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Mortos por covid-19 no Brasil passam de 15 mil

O número de vítimas chegou a 15.633 vítimas e o de casos de covid-19 a 233.142, segundo o Ministério da Saúde.

16 mai 2020 - 19h36
(atualizado às 19h57)
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SÃO PAULO - O Brasil levou 53 dias, a partir da primeira morte por coronavírus, para ultrapassar a marca de 10 mil vítimas (no último dia 9). Mas foi necessária somente uma semana para superar os 15 mil mortos. Neste sábado, 16, o número de vítimas no País chegou a 15.633 vítimas e o número de casos de de covid-19 a 233.142, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Foram 816 novos óbitos registrados em 24 horas e 15.633 novos casos.

Somente em São Paulo, 4.688 pessoas morreram em decorrência da infecção, e o Estado já superou o número de vítimas da China (4.637), onde a pandemia começou em dezembro. Em número de casos, o Brasil ultrapassou Itália e Espanha e agora é o 4º em mais casos no mundo. De acordo com levantamento da Universidade Johns Hopkins, Itália tem 223.885 casos e Espanha, 230.698.

Funcionários do Samu atendem paciente de coronavírus em Manaus (AM) 
12/05/2020
REUTERS/Bruno Kelly
Funcionários do Samu atendem paciente de coronavírus em Manaus (AM) 12/05/2020 REUTERS/Bruno Kelly
Foto: Reuters

A curva da epidemia está rapidamente acelerando no País, em um crescimento exponencial, bem no momento em que o governo Bolsonaro aumenta a pressão para a redução das medidas de isolamento e com o Ministério da Saúde sem um titular. Nelson Teich pediu exoneração nesta sexta e ainda não foi indicado seu substituto. Para especialistas, deveríamos estar na direção contrária, adotando o lockdown, sob o risco de testemunharmos uma tragédia.

"Nesse ritmo, no dia 20 devemos passar de 20 mil mortos. Não estaríamos assim se estivéssemos tomando medidas mais adequadas de contenção. Mas se mesmo isso for perdido, e o presidente conseguir quebrar as restrições que municípios e Estados estão adotando, vamos ver esses números crescerem ainda mais rapidamente", afirma o físico Domingos Alves, da USP de Ribeirão Preto.

O pesquisador integra o grupo Covid-19 Brasil, uma força-tarefa de cientistas de mais de 10 universidades brasileiras que atua desde o início da epidemia no Brasil monitorando casos e fazendo previsões de crescimento a partir de técnicas de ciências de dados. A estimativa é que a taxa de crescimento possa ficar cinco vezes mais rápida que a atual se for implementado um isolamento mais brando, como proposto por Bolsonaro.

Pelos cálculos do grupo, se todos os municípios com mais de 80% de ocupação dos leitos de UTI implementarem lockdown, e aqueles com entre 60% e 80% de lotação adotarem medidas mais restritivas, com mais de 70% da população em isolamento, o número de óbitos deve só começar a cair entre o fim de julho e o começo de agosto.

"E ainda estamos falando que por aquele momento já teremos algo em torno de 80 mil óbitos", estima.

Segundo ele e outros especialistas ouvidos pelo Estado, o País ainda não chegou ao pico - entendido como o momento de máximo de casos, que depois vão começar a decrescer - e é difícil estimar quando exatamente isso deve ocorrer, mas o nível de crescimento atual preocupa.

"A epidemia não funciona como acidentes geográficos onde há montanhas com picos bem determinados. Saberemos quando foi o pico quando ele tiver passado. Estamos em uma curva ascendente de quase mil óbitos por dia com grande probabilidade de nos aproximarmos das mortes dos países europeus em 15 dias", afirma o epidemiologista Paulo Lotufo, da USP.

Lockdown já deveria ter sido adotado

Para ele, o lockdown já deveria ter sido aplicado na região metropolitana de São Paulo há duas semanas. "Importante destacar que há Estados como Minas Gerais que não estão testando os casos e com número muito baixo de notificação de óbitos. Algo parecido está acontecendo na Bahia. São dois Estados populosos onde com certeza houve muitos mais "A velocidade para chegar ao pico está relacionada às medidas adotadas. Se todo mundo voltar às ruas, é claro que será mais rápido, mas com colapso do sistema de saúde. O 'achatar da curva' significa jogar o fim da epidemia mais para frente", explica Alves.

"Os números mostram que a situação está completamente fora de controle. E os dados não indicam que estamos nos aproximando do pico", complementa o médico Ricardo Schnekenberg, doutorando na Universidade de Oxford, que vem também acompanhando o desdobramento da epidemia no País.

"Nossa fração de infectados na população ainda é muito baixa, de menos de 5% em praticamente todos os Estados. A não ser que novas medidas de restrição sejam instituídas, o pico acontecerá quando cerca de 2/3 da população tiver sido infectada. Estamos longe, mas caminhando pra isso."

Ele comparou a taxa de crescimento de mortes por milhão de habitantes nos 12 países com mais vítimas ao longo dos últimos dez dias em todo o mundo e observou que a do Brasil é das mais altas (veja quadro acima). Os valores de sexta foram quase 80% mais altos que os do dia 6, um crescimento por milhão de habitantes similar ao do México.

Schnekenberg fez a conta diante de comentários de apoiadores do presidente que pipocaram nas redes nos últimos dias sugerindo que as mortes por milhão de habitantes do País eram baixas. O gráfico, porém, comparava com países europeus que já passaram pelo pico. "Mas se olhamos o momento atual, o que estamos vendo é que os números do Brasil estão aumentando rapidamente a cada dia", diz.

Estadão
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