Não é só o pulmão: cigarro também faz mal para os ossos, coração, cérebro, pele e outros órgãos
Resposta vacinal também pode diminuir no fumante; veja por que você deveria aproveitar o Dia Nacional de Combate ao Fumo para largar o vício
Quando se pensa nos impactos negativos do uso de cigarro, os danos pulmonares que o tabagismo causa são as primeiras associações que fazemos. No entanto, a fumaça do cigarro contém uma série de substâncias tóxicas que afetam profundamente o funcionamento de diversos órgãos e sistemas do corpo. No Dia Nacional de Combate ao Fumo, veja por que você só tem a ganhar ao abandonar esse vício.
Em entrevista ao Terra Você, o médico ortopedista especialista em coluna vertebral, Daniel Oliveira, conta que o uso de cigarros tem um impacto negativo significativo na saúde da coluna vertebral, afetando tanto a sua estrutura quanto a sua função.
“O tabaco contém nicotina, que causa vasoconstrição, reduzindo o fluxo sanguíneo para os discos intervertebrais e as vértebras. Isso compromete a nutrição desses tecidos, levando à degeneração dos discos, que pode resultar em condições como hérnias discais e dor lombar crônica”, explica o especialista.
Além disso, fumar prejudica a capacidade do corpo de reparar tecidos danificados. Os discos intervertebrais e outros tecidos da coluna vertebral dependem de um bom suprimento de sangue e oxigênio para se regenerar. A hipoxia (falta de oxigênio) causada pelo fumo impede esse processo de reparo, acelerando a degeneração.
Coração
A cardiologista do Hospital Felício Rocho, Eliana Lopes, diz que o tabagismo através da absorção de nicotinas e substâncias relacionadas a fabricação do cigarro podem comprometer a saúde vascular, através da intoxicação dos tecidos.
A nicotina pode, particularmente, lesar o endotélio, fazendo com que placas de gordura possam estar aderidas à parede do vaso causando obstrução e aumento da resistência vascular. Essas duas alterações podem causar progressivamente comprometimento da irrigação dos órgãos, atrapalhando a função dos mesmos.
A associação dessas lesões compromete o funcionamento do sistema cardiovascular, aumentando o risco de doenças relacionadas ao mesmo, principalmente infarto, insuficiência cardíaca e doenças dos vasos arteriais ou, exemplificando, aneurisma de aorta torácica e abdominal.
“É importante salientar que o comprometimento cardiovascular independe do número de cigarros e, sim, do efeito maléfico do mesmo. Temos ainda, que lembrar, que o fumante passivo pode também evoluir com esse comprometimento, apenas pelo fato de estar inalando a fumaça”, destaca a médica.
Cérebro
O médico neurocirurgião, Felipe Mendes, conta que o uso de cigarros pode afetar o cérebro de maneira significativa, causando diversas alterações neuroquímicas e estruturais que podem trazer consequências graves para a função cognitiva.
“A principal substância psicoativa presente no cigarro é a nicotina, que estimula a liberação de neurotransmissores como dopamina, acetilcolina e serotonina. Embora a dopamina possa proporcionar uma sensação de prazer e recompensa, a exposição crônica pode levar a um ciclo de dependência, atuando no sistema de recompensa do cérebro”, diz o neurocirurgião.
O médico conta que alguns estudos mostram que o tabagismo crônico está associado a declínio cognitivo, afetando a memória, a atenção e a capacidade de aprendizado.
A exposição prolongada à nicotina e a outras toxinas do cigarro pode contribuir para o envelhecimento precoce do cérebro, aumentando o risco de doenças neurodegenerativas, como a demência de Alzheimer.
Até mesmo a capacidade de tomar decisões, planejar e resolver problemas também podem ser prejudicadas pela exposição crônica à nicotina, afetando significativamente a qualidade de vida e a capacidade de lidar com tarefas cotidianas.
