Nipah: como surgiu o vírus e como é a forma de transmissão
Índia sofre com novo surto do vírus, que tem mortalidade de 70%. Entenda o que é o Nipah e se ele pode chegar no Brasil
A Índia entrou em alerta após duas pessoas morrerem infectadas pelo vírus Nipah, raro e altamente letal. Outras três, uma delas criança, estão internadas.
Os casos ocorreram em Kerala, no sul do país, região que sofre o quarto surto do vírus desde 2018 — só o primeiro matou 21 dos 23 infectados. Por isso, ao notificar o novo surto, o governo indiano determinou o fechamento de escolas e escritórios para tentar conter a transmissão.
Resumo:
- Nipah vírus surgiu na Malásia e provoca surtos anuais desde 2001
- Vírus é transmitido de animais para humanos, entre humanos e por meio de comida contaminada
- Sintomas vão de febre e dor de cabeça a convulsões e podem deixar sequelas
O que é o vírus Nipah e como surgiu?
Vírus da família Paramyxoviridae, a mesma dos transmissores de doenças como caxumba e sarampo, o Nipah é um patógeno de nível 4 de biossegurança. Isso significa um alto potencial de letalidade — a taxa de óbito entre os infectados é de 40% a 75%.
A infectologista Luana Araújo explica em suas redes sociais que o vírus foi identificado pela primeira vez em 1999, no vilarejo de Nipah (de onde vem o nome), na Malásia. Depois disso, o agente infeccioso foi registrado em Singapura e costuma provocar surtos anuais nessa região do globo desde 2001.
No caso da Índia, o estado de Kerala enfrentou outros três surtos de 2018 para cá. Só no primeiro, 21 dos 23 infectados morreram.
Formas de transmissão
Como explica a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Nipah é um vírus zoonótico. Ou seja, transmitido de animais para humanos. Luana lembra que o morcego é o reservatório natural do vírus, mas há registros de contaminação por meio de porcos infectados também.
Outras formas de contágio destacadas pela OMS são a ingestão de alimentos contaminados por secreções de animais infectados e de pessoa para pessoa. Nesse último caso, é possível se infectar ao ter contato com secreções respiratórias, urina, sangue, fezes, saliva, entre outras, de um humano contaminado.
Sintomas
O Centro de Controle e Prevenção a Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) explica que as pessoas costumam desenvolver os sintomas entre 4 e 14 dias pós-exposição ao vírus. Os primeiros sinais geralmente são febre, dor de cabeça, tosse, dor de garganta, vômito e dificuldade para respirar.
Em casos mais graves, outros sintomas comuns são desorientação, sonolência ou confusão, convulsões, coma e encefalite. Além da taxa alta de óbito, sobreviventes podem sofrer com sintomas persistentes, como convulsões e alterações de personalidade.
Diagnóstico
A infectologista Luana Araújo alerta para o fato de que não é possível fazer diagnóstico puramente clínico, apenas com base nos sintomas. É preciso levar em conta o histórico do paciente — se esteve em área de risco, por exemplo —, e realizar exames específicos.
Na fase inicial, o indicado é solicitar exame RT-PCR, comum na pandemia de Covid-19, em secreções variadas, como sangue e urina. Em caso de diagnóstico tardio, a detecção deve ser feita através do ensaio de imunoabsorção enzimática (Elisa), uma sorologia para identificar anticorpos contra o vírus no paciente.
Tratamento
Não há remédios para tratar o Nipah. Assim, o tratamento é de suporte, com avaliação médica sobre a melhor forma de atenuar os sintomas da doença.
Também não há vacina existente para combater o agente infeccioso. A OMS ressalta que o vírus é reconhecido como prioridade, mas, apesar dos esforços, nenhum imunizante foi aprovado ou está perto disso.
O Nipah pode chegar no Brasil?
O Nipah é reconhecido como um potencial causador de pandemia, dado a sua letalidade, mas desde que foi descoberto na década de 1990, ele se concentra no sul da Ásia. Portanto, longe do Brasil, na América do Sul.
Com esse novo surto, a Índia adotou medidas urgentes, como o fechamento de escolas e escritórios em Kerala e a testagem em massa. São ações que visam justamente conter a transmissão do vírus para que não surjam novos casos, inclusive em outras regiões e países.