Moradora do litoral de SP teve 4 pessoas da família com sintomas de virose após ‘surto’ da doença na região
As causas do surto de virose são investigados por autoridades das cidades do litoral paulista
O litoral de São Paulo enfrenta um ‘surto’ de virose neste início de ano. A projetista Michele Clark Lacerda, de 38 anos, foi uma das pessoas que apresentou sintomas da doença. Além dela, outras quatro pessoas de sua família ficaram doentes depois de curtir alguns dias na praia.
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Ao Terra, a moradora de Bertioga contou que recebeu alguns parentes de Cerquilho, cidade do interior paulista, em casa para passar o fim de ano, entre eles, cunhados, sobrinhos e os sogros. A primeira pessoa a apresentar os sintomas da doença foi sua filha, de 10 anos, e a sobrinha.
“Tiveram dores abdominais e vômito no dia 29”, explica. “Depois, no dia 4 de janeiro, minha sogra teve diarreia e meu sogro começou a ter sintomas como vômito, diarreia, febre e dores no corpo”. A projetista diz que eles estavam há alguns dias frequentando as praias da cidade, comendo porções, e entrando no mar.
“A gente acha que pode ter sido a forma de preparo dos alimentos, a água. Entramos na água do mar todos os dias. Primeiro foram as crianças que começaram com vômitos. A gente achou que fosse alguma coisa de alimentação. Aí depois a minha sogra com diarreia, e aí a gente foi se dar conta de que era virose”, aponta.
A gastroenterocolite aguda, mais conhecida como virose, é contraída pelo contato com água contaminada com bactérias fecais. A doença provoca sintomas como diarreia, vômito, náuseas, cólicas e febre. Sua duração varia de um dia a uma semana, podendo levar à desidratação leve, moderada e grave.
Depois de três dias que as crianças e sogros ficaram mal, ela também apresentou os sintomas, só que piores, como febre e dor no corpo. Michele afirma que esse é o terceiro fim de ano que isso ocorre, e não procurou atendimento médico. A família se hidratou bastante, fez uso de isotônico e tomou remédio em casa mesmo, pois sabia que o hospital estaria cheio.
“A gente ficou com receio, principalmente pelo meu sogro, que é idoso. Quando desidrata sabe que é perigoso, e ele que também teve todos os sintomas. A minha filha ficou muitos dias com dores abdominais e disenteria, apesar de ela não ter continuado com vômito. A gente realmente ficou com muito receio, mas agora já passou e está todo mundo melhor”, finaliza.
Outros casos
A reportagem teve contato com duas pessoas que moram em Santos e que apresentaram sintomas. Ambas optaram por não procurar auxílio médico, devido à demanda dos hospitais na região, e se trataram em casa.
Uma designer, de 32 anos, que preferiu não se identificar, relatou que começou a ter os sintomas logo no dia 1º, após passar a virada do ano em uma praia da cidade. “Na quarta-feira já estava sem apetite e com indisposição, na quinta-feira, 2, começaram os outros sintomas, como diarreia e vômito”, explica.
Ela chegou a ter febre, ficar constantemente nauseada e passou um dia inteiro de cama. Os sintomas a deixaram letárgica. Embora tenha apresentado os sintomas, não se lembra de ter comido nada na rua nos dias de celebração do final do ano. Portanto, não tem ideia de como pegou.
“Acho que por acompanhar amigos e conhecidos passando pelo mesmo não tive medo, principalmente porque vários deles já estavam bem. Só me assustou como se espalhou rápido e me preocupou imaginar pessoas mais velhas passando por isso, que moram sozinhas, por conta da fraqueza”, confessa.
Já a estudante de 25 anos, que também não quis se identificar, disse que teve os primeiros sintomas na última sexta-feira, 3, como desconforto abdominal. Em uma hora, além de muito enjoo, passou a ter diarreia. “Foi totalmente de uma hora pra outra. Na noite do dia 4 [sábado], tive febre e calafrios também e somente no dia 5 comecei a sentir que estava tranquilizando, mas não estou 100%”, relata.
Ela também afirmou que não comeu nada fora de casa nos últimos dias, mas que no dia 31, usou a água do chuveirinho da praia, no Canal 5. Depois, descobriu que teve contato com pessoas que tiveram virose.
“Felizmente não cheguei a um caso de não conseguir ministrar medicação via oral. Me hidratei e tomei medicações conhecidas para controlar vômito e reconstituir flora intestinal, que é o de praxe. Até melhor para evitar os hospitais lotados”, afirma.
A estudante também disse que não teve medo que fosse algo grave, mas preocupada de ser contagioso e passar para outras pessoas de seu convívio. “Apenas eu apresentei sintomas em uma casa de quatro pessoas, felizmente. Os sintomas fortes em si só existiram nos primeiros dois dias, acho que varia muito de cada caso”, aponta.
Surto de virose
O litoral paulista teve os primeiros dias do ano marcado por um ‘surto de virose’, que levou turistas e moradores a procurar atendimento médico. Em Guarujá, por exemplo, o sistema de saúde ficou sobrecarregado, com filas longas de pacientes com sintomas de náuseas, vômitos, diarreia e dores intensas na barriga. O maior pico ocorreu entre os dias 1º e 3, com tempo de espera que passava de quatro horas.
No sábado, 4, a Secretaria Municipal de Saúde do Guarujá informou que o tempo médio para atendimento médico girava em torno de 1 hora em algumas unidades, e na manhã de domingo, 5, o fluxo de pessoas se encontrava dentro da normalidade.
Conforme o Estadão, na última sexta-feira, a prefeitura do Guarujá afirmou que acionou a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para investigar possíveis vazamentos e ligações clandestinas de esgoto na região da Enseada, que poderiam estar relacionados ao aumento de casos de virose na cidade.
Além disso, o município aguarda os resultados de análises laboratoriais de amostras encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz para tentar esclarecer a origem dos casos de gastroenterocolite aguda, uma doença que causa inflamações no estômago e intestino, provocando cólicas, diarreias e, alguns casos, febre. O monitoramento segue principalmente no Guarujá e na Praia Grande.
A Sabesp, por sua vez, disse que adotou medidas para verificar as solicitações da prefeitura e prestou os esclarecimentos necessários à Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A companhia acrescenta que tem monitorado o sistema de esgoto da Baixada Santista e que "ele está operando normalmente".
"Cabe destacar que as fortes chuvas podem sobrecarregar o sistema (de esgoto) devido à entrada irregular de água pluvial, já que o sistema não foi projetado para essa finalidade", afirma ainda a Sabesp em nota.