No pior cenário, governo quer mais 20 mil leitos contra novo coronavírus
Número foi apresentado em reuniões recentes do Ministério da Saúde e do gabinete de crise
BRASÍLIA - Com o crescimento de casos de novo coronavírus no Brasil, o governo tem discutido com a indústria cenários para enfrentar doença. Na projeção mais pessimista, com quadro similar ao que ocorre na Itália, a ideia é instalar até 20 mil novos leitos para atender pacientes do vírus. O número foi apresentado em reuniões recentes do Ministério da Saúde e do gabinete de crise instalado no Planalto.
O governo e o setor de saúde têm tentando encontrar soluções para montar estas estruturas. Até agora, o governo só anunciou a contratação de equipamentos para montar 2 mil leitos. Os Estados também têm aberto espaços por conta própria. Nesta sexta-feira, 20, o ministério publicou portaria para custear — diária de R$ 800 — 2.540 leitos, que são a soma do previsto até aqui pelo governo Bolsonaro e o já instalado pelos governadores.
Os leitos de UTI funcionam com cama, monitor multiparamétrico (para medir sinais vitais), bomba de infusão, oxímetro de pulso e respirador, entre outros produtos. Para chegar ao número máximo de leitos, o governo já avalia usar hospitais de campanha e até requisitar espaços da rede privada.
Projeções
Em cenário otimista, que conta com o sucesso de medidas de restrição de circulação, por exemplo, para baixar a curva de casos da doença, o governo espera ter de instalar até 5 mil leitos, segundo relatos feitos à reportagem.
Somando redes pública e privada, o Brasil tem 55,1 mil leitos e 65.411 respiradores, equipamento tido como essencial para tratar casos graves da síndrome respiratória.
Um desafio será encontrar produtos para montagem dos leitos. A indústria tem relatado que a produção fora do Brasil está comprometida com encomendas de países mais ricos e atingidos antes pela covid-19. Já a produção nacional seria insuficiente para suprir a demanda. São apenas quatro fábricas de respiradores no País.
Algumas opções estão sendo traçadas. O governo tem interesse em aproveitar a baixa de casos na China para usar produtos fabricados e até já usados por lá. Como muitos destes dispositivos não têm registro no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia flexibilização de regras para importação.
Outra ideia é reservar linhas de produção de empresas estrangeiras apenas para atender a demanda brasileira.
Nos dois casos, a indústria tem alertado que o governo precisa apresentar logo a sua proposta ao mercado -- senão, pode ficar para trás na corrida global por produtos contra a pandemia. Segundo o setor, o mais correto não é o governo perguntar "quanto a indústria pode fornecer", mas apresentar uma demanda sólida, aproveitando o forte poder de compra do SUS para forçar o interesse de empresas. O mercado de saúde brasileiro é cobiçado pelas compras em escala nacional, que atendem a milhões de pacientes.
O governo tem dito que pretende estimular a produção no Brasil. "O presidente tem dado total atenção, ele deve conversar com o empresariado, entre outras coisas, sobre fazer esforço para produção aqui no Brasil de respiradores", contou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. "Vamos lutar e vamos fazer, máscara também. Não tem essa de material da China, vamos ver qual material pode fazer, se precisar, não tem problema, se não tiver descartável vamos de pano", declarou. Segundo pessoas que participam das discussões, em reuniões internas fica mais claro, no entanto, que boa parte da demanda terá de ser atendida por importações.
Procurado, o Ministério da Saúde informou que "conforme a necessidade do enfrentamento poderão ser adotadas medidas, como a realização de giro de leitos e reorganização de cirurgias que não são emergenciais, além de novas locações de leitos emergenciais". "As medidas serão implementadas conforme as necessidades locais", disse a pasta.
Ajuda à rede privada. Mandetta anunciou nesta quinta-feira, 19, que o governo vai facilitar a liberação de R$ 10 bilhões aos planos de saúde. O valor faz parte de um fundo garantidor, vinculado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), composto por recursos das operadoras.
Com a medida, o governo quer garantir que os planos de saúde consigam usar 20% do fundo garantidor, cujo valor total é de R$ 53 bilhões. A expectativa é que as operadoras usem os recursos para comprar equipamentos e reforçar o número de leitos. O objetivo é não sobrecarregar ainda mais o sistema público de saúde em meio ao avanço do novo coronavírus nos próximos meses.
"A Agência Nacional Saúde faz com que os planos de saúde depositem um recurso, um dinheiro, que é a garantia, para, caso deixem de funcionar, paguem as pessoas. Esse fundo garantidor, desde 2012, 2013, 20% dele pode ser utilizado para a construção de hospitais, compra de equipamentos. E o setor vinha usando pouco esse recurso. A burocracia era muito difícil. Praticamente não mexeram com isso. O valor total somado, o fundo chega a R$ 53 bilhões depositados no banco para situações como essa", afirmou Mandetta.