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"Ninguém está a salvo", diz médico que atua contra pandemia

Em caráter anônimo, profissional do Hospital das Clínicas de São Paulo relata medo do avanço do novo coronavírus

26 mar 2020 - 16h11
(atualizado às 16h15)
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O Hospital das Clínicas de São Paulo está na linha de frente no combate à pandemia do novo coronavírus. Nesta sexta-feira (27) passa a receber apenas pacientes infectados com a covid-19, numa movimentação que abre espaço para mais 900 leitos no complexo. Em nota, o HC fala em "ação de guerra" para atender a todos.

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Foto: Wikimedia Commons / Estadão Conteúdo

O Estado conseguiu um relato emocionante de um dos profissionais que trabalham no local diariamente, com a promessa de anonimato.

Trata-se de uma visão de dentro do HC, com olhar especial para o trabalho dos centenas de profissionais da saúde, cada um em sua especialização, mas também do sofrimento e pressão de muitos deles. Nem todos suportam, o que é natural. O momento pede paciência. Após receber a informação do tratamento apenas de pacientes com o vírus, os profissionais do HC estão deixando suas casas ou mandando familiares para outras residências, para evitar possível contaminação em casa.

A seguir, o relato:

"Estamos em uma guerra velada, um contágio do medo e o real avanço de uma doença mundial que nos devasta.

Nossas férias foram canceladas, por decisão governamental, quer sejamos administrativos ou assistenciais, velhos ou novos, doentes ou sadios.

Todos estão aqui. Há quem não aguentou a pressão e pediu demissão. Não os culpo. Há quem se afastou por questões psocológicas e há simplesmente quem abandou o barco. Teve um dia em que oito colegas faltaram. Todos fazem falta.

A cada momento um funcionário fica doente, de forma real ou pelo medo que vive a sociedade com o novo coronavírus.

O serviço médico está abarrotado de pessoas aflitas e nem sempre infectadas com a covid-19. Mas todas apavoradas, talvez nem com a saúde delas próprias, mas de entes queridos deixados em casa e que vão recebê-los na volta do trabalho.

O HC está instrumentalizado para o combate. Nesta semana, fomos avisados de que receberemos a partir de sexta só pacientes do coronavírus. Já começou. Temos um comitê de crise, ações contínuas e toda liderança envolvida para o que for necessário. Somos um gigante! E o vírus, um gigante visitante indesejado e com exigências absurdas (da nossa saúde).

O movimento é grande para a abertura de novos leitos com apoio e dedicação de muitos. A cada dia há uma estratégia para correr na frente e (impedir) que o vírus avance. O cenário é tenso e quando esse complexo hospitalar se volta somente para o atendimento de pessoas infectadas ou com suspeitas de ter covid-19, não podemos ainda achar que a mídia esteja exagerando.

Estamos com medo, mas estamos aqui.

Quem puder, fique em casa!!!!!!!

O lamento é estarmos na iminência de mortes diariamente que podem ser de alguém da minha e da sua família, de famílias próximas, de amigos ou até anônimos. Ninguém está imune. Ninguém está salvo. Ninguém pode se esconder. Mas podemos nos salvar lavando sempre as mãos e, quem puder, ficando em casa. Seguimos por aqui."

Estadão
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