar que, desde o surgimento da doença, cada vez mais pessoas jovens têm tido o quadro agravado pela doença e até perdido suas vidas para o vírus.
Perder o olfato e paladar há mais de 15 dias tem como recuperá-los?
Mito. Ninguém pode afirmar que o olfato não pode ser recuperado. Atualmente, existem tratamentos intensos capazes de devolver o olfato em até 6 meses. A recuperação pode ser feita em até dois anos após a percepção do dano.
Segundo o médico, apenas 1,4 % dos casos são irreversíveis Fazer gargarejo com vinagre ou água salgada ajuda na prevenção?
Mito. A forma de prevenir a doença é evitar também o contato com o nariz, a boca e os olhos. Por esse motivo, as mãos também devem estar sempre higienizadas. Um estudo de 2015 da Universidade de Medicina da Austrália apontou que, por hora, uma pessoa toca no rosto cerca de 23 vezes e 44% destes contatos envolvem membranas mucosas presentes nos órgãos. O uso correto da máscara também evita o contato e a transmissão do vírus.
Usar descongestionantes nasais pode ajudar a recuperar o olfato?
Mito. Descongestionantes nasais melhoram a recuperação do olfato de forma parcial. O uso indiscriminado destes medicamentos, por um período superior a 7 ou 10 dias, pode provocar lesões na mucosa, o que gera dependência e riscos cardiovasculares, como taquicardia e angina.
Pessoas que sofrem de "ites" têm mais chance de contrair o vírus?
Verdade. Pacientes que têm algum tipo obstrução nasal, coceira e coriza tendem a levar as mãos ao nariz muito mais vezes, provocando maior contato com o vírus. Isso acontece por ser um reflexo involuntário.
Pessoas que foram contaminadas pela Covid-19 e não sentem gosto e cheiro de nada, podem tratar as sequelas sozinha?
Mito. Caso a perda de olfato seja de 15 dias ou mais, ela deve ser tratada com medicações específicas, capazes de evitar sequelas mais graves. Procure um otorrinolaringologista.
A máscara é prejudicial para quem sofre de "ites"?
Mito. A máscara não tem capacidade de piorar a rinite. O que acontece é que pessoas em crise de rinite podem ter dificuldades para usar a máscara. Por isso, a doença deve ser acompanhada por um especialista, para que seja tratada ou ao menos controlada.
Espirro é um sintoma de Covid-19? Devo segurá-lo perto de uma pessoa para evitar disseminar a doença?
Mito. Os espirros não necessariamente representam a existência da Covid-19, eles estão presentes em gripes, resfriados e alergias, causadas por diversos motivos. Segurar o espirro também não é recomendado. A melhor forma de evitar a disseminação do vírus é utilizando máscaras.
O ibuprofeno pode ser utilizado no alívio dos sintomas da gripe causada pela Covid-19?Mito. O anti-inflamatório ibuprofeno está em investigação e, no momento, não é recomendado. "Além disso, a automedicação deve ser terminantemente evitada. Seja para a Covid-19 ou quaisquer outras patologias. O indicado, sempre que apresentar um sintoma que possa estar relacionado à alguma doença, é procurar um médico para análise e orientação correta dos medicamentos, de acordo com o que estiver sentindo", finaliza o otorrinolaringologista.
Paciente com doença autoimune: Quais cuidados tomar em tempos de pandemia?
Indivíduos que possuem Lúpus, por exemplo, precisam tomar alguns cuidados. Segundo o Dr. Morton Scheinberg, pesquisador em doenças autoimunes, o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune, cujos sintomas podem surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva (em meses) ou mais rapidamente (em semanas) e variam com fases de atividade e de remissão.
Quem sofre de Lúpus não pode ser vacinado contra a Covid-19?
Mito - Segundo Dr. Scheinberg, o quadro de Covid-19 em portadores de doença autoimune tem sido muito variável. Alguns estudos, com número elevado de pacientes, dão conta de que não há muita diferença no quadro clínico de um paciente com e sem doença autoimune que desenvolve a forma mais grave da Covid-19.
Os estudos que avaliaram a eficácia das vacinas excluíram os pacientes portadores de doenças autoimunes, mas os benefícios para seguir com a vacina é melhor nestes casos do que não tomar. "Não há relatos de eventos adversos graves nesse grupo de pacientes que tomaram a vacina. Mas o ideal é que o paciente se informe com o médico que o acompanha", finaliza o Dr. Morton Scheinberg.
Fontes: Dr. Gilberto Ulson Pizarro, otorrinolaringologista do Hospital Paulista e Dr. Morton Scheinberg, pesquisador em doenças autoimunes, PhD (Universidade de Boston/EUA), livre-docente em imunologia (USP), e reumatologista do Hospital Israelita Albert Einstein.