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No que os pais falham ao lidar com o sexting dos filhos

Não adianta adotar um tom simplista e apenas dizer 'não'. É importante, advertem os estudiosos, saber ouvir e fazê-los falar

10 set 2022 - 05h11
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O sexting - compartilhamento digital de textos e imagens de conteúdo sexual explícito - está inextricavelmente entrelaçado à cultura da vida adolescente e vem se tornando cada vez mais comum e complexo nos últimos anos. No entanto, muitos pais e mães ainda adotam a abordagem simplista de dizer aos filhos: "Só diga não".

Isso é um erro, de acordo com Carrie James e Emily Weinstein, pesquisadores de Harvard e coautoras de Behind Their Screens: What Teens Are Facing (and Adults Are Missing), algo como Por Trás das Telinhas: o Que os Jovens Estão Fazendo - e os Adultos não Estão Percebendo). "Dizer 'não faça sexting' acaba com a conversa", disse James. E, quando se trata de nudes, há muito para adolescentes, pais e mães conversarem. Em sua pesquisa, ela e Weinstein descobriram que adolescentes fazem sexting por vários motivos, alguns dos quais podem não ter ocorrido aos adultos, e que as garotas estão criando estratégias sofisticadas para desencorajar o vazamento de nudes.

"Uma das coisas que encontramos em nossas conversas com adolescentes é que muitos dos dilemas em torno do sexting são bem complicados", contou Weinstein, que, junto com James, é pesquisadora do Projeto Zero de Harvard, que explora temas em educação. "Se não estabelecermos essas conversas com os adolescentes, não os estaremos equipando para lidar com as pressões que estão enfrentando." A seguir, o que pais e mães precisam saber sobre sexting e como conversar a respeito com os adolescentes.

Algo comum

Uma meta-análise de 2018 sobre pesquisas feitas antes de junho de 2016 mostra que cerca de 15% dos adolescentes haviam mandado mensagem de conteúdo sexual, 27% tinham recebido e 12%, encaminhado sem consentimento. Outra de 2021 sobre estudos entre 2016 e o início de 2020 descobriu que 19% dos adolescentes haviam mandado essas mensagens, 35%, recebido e 15%, encaminhado sem consentimento.

Ambas, no entanto, analisaram estudos feitos antes da pandemia - e os lockdowns supostamente provocaram um aumento do sexting. De fato, isso se tornou uma preocupação tão grande que especialistas têm defendido incluí-lo nos currículos de educação sexual, descriminalizar o sexting consensual entre adolescentes e ensinar "sexting seguro", aconselhando a excluir metadados, nunca fotografar o rosto ou características corporais.

A recomendação de pesquisadoras: pais e mães devem fazer perguntas abertas, evitando julgamentos e mantendo atitude de curiosidade Foto: Miquel Perera/Unsplash.com

'É complicado'

Algumas das garotas com quem Weinstein e James conversaram em grupos de aconselhamento atuaram para reduzir as possibilidades de vazamento de seus nudes. Por exemplo, sobrepondo marcas d'água nas imagens com o nome do garoto a quem estavam enviando as fotos. Ou, em vez de enviar um nude, mandavam uma imagem do Google, capturando o resultado da pesquisa para mostrar que o corpo na foto não era delas, se a imagem fosse repassada. "Carrie e eu ficamos pensando, por que nos dar esse trabalho todo? Por que não dizer simplesmente 'não vou enviar foto para você'?", questionou Weinstein. "E começamos a ver isso como uma espécie de tática de sobrevivência."

Outra coisa que talvez não seja óbvia para pais e mães é a definição de sexting hoje. "Tendemos a usar uma palavra como sexting para pensar um tipo de situação na qual um garoto está pedindo nude a uma garota e ela precisa tomar uma decisão", avaliou James. Mas uma meta-análise de 2018 descobriu que a pesquisa sobre diferenças de gênero no envio de mensagens de conteúdo sexual é inconclusiva. E as pesquisas de James e Weinstein mostram que os jovens fazem sexting com uma ampla gama de pessoas por variadas razões. Eles às vezes acham o sexting excitante. Às vezes, podem usá-lo para mostrar interesse por alguém. Em alguns casos, adolescentes mais velhos tiveram experiências de sexting em relacionamentos consensuais e de confiança. Eles qualificaram as advertências dos adultos sobre o sexting de "sem noção".

As pesquisadoras também observaram que a comunicação digital íntima pode ser uma opção importante para jovens LGBT+ que estão explorando sua sexualidade e talvez não estejam prontos para fazê-lo em público.

Mas há muitos cenários em que os jovens fazem sexting sob pressão. Entre eles: estar sob ameaça ou coação para enviar a mensagem; ou não querer ferir os sentimentos de alguém.

Alguns dos cenários surpreenderam as pesquisadoras. Por exemplo, os pedidos de nudes de pessoas que eles veem só como amigos. Shelley Rutledge, psicóloga do Oregon, testemunhou o mesmo comportamento. Integrante de uma equipe de apoio a alunos, ela recomenda prepará-los para lidar com solicitações de imagens inadequadas assim que começam a usar a tecnologia. Não é uma situação única, contou ela. Pais e mães precisam monitorar a situação com frequência e trabalhar as "habilidades de recusa".

Pais e mães também precisam entender que o compartilhamento consensual de imagens íntimas entre adolescentes não é mais visto como inapropriado para o desenvolvimento, afirmou Rutledge. Portanto, não é incomum que jovens de 13 a 18 anos estejam interessados no tema. No entanto, adolescentes são impulsivos e talvez não tenham capacidade de entender as consequências de suas ações ou acreditem na ideia de que suas experiências são únicas e que coisas ruins não vão acontecer com eles.

Conversando com adolescentes

Então, como pais e mães podem descobrir o que está acontecendo no ambiente digital de seus filhos e conversar a respeito? Weinstein, James e Rutledge recomendam fazer perguntas abertas, evitando julgamentos e mantendo uma atitude de curiosidade. Por exemplo, você pode perguntar como é o sexting na escola, ou se os amigos de seus filhos estão falando sobre sexting.

Também é importante entender qual é a função do sexting para os adolescentes, observou Rutledge. Eles são tentados a fazer sexting porque querem fazer parte do grupo, salvar uma amizade? No caso, você pode trazer a conversa para o campo dos valores. Mas não basta ensinar os adolescentes a se defenderem de propostas sexuais inadequadas. Pais e mães também precisam dizer aos adolescentes por que não é seguro ou apropriado solicitar fotos. "Todos os gêneros pedem, todos os gêneros consentem, todos os gêneros podem explorar, todos os gêneros podem ser explorados", concluiu Rutledge. "O importante é garantir que estamos tendo conversas inclusivas, explicando por que não é seguro oferecer uma imagem, mas também por que é muito, muito injusto pedir uma imagem."

Finalmente, pais e mães devem assegurar aos filhos que eles podem pedir ajuda se o sexting der errado. Esta é outra razão, aponta Rutledge, pela qual é importante adotar uma abordagem calma, sem julgamento. Porque, no fim das contas, quando nossos filhos fazem uma má escolha ou estão sendo explorados e prejudicados, queremos que eles venham até nós. /TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Estadão
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