Pele
O tabagismo tem efeitos profundamente prejudiciais sobre a pele, contribuindo significativamente para o envelhecimento precoce e uma variedade de problemas dermatológicos.
O médico dermatologista, Lucas Miranda, conta que o tabagismo acelera a formação de rugas, especialmente em áreas como os lábios e os olhos, onde a pele é mais fina. Isso ocorre devido à degradação do colágeno e elastina, proteínas essenciais para a firmeza e elasticidade da pele.
“A pele perde sua capacidade de se recuperar e fica mais flácida, resultando em um aspecto envelhecido. Fumantes frequentemente apresentam um tom de pele opaco, devido à diminuição da oxigenação e do fluxo sanguíneo. Isso pode resultar em uma aparência cinza ou amarelada”, conta o médico.
Com relação aos problemas dermatológicos, fumar prejudica a capacidade do corpo de curar feridas, o que pode levar a complicações em processos de cicatrização, aumentar o risco de desenvolver doenças dermatológicas como psoríase, hidradenite supurativa e doenças vasculares, como a vasculite e também está associado a um maior risco de carcinoma espinocelular, um tipo de câncer de pele.
Sistema digestivo e órgãos relacionados
O tabagismo também pode ter uma série de efeitos prejudiciais no sistema digestivo e nos órgãos relacionados. O médico Mauro Jacome, especialista em endoscopia, cirurgia e gastroenterologia, conta que o tabagismo pode aumentar a produção de ácido no estômago, levando a uma maior incidência de gastrite e úlceras pépticas.
“Além disso, a nicotina presente no cigarro pode diminuir a produção de bicarbonato, que protege o revestimento do estômago, exacerbando o risco de úlceras. Fumantes frequentemente experienciam sintomas de dispepsia, como dor ou desconforto no estômago, náusea e distensão abdominal”, diz o médico.
No caso do fígado, pacientes que fumam têm um maior risco de desenvolvimento de esteatose hepática não alcoólica, uma condição em que gordura se acumula no fígado, podendo evoluir para condições mais graves como esteato-hepatite e cirrose.
O fígado é responsável pela metabolização de várias substâncias, e componentes do cigarro podem interferir nesse processo, potencialmente alterando a eficácia e a segurança de medicamentos e aumentando o risco de toxicidade hepática.
Fumar também é um fator de risco bem estabelecido para câncer de esôfago e está associado a um risco aumentado de câncer gástrico. Substâncias carcinogênicas presentes na fumaça do cigarro podem danificar o DNA das células, levando à formação de tumores.
Além disso, ele pode afetar a motilidade do trato gastrointestinal, levando a sintomas como refluxo gastroesofágico, constipação ou, paradoxalmente, diarreia.
Sistema imunológico
O uso de cigarros tem um impacto negativo significativo no sistema imunológico, comprometendo sua capacidade de combater infecções e doenças.
A médica pneumologista da Saúde no Lar, Michele Andreata, conta que a fumaça do cigarro contém uma variedade de substâncias tóxicas e mais de 7.000 compostos químicos, muitos dos quais são conhecidos por serem imunossupressores. Estes compostos afetam o sistema imunológico de várias maneiras.
“Ele prejudica a função dos macrófagos e neutrófilos, que são células fundamentais na defesa do corpo contra infecções. Isso resulta em uma menor capacidade de fagocitar e destruir patógenos”, explica a especialista.
Pacientes que fumam tendem a ter uma produção diminuída de anticorpos, o que compromete a resposta imune adaptativa, deixando o corpo mais vulnerável a infecções.
A exposição contínua à fumaça do cigarro também induz um estado de inflamação crônica, o que pode levar a uma disfunção imunológica. Esse estado inflamatório é prejudicial porque pode alterar a resposta imunológica normal e aumentar o risco de doenças autoimunes.
Além disso, a resposta vacinal em fumantes é frequentemente menos eficaz, resultando em uma proteção subótima contra doenças preveníveis por vacinação.