Não cometa esses erros tão comuns no combate ao lipedema
Apesar de ser um dos pilares no tratamento do lipedema, lipoaspiração não é indicada para todos os casos
Lipedema é uma doença que afeta 10% da população feminina, mas a lipoaspiração não é a solução única. Tratamento clínico, dieta anti-inflamatória e acompanhamento médico são fundamentais.
Afetando aproximadamente 10% da população feminina, o lipedema é uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido gorduroso com aumento desproporcional no tamanho dos membros, principalmente em áreas como coxas, culotes e quadris e pernas. Por esse motivo, muitas pessoas enxergam a lipoaspiração como a melhor e, às vezes, única alternativa para combater o problema, o que é um grande erro.
“A imagem da lipoaspiração como grande solução para o lipedema é uma ideia simplista. Não basta apenas retirar essa gordura, pois não se trata simplesmente de um acúmulo de gordura qualquer. O lipedema é uma doença sistêmica, então somente fazer uma lipoaspiração não resolve”, afirma a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
A médica ressalta que a lipoaspiração realmente faz parte dos pilares de tratamento contra o lipedema, mas não é necessária e nem indicada em todos os casos e sempre deve ser acompanhada do tratamento clínico.
“Em casos mais iniciais, somente o tratamento clínico pode ser suficiente para controlar a doença. Quando isso não acontece, a lipoaspiração pode ser indicada, assim como nos casos mais graves da doença, em que há limitação do movimento”, diz a médica.
Ela também afirma que, caso a lipoaspiração seja indicada incorretamente e não seja associada, antes e depois, ao tratamento clínico, a gordura retornará após algum tempo.
Além da crença de que a lipoaspiração é sempre a melhor solução para o lipedema, outro grande erro no tratamento da doença, segundo Aline Lamaita, é investir em dietas altamente restritivas, principalmente focadas em restrição calórica.
“A gordura do lipedema é doente e não cede à restrição calórica como a gordura convencional. Insistir em dietas simplesmente focadas em perda de peso, além de não funcionar, acaba causando grande frustração nas pacientes”, afirma a especialista. “Além disso, essas dietas não são sustentáveis e o paciente tende a recuperar facilmente o peso que perdeu”, explica.
Mudanças na alimentação são realmente importantes para combater o lipedema, mas o foco deve ser, principalmente, na redução dos gatilhos alimentares da doença, que são muito pessoais. “Cada pessoa tem gatilhos alimentares específicos, mas, entre os mais comuns, podemos citar o açúcar, o glúten, os alimentos industrializados e as bebidas alcoólicas. De maneira geral, em casos de lipedema, sempre recomendamos apostar em uma alimentação baseada em ingredientes com ação anti-inflamatória”, aconselha a cirurgiã vascular.
A médica ainda explica que uma dieta adequada também contribuirá com a manutenção e controle do peso, o que é fundamental para pacientes com lipedema, já que grandes oscilações de peso, o famoso efeito sanfona, pioram o quadro, favorecendo o acúmulo da gordura doente.
A cirurgiã vascular ainda cita mais um erro no tratamento da doença: simplificar o lipedema, que é extremamente complexo, a uma questão estrogênica. “O lipedema possui sim um fator hormonal importante. Esse é um dos principais gatilhos da doença. Em momentos de flutuação de estrogênio, como no período menstrual e na gestação e durante o uso de certos medicamentos contraceptivos, a condição tende a piorar. Porém, é uma condição multifatorial que não se resume apenas ao excesso desse hormônio no organismo. Se fosse assim, apenas utilizar medicações que bloqueiam o estrogênio resolveria o problema. Mas isso não acontece”, alerta a médica.
De acordo com a especialista, o grande problema desses erros no tratamento é que, além de não serem eficazes e gerarem frustação nas pacientes, favorecem a piora do quadro, prejudicando a qualidade de vida e levando ao surgimento de dificuldades de locomoção, linfedema, disfunções circulatórias, como insuficiência venosa, e até problemas ortopédicos nos joelhos, seja pela sobrecarga ou alteração da própria articulação. Por isso, é fundamental buscar um cirurgião vascular especialista para receber o tratamento adequado, pois, apesar de ser uma doença crônica, o lipedema pode ser controlado quando devidamente abordado.
“Um bom tratamento de lipedema começa pelo cirurgião vascular, mas o acompanhamento com endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e, eventualmente, ortopedistas e cirurgiões plásticos também é fundamental”, diz Aline Lamaita, que explica que mudanças no estilo de vida com adoção de uma alimentação anti-inflamatória e prática regular de atividade física são estratégias importantes para controlar a evolução do lipedema.
“Mas outras medidas devem ser adotadas, como uso de meias de compressão e medicamentos e realização de sessões de fisioterapias, tratamentos vasculares e até lipoaspiração para retirada do tecido doente”, finaliza.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.