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Novo antibiótico pode ser eficaz contra gonorreia resistente

Medicamento, ainda não aprovado, foi desenvolvido por organização sem fins lucrativos

10 nov 2023 - 18h04
(atualizado às 19h47)
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A "Neisseria gonorrhoeae" se espalha por contato sexual para os genitais, reto e garganta
A "Neisseria gonorrhoeae" se espalha por contato sexual para os genitais, reto e garganta
Foto: iStock / Jairo Bouer

Um novo antibiótico, o primeiro a ser desenvolvido em décadas, pode curar infecções por gonorreia de forma comparável ao tratamento atual. A notícia é animadora, uma vez que os casos de doença resistente a todos os medicamentos disponíveis estão cada vez mais comuns.

A droga, zoliflodacina, é administrada em dose única e ainda não foi aprovada para uso em nenhum país. No entanto, a droga foi desenvolvida de uma maneira que deve torná-la amplamente acessível, segundo reportagem do The New York Times.

Gonorreia é uma das ISTs mais comuns

Só em 2020, estima-se que mais de 82 milhões de novas infecções de gonorreia tenham sido registradas no mundo. A doença é causada pela Neisseria gonorrhoeae, que é transmitida por contato sexual para os genitais, reto e garganta.

Aproximadamente metade das pessoas infectadas não apresenta sintomas, mas em outras, a gonorreia pode levar a dores nas articulações ardência ao urinar. Se não tratada, a doença pode causar infertilidade e esterilidade, cegueira em bebês ou até mesmo a morte.

Ao longo dos anos, a bactéria encontrou uma maneira de driblar quase todos os antibióticos disponíveis. Tornou-se resistente à azitromicina e está cada vez mais resistente a outro antibiótico chamado ceftriaxona, que tornou-se a droga de uso padrão.

Um relatório divulgado há alguns anos mostra que o número de casos de gonorreia resistente a antibióticos no mundo aumentou mais de 400% entre 2013 e 2014, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos EUA.

Em alguns casos, os médicos tentam combinar uma injeção de ceftriaxona com azitromicina, mas algumas evidências sugerem que a gonorreia está evoluindo para contornar até mesmo esse tratamento.

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Antibióticos não geram lucro

As empresas farmacêuticas abandonaram, em grande parte, o desenvolvimento de antibióticos por não se tratar de um mercado lucrativo. Por isso, a zoliflodacina contou com um novo modelo: o Global Antibiotic Research & Development Partership (GARDP), uma organização sem fins lucrativos, é que conduziu seu desenvolvimento, com financiamento de vários países, em colaboração com a farmacêutica norte-americana Innoviva Specialty Therapeutics.

A organização patrocinou o ensaio clínico de fase 3 da droga. Em troca, detém a licença para vender o antibiótico em cerca de 160 países, enquanto a Innoviva mantém os direitos de marketing para países de alta renda.

O acordo garante que o antibiótico esteja disponível e acessível para pessoas em países de baixa e média renda.

Droga pode não curar todos os casos

O ensaio clínico incluiu 930 pessoas em cinco países, o maior até agora para um tratamento de gonorreia. Ele mostrou que a zoliflodacina foi tão eficaz no tratamento da gonorreia quanto a combinação de ceftriaxona e azitromicina.

O ensaio foi projetado para testar o quão bem a zoliflodacina funciona no trato urogenital. Com base em pesquisas anteriores, no entanto, é improvável que a droga seja tão eficaz na garganta e no reto. Mais estudos terão que ser feitos para se descobrir.

Como prevenir a resistência?

Quanto mais amplamente uma droga é usada, maiores são as chances de os patógenos encontrarem maneiras de se defender contra ela. Em estudos, a zoliflodacina parece ser eficaz contra uma ampla gama de cepas resistentes de gonorreia.

Mas isso não exclui a possibilidade de a bactéria evoluir para contornar a droga. O acordo da parceria minimiza essa chance: a organização sem fins lucrativos planeja gerenciar como a droga é distribuída e garantir que seja usada apenas para tratar a gonorreia.

A melhor forma de evitar a infecção e a transmissão da gonorreia é usar camisinha em todas as relações sexuais, inclusive no sexo oral, e fazer exames periódicos, já que nem sempre a doença provoca sintomas. 

Jairo Bouer
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