Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

O que é dislexia? Lewis Hamilton sofreu com distúrbio de aprendizagem na adolescência

Embora não tenha cura, é possível controlar o problema com acompanhamento médico especializado

11 nov 2022 - 14h42
Compartilhar
Exibir comentários

Transtorno específico de aprendizagem que atinge entre 5% e 17% da população mundial, conforme a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a dislexia não é uma doença, mas uma característica genética, ou seja, a pessoa já nasce com essa predisposição. Embora não tenha cura, é possível controlar o distúrbio com acompanhamento médico especializado. Desta forma, é importante ter atenção aos sinais para que o diagnóstico seja feito o quanto antes e a pessoa inicie o tratamento adequado.

"É importante lembrar que a condição não está ligada à inteligência. Trata-se de um distúrbio neurobiológico que afeta o processamento da linguagem. Conforme definição da Associação Internacional de Dislexia, é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurobiológica", explica Adriana Martins Weitzel, psicoterapeuta, master em programação neurolinguística e hipnose clínica.

Em entrevista exclusiva ao Estadão, na quinta-feira, 11, durante visita a uma escola pública da zona sul da capital paulista, o piloto de Fórmula 1 britânico Lewis Hamilton revelou os desafios e como a dislexia o fez entender o valor da escola.

"Lutei muito na escola quando era mais novo, em parte porque sou disléxico - algo que só descobri aos 17 anos de idade. Apesar de ter trabalhado muito, tive dificuldade em acompanhar o resto dos meus colegas de turma e não sentia que recebia o apoio que precisava dos professores. É uma das razões pelas quais sou grande apoiador em garantir que as crianças de todo o mundo, do Reino Unido ao Brasil, não só tenham acesso à educação, mas também sejam apoiadas enquanto estão na escola", disse o piloto.

Piloto Lewis Hamilton em visita a uma escola pública da zona sul da capital paulista.
Piloto Lewis Hamilton em visita a uma escola pública da zona sul da capital paulista.
Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

O que é dislexia?

A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que envolve dificuldades para ler, soletrar, escrever e falar devido à falta de habilidade para identificar sons de fala e aprender como eles se relacionam com letras e palavras, na chamada decodificação. Outra dificuldade bastante comum é com os números.

Segundo o Ministério da Saúde, as pessoas com dislexia apresentam um funcionamento peculiar do cérebro para os processamentos linguísticos relacionados à leitura. "O disléxico tem dificuldade para associar o símbolo gráfico, as letras, com o som que elas representam, e organizá-los, mentalmente, numa sequência temporal", acrescenta a pasta.

Os tipos mais comuns de dislexia são:

Dislexia visual: dificuldade em diferenciar os lados direito e esquerdo e erros na leitura devido à má visualização das palavras.

Dislexia auditiva: ocorre em razão da carência de percepção dos sons, o que também acarreta dificuldades na fala.

Dislexia mista: é a união de dois ou mais tipos de dislexia. Com isso, o portador poderá ter, por exemplo, dificuldades visuais e auditivas simultaneamente.

Quais as causas?

Segundo estudiosos suas causas podem ser genéticas e ambientais.

Alterações cerebrais: mau funcionamento, atraso no amadurecimento do sistema nervoso central ou falha na comunicação entre os neurônios, o que dificulta as funções de coordenação.

Quais são os sinais de dislexia?

"Lentidão na aprendizagem, dificuldade de concentração, palavras escritas de forma estranha, dificuldade para soletrar e troca de letras com sons ou grafias parecidas são alguns sinais de dislexia", acrescenta a psicoterapeuta Adriana Martins Weitzel.

"A pessoa com dislexia pode ter uma vida completamente normal. Ela tem essa dificuldade basicamente com a linguagem (escrita e leitura). É uma pessoa que pode ter grandes habilidades em diversos setores", acrescenta Ana Paula Peña Dias, neurologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Nas crianças, sinais que ajudam a identificar a dislexia na pré-escola e na idade escolar são:

- Atraso na fala

- Aprendizado lento de novas palavras

- Inversão de sons em palavras ou confusão em palavras que soam iguais ("faca" e "vaca", por exemplo)

- Problemas para lembrar ou nomear letras, números e cores

- Dificuldade em aprender canções, rimas infantis ou jogar jogos de rima

- Dificuldade com quebra-cabeças

- Fraco desenvolvimento da coordenação motora

- Falta de interesse por livros impressos

- Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos e pinturas) e/ou grossa (ginástica e dança)

- Dificuldade em copiar textos de livros e da lousa

Em adolescentes e adultos, as dificuldades são:

- Ler em voz alta

- Na escrita e na ortografia

- Resumir uma história

- Desatenção e dispersão

- Solucionar problemas matemáticos

- Aprender uma língua estrangeira

- Falar em público

De acordo com a neurologista Ana Paula Peña Dias, os sintomas aparecem geralmente quando a criança começa a ir para a escola, no período de alfabetização e, em alguns casos, a pessoa só começa a manifestar mesmo dificuldades na adolescência ou até na fase adulta.

"É uma criança que sempre foi razoavelmente na escola, nunca teve um desempenho incrível e também, de repente, nunca teve um olhar cuidadoso da escola ou da família para perceberem os sinais dislexia", avalia a especialista.

Assim como os pais, as escolas precisam ter atenção aos sinais que indicam casos de dislexia.
Assim como os pais, as escolas precisam ter atenção aos sinais que indicam casos de dislexia.
Foto: Diego Herculano/Estadão / Estadão

Como é feito o diagnóstico?

Segundo a neurologista Adriana, um atraso na fala, por exemplo, pode ser um sinal para que os pais e professores prestem atenção ao desenvolvimento da linguagem das crianças. Vale a pena também ter atenção ao rendimento escolar ou sintomas isolados, que podem ser percebidos na escola ou mesmo em casa.

O diagnóstico de dislexia é sempre feito por uma equipe multidisciplinar, que envolve: neurologia, neuropsicologia, fonoaudiologia e psicopedagogia.

Fernanda de Morais, especialista em fonoaudiologia, concorda que o trabalho multidisciplinar é essencial no diagnóstico e tratamento da dislexia. "Uma avaliação correta pode ajudar e muito na condução deste processo. O fonoaudiólogo, por exemplo, assume um papel bastante importante atuando exatamente com essas dificuldades em associar os sons, pronunciá-los e na linguagem como um todo. Quanto antes o diagnóstico, muito melhor o tratamento", acrescenta.

E os tratamentos para dislexia?

Com o diagnóstico de dislexia, os profissionais devem acompanhar o paciente, conhecer as causas das dificuldades, o potencial e as suas individualidades para uma linha de tratamento que seja mais conveniente para cada caso.

Ainda conforme o Ministério da Saúde, mediante seus esforços, as pessoas com dislexia aprendem a conviver com suas dificuldades, e se tiverem feito um tratamento adequado, terão desenvolvido estratégias que compensarão todas as dificuldades.

Por que alguns casos, como de Lewis Hamilton, são descobertos mais tarde?

"Pessoas com dislexia, geralmente, têm visão normal e são tão inteligentes quanto os outros, tanto que temos grandes nomes como Lewis Hamilton, sete vezes campeão de Fórmula 1 e inspiração para tantas pessoas", afirma Fernanda. "Ele revelou que sempre lutou arduamente com a matemática, tendo muita dificuldade com os números e que, quando estava em aula de arte, a história era outra. Isso o ajudou a moldar a sua carreira e só descobriu aos 17 anos que era disléxico, algo bastante comum. Há pessoas que só descobrem na vida adulta."

Para a especialista em fonoaudiologia, no entanto, diagnosticar o problema ainda na infância ajuda o paciente a ter melhores resultados.

Ana Paula, membro titular da ABN, acrescenta que muitos adultos não foram diagnosticados na infância porque não tinham os recursos ou um olhar atento da escola ou da família. "Não significa que não tinham casos, mas sim não havia tantos diagnósticos como hoje", pondera ela.

"Muito pela desinformação que as pessoas tinham sobre a dislexia, que dificultava a percepção desta característica, sendo difícil, entre as décadas de 80 e 90, as pessoas conseguirem entender que uma dificuldade no aprendizado poderia ser dislexia", completa a psicoterapeuta Adriana.

Ainda segundo ela, nos últimos anos, houve um aumento na conscientização sobre o diagnóstico de dislexia em crianças em idade pré-escolar.

O que pode piorar a dislexia?

"O que piora a dislexia sem dúvida nenhuma são situações de estresse. Situações em que a pessoa está em alerta, de repente, ela está pressionada por alguma razão. Essa dificuldade que ela já tinha de fala, de compreensão e de escrita, sem dúvida, pode piorar", afirma a neurologista Ana Paula.

Para a psicoterapeuta Adriana, pelas diversas questões emocionais e psicológicas atreladas ao transtorno, quando existe um aumento na demanda, a dislexia compromete algumas habilidades. "Isso pode levar a pessoa ao desânimo, perda de interesse e a falta de prazer de ir à escola, aumentando o sentimento de frustração e de inferioridade", acrescenta ela.

A dislexia é passada de pais para filhos?

Embora não haja cura, tendo o suporte especializado, as pessoas com dislexia podem ter filhos e uma vida normal. "Pais ou mães que têm dislexia não necessariamente terão filhos com essa característica. Na dislexia genética existe uma disfunção no cromossomo 6, fazendo com que a criança já nasça com a dislexia, mas não significa que, por ela ser genética, seja hereditária", explica a psicoterapeuta.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade